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Invasão da Ucrânia: a mãe russa que procura pelo filho feito prisioneiro de guerra

Rafik Rachmankulov teria sido capturado pelas forças ucranianas

BBC
Timur Sazonov - Da BBC Rússia
postado em 01/03/2022 07:40 / atualizado em 01/03/2022 08:56

Na quinta-feira (24/02), primeiro dia da invasão da Ucrânia, uma foto de dois homens em uniformes do exército russo e descritos como prisioneiros de guerra foi publicada na página do Facebook do comandante das Forças Armadas da Ucrânia, Valeriy Zaluzny.

Foi só então que Natalya Deineka diz que percebeu que seu filho, Rafik Rakhmankulov, estava participando de uma guerra.

Em entrevista à BBC Rússia (serviço de notícias da BBC em russo), a atriz de 40 anos disse que foi sua irmã quem lhe contou sobre a foto.

Natalia ainda não recebeu confirmação sobre o paradeiro de Rafik.

"Eu entrei em contato com um oficial de sua unidade militar e contei a ele o que havia acontecido", disse Natalya.

"Ele disse que a contra-inteligência verificaria se Rafik foi preso ou não, mas ainda não houve confirmação."

A autoridade militar não negou que o jovem de 19 anos, que se alistou no exército há menos de um ano, tenha sido enviado para o front ucraniano.

'Ele não sabia que seriam levados para lá'

Natalia afirma que seu filho, que é engenheiro de combate da 4ª Divisão de Tanques da Guarda (Kantemirovskaya), não sabia que seria enviado como parte da invasão à Ucrânia.

Natalia Deineka
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Natalia Deineka diz que só descobriu nas redes sociais que seu filho estava participando da invasão da Ucrânia

"Ele não sabia que eles seriam levados para lá."

A última vez que Natalia falou com Rafik foi em 23 de fevereiro, quando ele a informou que sua divisão estava perto da fronteira ucraniana.

"Perguntei por que ele não disse que estavam sendo enviados para lá e ele respondeu: 'Para você não ficar preocupada'. Ele também me disse que estava tudo tranquilo."

Quando as fotos dos prisioneiros começaram a circular, o canal de TV russo Russia-24 disse que se tratava de "notícia falsa".

Renda estável

Natalia diz que entrou em contato com várias organizações, incluindo o Comitê de Mães de Soldados, uma ONG russa.

"Eles pegaram os meus dados, mas até agora não há informações", diz ela. "Eu não sei o que fazer. A mídia está em silêncio sobre o fato de que nossos rapazes foram capturados. Ou a imprensa não sabe."

Natalia diz que Rafik entrou para o exército russo em junho de 2021 como recruta, o que segundo a legislação o impede de ser usado em operações de combate.

Mas a BBC foi informada pela namorada de Rafik, Liliya, que ele virou soldado contratado em dezembro. Seu objetivo era "sustentar sua futura família" — apesar dos esforços da namorada para dissuadi-lo da ideia.

Rafik Rakhmankulov quando criança
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Rafik via no exército uma chance de garantir sua estabilidade financeira, diz sua mãe

A mãe de Rafik diz que seu filho estudava em uma escola técnica agrícola, mas que largou os estudos para se alistar. Rafik via no exército uma possibilidade de garantir sua estabilidade financeira.

"Os militares recebem moradia, você pode receber um salário normal lá. Não há emprego no país agora", diz Natalia.

"Meu filho não estava muito interessado na carreira militar. Era mais como uma oportunidade de começar sua vida, de ter algum tipo de renda estável."

Rafik é um dos três filhos de Natalia — seu atual parceiro também tem três filhos.

'Meu filho não foi lá por vontade própria'

Quando perguntada sobre o que ela sente em relação à invasão russa da Ucrânia, Natalia diz que não acompanha política e nem assiste ao noticiário.

"Para ser sincera, eu não entendo para que serve tudo isso", diz ela. "Em nosso país, algumas pessoas não têm o que comer. Não entendo nenhuma guerra ou nenhuma ação militar."

Ela ficou angustiada ao ler comentários nas redes sociais sobre o envio de seu filho para a zona de conflito, especialmente comentários ucranianos com ameaças a Rafik e a outros soldados russos que vierem se tornar prisioneiros na Ucrânia.

"Meu filho não foi para lá por vontade própria. O comandante que o mandou para lá", diz ela.

"Para quê? Eu não consigo responder isso. Nós — nem eu nem meu filho — não precisávamos disso. Na porta de quem eu preciso bater para ter meu filho de volta?"


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