Imprensa

Rússia ataca mídia independente em plena guerra

Um projeto de lei prevê penas de até 15 anos de prisão para qualquer publicação de "fake news" sobre as forças armadas russas, cujo texto será examinado na sexta-feira pela Duma (câmara baixa do Parlamento) no âmbito de um " sessão extraordinária"

Agence France-Presse
postado em 02/03/2022 15:22
 (crédito: TAUSEEF MUSTAFA / AFP)
(crédito: TAUSEEF MUSTAFA / AFP)

O fechamento de uma rádio histórica e de um canal de televisão online causou um grande choque aos últimos veículos de comunicação independentes na Rússia, que veem, juntamente com a invasão da Ucrânia, a abertura de um “segundo front” no qual eles são os alvos.

Acusados, entre outros, de divulgar "convocações para cometer atos extremistas e violentos", as autoridades ordenaram na terça-feira à rádio Ekho Moskvy (Eco de Moscou) e ao canal Dojd que parem de transmitir.

O motivo? Terem se recusado a manter o discurso oficial sobre a guerra na Ucrânia, que evoca uma "operação militar" destinada a proteger a Rússia da ameaça ocidental e os falantes de russo naquele país do genocídio.

Simultaneamente, o governo se prepara para reforçar seu arsenal repressivo.

Um projeto de lei prevê penas de até 15 anos de prisão para qualquer publicação de "fake news" sobre as forças armadas russas, cujo texto será examinado na sexta-feira pela Duma (câmara baixa do Parlamento) no âmbito de um " sessão extraordinária", disse o parlamentar Serguei Boiarski à agência de notícias governamental TASS.

A Procuradoria-Geral da República lembrou no sábado que "fornecer assistência financeira, logística, assessoria ou outra" a uma organização ou Estado estrangeiro para implantar "suas atividades contra a segurança da Rússia" é considerado "alta traição", punível com 20 anos de prisão.

Textos com frases muito vagas que permitirão que seu potencial de aplicação seja ainda mais amplo.

"Existem leis suficientes na Rússia para condenar um jornalista por qualquer motivo. E ferramentas suficientes para eliminar um veículo de comunicação", diz Galina Timchenko, diretora do Meduza, um site de notícias online.

E "a censura já está em vigor", acrescenta, depois que a mídia foi proibida no sábado de usar termos como "invasão", "ofensiva", "declaração de guerra" ou mencionar a morte de civis nas mãos do exército russo.

No entanto, nesta quarta-feira, Meduza recebe seus leitores com a palavra "guerra" escrita em letras grandes. "De qualquer forma (Roskomnadzor, o regulador do setor) nos desconectará em breve", confidencia um jornalista do site, sob condição de anonimato.

"Outras mídias também serão bloqueadas em breve", confirma Lev Ponomarev, um respeitado defensor dos direitos humanos que já foi preso por se manifestar contra a guerra, como milhares de outros russos durante pequenas manifestações em todo o país.

É um "subterfúgio", disse à AFP Jeanne Cavelier, responsável da Rússia na ONG Repórteres Sem Fronteiras (RDF).

Além do Eco de Moscou e Dojd, o Roskomnadzor bloqueou pelo menos seis outros veículos de comunicação russos desde o início da invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro, afirma Cavelier.

Nenhum veículo da mídia independente será poupado, nem mesmo a Novaia Gazeta, cujo editor-chefe Dmitri Muratov recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 2021, estima Cavelier.

"Serão bloqueados de um dia para o outro", assim como os jornais locais que se recusam a se curvar ao poder, acrescenta.

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