O Brasil foi um dos países que votaram a favor do documento que pede à Rússia a retirada de suas tropas imediatamente e condena a invasão à Ucrânia. Em um discurso breve, que reuniu um pedido pelo fim da guerra e uma crítica sutil ao excesso de sanções impostas à Rússia, o embaixador do Brasil na ONU, Ronaldo Costa Filho, disse que a resolução não vai longe o suficiente.
O diplomata ressaltou que para chegar ao fim das hostilidades, aquela decisão era só um primeiro passo, mas que ações adicionais são necessárias. "A paz exige mais do que o silêncio das armas e a retirada das tropas. O caminho para a paz requer um trabalho abrangente sobre as preocupações de segurança das partes. A resolução não pode ser entendida como algo que permita a aplicação indiscriminada de sanções", afirmou.
O embaixador explicou que a resolução não pode ser vista como permissiva em relação à aplicação indiscriminada de sanções e do envio de armas. "Essas iniciativas não são condizentes com a retomada do diálogo diplomático construtivo. Geram risco de maior escalada das tensões, com consequências imprevisíveis", acrescentou.
Além de condenar a invasão, o documento reafirma que nenhuma aquisição de território por ameaça ou uso da força deve ser reconhecida como legal, além de expressar preocupação com os relatos de ataques contra civis. "O Brasil continua a pedir a todos os atores a desescalada e renovação dos esforços em favor de um acordo diplomático", reforçou o representante brasileiro.
Análise
Cientistas políticos ouvidos pelo Correio avaliaram positivamente o discurso de Ronaldo Costa Filho, considerado pacifista e alinhado com princípios historicamente defendidos pelo Brasil. Os especialistas não enxergaram ameaça na declaração, ao contrário, definiram como objetiva as palavras do representante.
Jean Lima, doutor em relações internacionais pela Universidade de Brasília (UnB), pontuou que o discurso "deixa margem" para a continuidade das relações do Brasil com os envolvidos no conflito. "Ele [o representante brasileiro] pede uma desescalada. Não há nenhum tom de ameaça. O curioso foi que nesse discurso o Brasil conseguiu se posicionar de forma a manter boas relações com todos os atores envolvidos, ainda que condene o ataque da Rússia. Foi a favor da ONU e fez uma crítica sutil às sanções econômicas ineficientes para conter a guerra", associou.
Outro ponto de atenção é a contínua dissociação entre o discurso do representante na ONU e a falta de posicionamento do presidente da república, Jair Bolsonaro. "Neutralidade não significa falta de opinião. A pessoa do presidente e sua manifestação é muito importante e significativa. Mesmo com o embaixador na ONU fazendo um discurso bem claro, o presidente não se manifestar com a mesma clareza traz um acúmulo de críticas", observou o ex-secretário de governo de Bolsonaro, general Santos Cruz. (TM e TA)
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