Solidariedade brasileira em meio ao conflito

Correio Braziliense
postado em 03/03/2022 00:01
 (crédito:  AFP)
(crédito: AFP)

Às 4h da manhã, do dia 24 de fevereiro, Rafael da Silva, 47 anos, sentiu o desespero de ouvir um som inimaginável no século 21. As sirenes de aviso de ataques antiaéreos dispararam, um indicativo de que a promessa russa de invadir a Ucrânia havia se concretizado. O primeiro dia de guerra serviu para Rafael estocar comida, água e suprimentos no apartamento, em Lviv, fronteira com a Polônia.

O antigo lar, deixado para trás pelo brasileiro, hoje, tem recebido pessoas fugitivas das cidades bombardeadas que buscam atravessar para o país vizinho. "Quem sai das regiões que estão com mais problemas buscam essa cidade onde eu tinha apartamento. Tenho uma pessoa lá que está recebendo gente. Já chegaram 12 pessoas, e agora deve aparecer mais", explicou.

Rafael saiu de ônibus para Cracóvia (Polônia), no segundo dia de guerra. Porém, a viagem teve diversos contratempos. "Foi difícil conseguir a passagem, estava muito mais cara que o normal. Atrasou e demoramos quase 20h para chegar ao destino", detalhou.

Sem conseguirem ficar inertes diante o conflito, a gerente de recursos humanos Ligia Lapa, 31 anos, e a advogada Clara Magalhães Martins, também de 31, construíram o Frente BrazUcra. O grupo de voluntários tem o objetivo de auxiliar no resgate de brasileiros que estão na Ucrânia. Até o momento, cerca de 20 pessoas foram resgatadas, sendo 18 cidadãos brasileiros.

"Estávamos dispostos, aqui na Europa, a disponibilizar esse suporte para quem precisasse, na Ucrânia. Criamos um grupo no Telegram. A Clara e o Rodolfo resolveram alugar um carro e ir para a Ucrânia. A partir disso, a gente começou a se organizar para poder prestar esse suporte para eles e fazer o monitoramento das áreas de risco", contou Lígia, que mora na Bélgica e auxilia Clara, que deixou a Alemanha para dar apoio aos brasileiros.

Outro voluntário que está em solo ucraniano é Rodolfo Caires, cientista, de 32 anos, residente de Dublin (Irlanda). "Tive a ideia meio que de súbito, quando vi as imagens do conflito na sexta-feira de manhã. Pensei: eu tenho que ir o mais rápido possível. O pessoal está precisando de ajuda e não está tendo informações", conta o brasileiro, que há pouco mais de três semanas esteve na Ucrânia como turista.

Rodolfo relata que o medo toma conta das estações de metrô, que servem como bunkers (abrigos) para os cidadãos. "As pessoas estão muito assustadas, porque quando você chega na estação de trem, em Lviv, é um pandemônio, é tudo caótico. Não há informação, está lotado de gente, as filas estão enormes, o caixa eletrônico não tem mais dinheiro", contou.

Mesmo com intenção nobre, a iniciativa tem sofrido tentativas de fraudes. Há dois dias, seguidores começaram a avisar Lígia sobre perfis falsos que estariam desviando as doações. Após as denúncias, o perfil oficial da ONG compartilhou uma publicação sobre as fraudes. O grupo tem um único perfil no Instagram, o @frentre_brazucra. Segundo Lígia, a iniciativa não pede Pix, a doação é exclusivamente recebida por plataformas de vaquinhas públicas, transparentes e auditadas.

Mudanças

O Itamaraty anunciou, ontem, o redirecionamento das operações da embaixada em Kiev para dois postos: em Lviv, de onde os brasileiros saem para Polônia, e em Chisinau, na Moldávia, por onde saem em direção à Romênia. Também foi anunciado que o governo brasileiro enviará quantias para alugar transporte, providenciar alojamento, alimentação e qualquer outra despesa humanitária que os brasileiros evacuados venham a precisar.

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