Apesar de sanções inéditas e do apoio substancial à Ucrânia, o Ocidente não conseguiu interromper a invasão russa e, inclusive, prevê que esta ainda vai piorar. Suas opções para aumentar a pressão sobre Vladimir Putin são complexas.
Mais sanções?
Os países do G7 prometeram na sexta-feira (4) impor "novas e duras sanções" à Rússia, e o secretário de Estado americano, Antony Blinken, se comprometeu a "manter a pressão" até que "a guerra termine". Contudo, a margem de manobra é pequena. Os americanos tinham prometido, antes da invasão, que imporiam as sanções mais duras e cumpriram com sua palavra.
Junto de seus aliados europeus, decretaram sanções sem precedentes contra o sistema financeiro russo e contra os oligarcas próximos do Kremlin, proibiram a importação de tecnologia crucial e impuseram um bloqueio aéreo. Além disso, diversas entidades esportivas excluíram os atletas e equipes russas das principais competições e dezenas de empresas deixaram o país.
"Sou dos que acreditavam que a ameaça dessas sanções "seria suficiente para dissuadir o presidente Putin de realizar a ofensiva, mas não foi assim", disse à AFP o ex-embaixador dos Estados Unidos em Kiev William Taylor. "Não estou seguro de que mais sanções possam convencê-lo a sair", acrescentou.
Até agora, o setor energético tem sido relativamente poupado das sanções. Contudo, muitos legisladores americanos querem que Joe Biden proíba a importação de petróleo russo. Alguns falcões de Washington também pedem que o sistema financeiro russo seja completamente isolado do resto do mundo.
Antony Blinken, no entanto, advertiu que é preciso evitar as soluções que prejudicariam o fornecimento global de energia e fariam os preços dos combustíveis disparar nos Estados Unidos e na Europa. Isso vai contra os "interesses estratégicos" do Ocidente, afirmou.
Zona de exclusão aérea?
Para limitar os ataques russos a Kiev e outras cidades, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky implora à Otan que estabeleça uma zona de exclusão aérea sobre o país.
Mas, por ora, esta é uma linha vermelha para a aliança militar, da qual a Ucrânia não faz parte.
"A única forma de estabelecer uma zona de exclusão aérea é enviar aviões caças-bombardeiros da Otan para o espaço aéreo da Ucrânia, e depois derrubar aviões russos para torná-la efetiva", explicou o secretário-geral Jens Stoltenberg. E isso seria a garantia de uma "guerra total na Europa", comentou.
Como existe o temor de um confronto nuclear, muitos especialistas acreditam que americanos e europeus não deverão mudar de ideia enquanto o conflito se limitar à Ucrânia, ou ao menos aos países não pertencentes à Otan.
Derrubar Putin?
Alguns defendem ações mais radicais, como o senador americano Lindsey Graham, que pediu que "alguém na Rússia" mate Putin.
"Não defendemos o assassinato do líder de um país estrangeiro ou uma mudança de regime. Essa não é a política dos Estados Unidos", afirmou na sexta-feira a Casa Branca.
Alguns observadores, no entanto, acreditam que, ao asfixiar a economia russa e, sobretudo, os ativos dos oligarcas, as sanções podem fazer com que alguns membros do entorno de Vladimir Putin se voltem contra ele.
"A probabilidade de um golpe palaciano ou de uma revolta oligárquica é significativa", opina Jean-Baptiste Jeangène Vilmer, diretor do Instituto de Pesquisa Estratégica da Escola Militar (Irsem) na França, em um artigo publicado pela revista Le Grand Continent e no site War on the Rocks.
Outros duvidam dessa hipótese, como Samuel Charap, do think tank Rand Corporation.
"As pessoas que podem influenciar o curso das coisas são extremamente leais e estão ali por sua lealdade", declarou à AFP.
E a diplomacia?
Segundo Charap, Joe Biden deveria seguir, como o presidente francês Emmanuel Macron e o chanceler alemão Olaf Scholz, tentando convencer Putin a voltar atrás, com base na "relação de forças" criada com as sanções.
"Talvez seja impossível, mas acredito que é o melhor que podemos fazer agora", frisou.
Por outro lado, alguns apostam no papel de outro adversário dos Estados Unidos e dos europeus: a China.
Segundo um diplomata ocidental, "Pequim está cada vez mais incomodada com a situação" e não saiu em auxílio da economia russa para minimizar os efeitos das sanções. Por isso, a China pode desempenhar um papel muito mais eficaz, nos bastidores, do que o Ocidente, afirmou.
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