Ofensiva em um novo patamar

Invasão russa entra na quarta semana com o aumento da pressão sobre cidades ucranianas estratégicas e o uso repetido de mísseis de longo alcance. Kiev denuncia ataque a escola de artes que servia de refúgio para cerca de 400 civis

Correio Braziliense
postado em 21/03/2022 00:01

Enquanto o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, se diz aberto ao diálogo para pôr fim à guerra com a Rússia, um conflito prestes a completar um mês, Moscou dá demonstrações claras de que não há intenção de recuar. Ao contrário: a semana começa com sinais de que a ofensiva chega a um patamar ainda mais destrutivo. Ao longo do fim de semana, cidades ucranianas estratégicas foram ainda mais pressionadas por tropas russas — com um ultimato de rendição para Mariupol — e o Kremlin parece ter consolidado o uso de mísseis hipersônicos no confronto.

Ao sudeste da Ucrânia, Mariupol tem o principal porto marítimo do país, além de ligar a península de Crimeia, que foi anexada pelos russos em 2014, à região de Donbas, onde estão as duas repúblicas que tiveram a independência reconhecida por Putin no mês passado: Donetsk e Lugansk. A cidade tinha até hoje para se render às tropas russas. "Abaixe suas armas. Todos aqueles que o fizerem têm garantia de passagem segura para fora de Mariupol", exigiu o diretor do Centro Nacional Russo de Gerenciamento de Defesa, Mikhail Mizintsev, em um comunicado emitido ontem à noite. Em resposta, a vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, declarou que "não se pode falar de rendição de qualquer tipo".

A pressão russa se deu horas depois de Zelensky denunciar um bombardeio a uma escola de artes em Mariupol que servia de refúgio para 400 civis. "O prédio foi destruído, e as pessoas ainda estão sob os escombros. O número de mortos ainda está sendo levantado", informou o conselho da cidade. O presidente disse se tratar de mais um "crime de guerra". "Infligir algo assim em uma cidade pacífica... é um ato de terror", declarou.

Os ataques também seguiram na capital, Kiev, onde um projétil destruiu a parede externa de um prédio, ferindo ao menos cinco pessoas, segundo Vitali Klitschko, prefeito da região. De acordo com informações da Agência France-Presse (AFP) de notícias, o edifício de 10 andares está seriamente danificado, com todas as janelas destruídas. "Minha irmã estava na varanda quando aconteceu, ela quase morreu", contou Anna, 30 anos, que é moradora do prédio. As ofensivas também seguiram em Kharkiv, a segunda maior cidade do país, onde pelo menos 500 pessoas morreram desde o início da guerra, segundo dados do governo.

Hipersônicos

Há um temor de que os cenários de destruição e o número de vítimas aumente nos próximos dias, já que o Exército passou a usar o que considera um arsenal "invencível". As armas hipersônicas foram lançadas no fim de semana — primeiro em um depósito de armas, depois em uma reserva de combustível. "Um grande estoque de combustível foi destruído por mísseis de cruzeiro Kalibr disparados do Mar Cáspio e por mísseis balísticos hipersônicos lançados pelo sistema aeronáutico Kinjal do espaço aéreo da Crimeia", informou o Ministério da Defesa russo. O ataque também danificou severamente a siderúrgica Azovstal de Mariupol, cujo porto é crucial para a exportação do aço produzido no leste da Ucrânia.

Para os Estados Unidos, porém, o uso desses novos artefatos pode não ter grandes efeitos sobre o curso da guerra. "Não os vejo como revolucionários", declarou Lloyd Austin, secretário de Defesa americano, ao canal de televisão CBS. Segundo ele, ao usar essas armas, Moscou está "tentando recuperar o impulso em um conflito em que seu Exército está atolado". "Vimos (os russos) atacarem deliberadamente cidades e civis nas últimas semanas (...), isso porque a ofensiva está bloqueada", justificou. Austin também alertou a Rússia contra o uso de armas químicas ou biológicas no conflito. Se forem empregadas, observou ele, haverá "uma reação significativa não apenas dos Estados Unidos, mas também da comunidade internacional".

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags