Leste: o novo "inferno"

Primeiro líder europeu a visitar Moscou desde o início da ofensiva à Ucrânia, chanceler austríaco pede abertura de corredores humanitários na região que se tornou o principal alvo das tropas russas. Especialistas temem mais ataques sangrentos a civis

Correio Braziliense
postado em 12/04/2022 00:01
 (crédito: AFP)
(crédito: AFP)

Depois de revisar os planos e retirar as tropas da região de Kiev e do norte da Ucrânia, Moscou visa, agora, a conquista total de Donbass, no leste, onde ficam as separatistas Donetsk e Lugansk. Os analistas acreditam que o presidente Vladimir Putin, que enfrenta uma intensa resistência ucraniana, deseja assegurar uma vitória nesta região antes do desfile militar de 9 de maio, na Praça Vermelha, que marca a vitória soviética sobre os nazistas. "O ataque acontecerá muito em breve", apontou, ontem, o porta-voz do ministério da Defesa ucraniano, Oleksandre Motuzianik. "A batalha por Donbass vai durar vários dias, e, durante esses dias, as cidades podem ficar totalmente destruídas", afirmou, no Facebook, Serguii Gaidai, governador de Lugansk, que voltou a pedir aos civis que abandonem a área.

Com a iminente ofensiva de Moscou no leste, o chanceler austríaco, Karl Nehammer, reuniu-se com o presidente russo para discutir a criação de corredores humanitários na região. Desde o início da invasão do país vizinho orquestrada por Vladimir Putin, esta é a primeira visita de um líder europeu ao Kremlin. De acordo com o ministro das Relações Exteriores da Áustria, Alexander Schallenberg, trata-se de uma tentativa de "acabar com o inferno humanitário na Ucrânia".

As primeiras semanas da guerra já mostraram que os combates poderiam ser orientados para alvos urbanos, onde as ofensivas se transformam em insurreições, o que implica que ambos os lados sofrerão perdas consideráveis, dizem os analistas. Os russos "terão que entrar nas cidades do Donbass e isso vai custar-lhes caro", disse à agência France Presse (AFP) uma fonte militar ocidental, que estima que cerca de 60 mil soldados de Moscou deixaram a frente norte para serem destacados no leste, onde há cerca de 40 mil combatentes ucranianos treinados e equipados. "Não sabemos qual é a capacidade dos ucranianos de resistir ao longo do tempo", estimou o oficial militar.

De acordo com um funcionário do Departamento de Defesa dos EUA, as forças russas posicionaram uma coluna de tanques ao norte de Izium, composta por comandos militares e de controle, além de um batalhão de apoio à manutenção de helicópteros e um de infantaria. "Mas não consideramos que a nova ofensiva tenha começado", acrescentou a fonte, não identificada, à AFP. O general Alexander Dvornikov, apelidado de "o açougueiro da Síria", teria sido escolhido para liderar essa ofensiva. Mas, "devido a seus grandes problemas de logística e abastecimento, suas dificuldades de manobra, seus problemas de coordenação, estado de ânimo, organização hierárquica, não é certo que possa ser muito eficaz", estimou o funcionário.

Mariupol

Os russos têm posições que não se limitam à área do Donbass. Além do cerco ao porto estratégico de Mariupol, no sul, parecem estar interessados em toda a região de Dniepro. Essa cidade, rica em indústrias, é a quarta mais importante do país e "constitui um objetivo político e militar" para ambos os lados, estima o general norte-americano Mick Ryan, para quem Moscou vai tentar "deixar as forças ucranianas no Donbass tentando cercá-las, avançando em Dniepro. Ambas serão batalhas sangrentas", alertou.

Cercada há mais de 40 dias, Mariupol pode cair a qualquer momento, reconheceram ontem as forças ucranianas. "Hoje (ontem) será provavelmente a última batalha, pois a munição está acabando", escreveu, no Facebook, o perfil da 36ª brigada da Marinha. "É a morte para alguns de nós e cativeiro para os demais (...) Não sabemos o que acontecerá, mas pedimos que se lembrem de nós com uma palavra gentil", destacou a brigada.

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