A Igreja Católica portuguesa está disposta a "reconhecer os erros do passado" e "pedir perdão" às vítimas de violência sexual, disse o cardeal-patriarca de Lisboa, dois dias depois de um relatório de uma comissão independente com quase 300 depoimentos de supostas vítimas. "Aqui estamos nós, plenamente conscientes e comprometidos, prontos para reconhecer e corrigir os erros do passado", afirmou Manuel Clemente, prelado máximo da igreja portuguesa, durante a missa crismal pré-pascal.
O clero está "especialmente atento" à questão da proteção do "menor dentro da Igreja", "pedir perdão" pelos erros do passado e "prevenir adequadamente no futuro", declarou, durante sua homilia na catedral de Lisboa.
Sua mensagem vem dois dias depois que uma comissão independente que investiga agressões sexuais na igreja ter coletado quase 300 testemunhos de supostas vítimas em três meses, 16 dos quais foram entregues às autoridades judiciais. A maioria dos depoimentos parece incriminar pessoas diretamente ligadas à Igreja que, em alguns casos, foram protegidas por autoridades eclesiásticas, afirmou o psiquiatra infantil e chefe da comissão independente, Pedro Stretch.
"Suspeito que pelo menos mil casos de abuso terão sido descobertos ao fim do inquérito. Em média, a comissão que apura o escândalo tem recebido três denúncias por dia. O número é impressionante", admitiu ao Correio Mike McDonnell, gerente de comunicação da Rede de Sobreviventes de Abusos Praticados por Padres (Snap), organização baseada nos Estados Unidos. "Abusos por parte de padres não são uma coisa do passado, mas do presente. Mais importante, são uma coisa do futuro. As pessoas abusadas hoje provavelmente somente darão um passo adiante e farão a denúncia depois de duas décadas ou mais."