Oriente Médio

Novos choques em Jerusalém

Distúrbios na Esplanada das Mesquitas deixam 19 palestinos e sete israelenses feridos. Policiais de Israel afirmam que tentaram expulsar manifestantes árabes. Primeiro-ministro Naftali Bennett anuncia carta branca às forças de segurança do Estado judeu

Correio Braziliense
postado em 18/04/2022 00:01
 (crédito: Ahmad Gharabli/AFP)
(crédito: Ahmad Gharabli/AFP)

Mais de 20 pessoas ficaram feridas, ontem, durante confrontos entre palestinos e israelenses dentro e ao redor da Esplanada das Mesquitas. O local abriga a Mesquita de Al-Aqsa, o terceiro templo mais sagrado do islã. A Esplanada das Mesquitas — também conhecida como o Monte do Templo pelos judeus — está localizada na Cidade Velha de Jerusalém Oriental, uma área palestina ocupada por Israel desde 1967. Ontem, "centenas" de manifestantes palestinos começaram a recolher pedras na esplanada antes da chegada dos judeus ao local, também sagrado para o judaísmo. Na sexta-feira, mais de 150 pessoas ficaram feridas em confrontos também na Esplanada das Mesquitas. 

As forças de segurança israelenses entraram, ontem, no ambiente para "expulsar" os manifestantes e "restaurar a ordem", disse a polícia. Testemunhas e socorristas indicam que uma dúzia de palestinos ficaram feridos nesses distúrbios. O Crescente Vermelho palestino informou 19 feridos, cinco deles levados a hospitais locais, e afirmou que alguns foram atingidos por balas de borracha.

Desde a captura e posterior anexação de Jerusalém Oriental por Israel em 1967, não reconhecida pela comunidade internacional, os judeus podem entrar na Esplanada em determinados momentos, mas não rezar nela. A oração é normalmente realizada no Muro das Lamentações, embora os judeus religiosos rezem secretamente na Esplanada durante anos.

Os confrontos coincidiram com a celebração cristã da Páscoa; com as orações para a Pessach, a Páscoa judaica; e  com o mês muçulmano do Ramadã na Cidade Velha de Jerusalém, um centro às vezes conflituoso onde as três religiões monoteístas coincidem. Em outro incidente, também na Cidade Velha, palestinos atiraram pedras em ônibus que transportavam civis israelenses, entre eles menores de idade. O Hospital Shaare Zedek de Jerusalém informou sete feridos leves pelo lançamento de pedras, enquanto que a polícia de Israel informou 18 detenções.

"Al-Aqsa (nome em árabe à Esplanada das Mesquitas) é nossa, apenas nossa, e os judeus não têm absolutamente nenhum direito sobre este lugar", declarou Ismail Haniyeh, chefe do ramo político do Hamas, movimento islamita armado palestino que controla a Faixa de Gaza. Em um comunicado, o primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, reafirmou que "as forças de segurança têm carta branca para (...) garantir a segurança dos cidadãos israelenses".

Em entrevista ao Correio, Richard Falk — professor de relações internacionais da Universidade de Princeton e ex-relator especial da ONU para a Palestina Ocupada (2008-2014) — afirmou que Israel tem agido com maior uso da força, buscando desencorajar uma revolta organizada árabe. "A Mesquita de Al-Aqsa é um local simbólico da identidade palestina, especialmente durante o mês de Ramadã, e Israel pode ter percebido o perigo de uma terceira intifada", lembrou. 

Falk acredita que os muçulmanos são sensíveis às invasões israelenses em seus locais religiosos. "Elas podem ser parte de um movimento em direção a uma solução israelense para o conflito baseada em um Estado, declarando toda a Palestina histórica como um Estado judaico."

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