Mira para o Ocidente

Após conquistar uma estratégica cidade ucraniana, Rússia anuncia reforço na ofensiva diplomática. Entre as medidas, está o corte no fornecimento de gás à Finlândia, que busca ser integrada à Otan

Correio Braziliense
postado em 22/05/2022 00:01
 (crédito:  AFP)
(crédito: AFP)

Um dia depois de assumir o controle da estratégica cidade de Mariupol, no sudeste ucraniano, Moscou intensificou as investidas contra países do Ocidente. Em menos de 24 horas, cortou o fornecimento de gás natural para a Finlândia, divulgou uma lista com o nome de 963 personalidades americanas proibidas de entrarem em solo russo e anunciou a destruição de um grande carregamento de armas ocidentais no noroeste da Ucrânia.

Em nota sobre a lista dos impedidos de desembarcar na Rússia, o Ministério das Relações Exteriores argumentou que "as contrassanções são necessárias e têm por objeto obrigar o poder americano, que tenta impor uma ordem mundial neocolonial para o resto do planeta, a mudar sua posição e a reconhecer novas realidades geopolíticas".

Moscou já havia anunciado a retaliação contra muitos dos incluídos na lista, como o presidente Joe Biden, seu secretário de Estado, Antony Blinken, e o chefe do Pentágono, Lloyd Austin. A maioria dos nomes é de funcionários do governo e congressistas, mas há escolhas curiosas, como a do ator Morgan Freeman. Ele é acusado pela diplomacia russa de ter gravado, em 2017, um vídeo no qual afirmava que o país estava realizando um "complô" contra os EUA.

Também ontem, a Casa Branca anunciou que foi sancionada uma lei que destina US$ 40 bilhões para garantir o fornecimento de armas e apoio humanitário e financeiro à Ucrânia. A ajuda, que será canalizada nos próximos cinco meses, inclui, por exemplo, um orçamento de US$ 6 bilhões para Kiev se equipar com veículos blindados e defesa antiaérea. Biden assinou o texto, aprovado pelo Congresso, durante sua visita à Coreia do Sul, onde também se dedicou a questões militares.

A ajuda dos Estados Unidos se soma à da União Europeia e à do G7, o grupo dos países mais industrializados do planeta, que, na última sexta-feira, prometeu US$ 19,8 bilhões para manter de pé as finanças ucranianas. Há, no entanto, o desafio de levar esse reforço para a linha de frente do combate, considerando que áreas estratégicas do país têm sido tomadas pelas forças russas.

Ontem, o Ministério russo da Defesa anunciou ter destruído um grande carregamento de armas ocidentais no noroeste da Ucrânia usando mísseis de longo alcance. Os artefatos estavam "perto da estação ferroviária de Malin, na região de Zhytomyr (...) e seriam destinados às forças ucranianas estacionadas no Donbass", informa a nota. A região é parcialmente controlada por separatistas pró-russos desde 2014 e, agora, palco de intensos combates.

Segundo especialistas, a conquista de Mariupol na sexta-feira foi crucial para a criação de um corredor terrestre entre Donbass e a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014. Em entrevista a um canal de televisão ucraniano, o presidente do país, Volodymyr Zelensky, assegurou que a guerra "será sangrenta, haverá combates, mas terminará, com certeza, por meio da diplomacia".

Suprimentos

Mantendo a escalada de tensão com a Europa, Moscou interrompeu ontem o fornecimento de gás para a Finlândia — o envio de suprimentos já havia sido suspenso para Polônia e Bulgária. O corte foi confirmado pela estatal do país nórdico Gasum, que informou, em nota, que o abastecimento passará a ser feito pelo gasoduto Balticconnector, que conecta Estônia e Finlândia.

O Kremlin tem advertido que tomará a medida caso os países não paguem pelo gás em rublos, o que, segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, viola regras da União Europeia. A terceira sanção foi anunciada dois dias depois de Finlândia e Suécia, dois países com histórico de não alinhamento militar, solicitarem a adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

O ingresso, porém, depende da aceitação unânime dos membros da aliança atlântica, e a Turquia se opõe ao pedido, justificando que os dois países são santuários do PKK, organização considerada terrorista por Ancara, pelos EUA e pela União Europeia. Ontem, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, conversou, pela primeira vez, sobre as candidaturas com a chefe de governo sueca, Magdalena Anderson, o presidente finlandês, Sauli Niinistö, e o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg.

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