ONU

China defende avanços do país em termos de direitos humanos

Investigações ocidentais acusam a China de reter um milhão de uigures e integrantes de outras minorias muçulmanas em centros de detenção desta região remota do oeste do país, onde são vítimas de "trabalhos forçados e esterilizações forçadas"

Agence France-Presse
postado em 25/05/2022 08:32
 (crédito: Handout / OHCHR / AFP)
(crédito: Handout / OHCHR / AFP)

O presidente da China, Xi Jinping, defendeu nesta quarta-feira (25) os avanços de seu país em termos de direitos humanos após novos vazamentos na imprensa sobre a repressão da minoria muçulmana uigur em Xinjiang, que coincidem com a visita à região da alta comissária da ONU, Michelle Bachelet.

Cenário de confrontos étnicos e de ataques islamitas e separatistas, Xinjiang, no noroeste da China, vive há vários anos uma campanha que as autoridades de Pequim justificam como uma operação antiterrorista.

Investigações ocidentais acusam a China de reter um milhão de uigures e integrantes de outras minorias muçulmanas em centros de detenção desta região remota do oeste do país, onde são vítimas de "trabalhos forçados e esterilizações forçadas".

Na terça-feira, um consórcio de 14 meios de comunicação internacionais, incluindo a britânica BBC, o francês Le Monde e o espanhol El País, publicou documentos e fotografias que jogam luz sobre a situação dos uigures, com mulheres, crianças e idosos internados em "campos de detenção".

Os milhares de documentos e fotografias apontam para uma repressão ordenada a partir da cúpula do poder, incluindo o presidente Xi Jinping, e foram entregues por uma fonte anônima ao investigador alemão Adrian Zenz, o primeiro que acusou em 2018 o governo chinês de internar os uigures.

Pequim rejeita as acusações, que define como "a mentira do século". A China afirma que os campos são centros de formação profissional para manter a população afastada do separatismo e do islamismo na região.

"Os temas relacionados com os direito humanos não devem ser politizados, instrumentalizados ou tratadas com padrões duplos", alertou Xi Jinping nesta quarta-feira, durante uma reunião virtual com Bachelet, a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

"Cada país tem uma situação diferente, que depende de sua história, sua cultura e seu desenvolvimento econômico", afirmou o presidente chinês.

Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, disse que o governo dos Estados Unidos está consternado com as últimas denúncias sobre Xinjiang, após o vazamento dos documentos.

- "Caminho próprio" -


Por isto, cada país deve seguir "um caminho próprio de desenvolvimento em termos de direitos humanos, que se adapte às suas condições e às necessidades de seu povo", afirmou Xi Jinping, de acordo com o canal estatal CCTV.

Xinjiang não foi citado de maneira específica no comunicado sobre a reunião, mas a emissora informou que Xi disse a Bachelet que não existe um "país ideal" em termos de direitos humanos.

A ex-presidente chilena afirmou no Twitter que "as reuniões com o presidente Xi e altos funcionários (chineses) foram valiosas para discutir diretamente [...] preocupações relativas aos direitos humanos na China e no mundo".

A visita de Bachelet a Xinjiang acontece até o momento com discrição. Por causa da pandemia, a missão da ONU respeita uma bolha sanitária que a mantém afastada da imprensa estrangeira.

Não foram divulgados detalhes sobre os locais e instalações que Bachelet visitará, o que a aumenta as dúvidas sobre a sua liberdade de movimento e ação.

- Kashgar e Urumqi -


A ex-presidente chilena visitou Xinjiang na terça-feira e nesta quarta-feira deveria viajar à capital regional, Urumqi, que já foi cenário de atentados contra civis.

Bachelet também pretende visitar Kashgar, no sul de Xinjiang, onde a população uigur é majoritária e a campanha de repressão do governo muito agressiva.

Bachelet é a primeira alta comissária da ONU para os Direitos Humanos a visitar a China desde 2005, após anos de negociações com Pequim sobre as condições da viagem.

De acordo com seu gabinete, ela se reunirá com membros da sociedade civil que trabalham para melhorar a situação dos direitos humanos.

Ativistas da diáspora uigur e associações dos direitos humanos temem que a viagem se transforme em uma operação de relações públicas para Pequim e afirmaram que a funcionária da ONU deve ser inquisitiva em sua investigação.

A alta comissária "deve exigir do governo chinês informações" sobre as pessoas detidas de maneira arbitrária em Xinjiang, afirmou a pesquisadora Maya Wang, especialista em China da ONG Human Rights Watch (HRW).

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