Guerra no Leste Europeu

Ucrânia julga primeiro militar russo por crimes de guerra

De acordo com a acusação, o sargento comandava uma pequena unidade dentro de uma divisão de tanques quando seu comboio foi atacado em 28 de fevereiro, quatro dias após o início da invasão

Com a cabeça raspada e vestindo um moletom com capuz cáqui e azul, o sargento russo Vadim Shishimarin, 21 anos, admitiu ao tribunal distrital de Solomiansky, em Kiev, a culpa pela execução de um civil ucraniano, no primeiro julgamento por crimes de guerra desde a invasão à Ucrânia, em 24 de fevereiro.  Depois da leitura da acusação, o juiz perguntou se ele admitia os fatos. "Sim", respondeu, segundo a agência de notícias France-Presse. "Em sua totalidade?", continuou o magistrado. "Sim", reagiu. Shishimarin poderá ser condenado à pena perpétua. 

De acordo com a acusação, o sargento comandava uma pequena unidade dentro de uma divisão de tanques quando seu comboio foi atacado em 28 de fevereiro, quatro dias após o início da invasão. Com outros quatro soldados, ele roubou um carro. Enquanto dirigiam perto do vilarejo de Shupakhivka, na região de Sumy (nordeste), eles se depararam com um homem de 62 anos, que empurrava sua bicicleta falando ao telefone. "Um dos militares ordenou ao acusado que matasse o civil para que ele não os denunciasse", segundo a acusação. Vadim Shishimarin atirou com uma AK-47 da janela do veículo e "o homem morreu na hora, a algumas dezenas de metros de sua casa.

Também ontem, mais de 700 combatentes do Batalhão de Azov que estavam entrincheirados na siderúrgica de Azovstal, em Mariupol (sudeste), se renderam aos separatistas pró-Rússia. A expectativa é de que Moscou realizará um julgamento coletivo, chamado por alguns russos de "novo Nuremberg" — em alusão ao tribunal instalado para julgar crimes nazistas após a Segunda Guerra Mundial.

Giorgi Gogia, diretor associado da Europa e Ásia Central da Human Rights Watch (HRW), afirmou ao Correio que tanto a Rússia quanto a Ucrânia têm obrigações sob as Convenções de Genebra para investigarem crimes de guerra cometidos por suas forças ou em seu território. "Por isso, Kiev tem o dever de buscar a responsabilização nacional pelos crimes cometidos dentro de suas fronteiras. É claro que precisa garantir os direitos ao devido processo legal. As vítimas de abusos e seus familiares têm que receber reparação imediata e adequada."

De acordo com Gogia, os quase mil combatentes do Batalhão de Azov são, agora, prisioneiros de guerra e precisam ter os direitos respeitados. "As  autoridades da Rússia não deveriam submeter os presos a nenhuma forma de tortura ou maus-tratos, nem expô-los à curiosidade pública, pois isso violaria as proteções sob as Convenções de Genebra."

Saiba Mais

Crimes

A HRW revelou que, entre o fim de fevereiro e março passado, as forças russas que controlavam as regiões de Kiev e de Chernihiv, no nordeste da Ucrânia, praticaram execuções sumárias de civis, torturas e outras violações. "Nós documentamos horríveis abusos, que são aparentes crimes de guerra, em 17 vilarejos e em pequenas cidades. Alguns civis foram mortos por disparos a curta distância. Também testemunhamos casos de desaparecimento forçado e de tortura. Falamos com dezenas de civis arbitrariamente detidos por dias ou semanas em condições imundas e sufocantes", acrescentou Gogia.

Ele citou um caso "particularmente horroroso" em um Yahidne, um pequeno vilarejo a 15km de Chernihiv. "Durante 28 dias, os russos detiveram mais de 350 moradores, quase a população inteira, incluindo mulheres, crianças e bebês, no porão de uma escola. Dez pessoas morreram." Diretor executivo da HRW, Kenneth Roth contou à reportagem que a ONG registrou 22 aparentes execuções sumárias, nove execuções ilegais, seis desaparecimentos forçados e sete casos de tortura. "O escopo dessas atrocidades sugere um padrão de abusos que implicam altos funcionários russos."

Otan

Finlândia e Suécia abandonaram décadas de não alinhamento militar e formalizaram os pedidos de adesão à Otan. Em Bruxelas, o secretário-geral da aliança militar ocidental, Jens Stoltenberg, enalteceu o "passo "histórico". A Turquia promete vetar a adesão, alegando que os dois candidatos protegem supostos extremistas curdos.