GUERRA NO LESTE EUROPEU

Ucrânia acusa Rússia de ter mirado em alvos civis durante ofensivas

Ucrânia diz que Rússia teria mirado, propositalmente, alvos civis durante ofensivas com mísseis na região de Odessa, deixando 21 mortos. Presidente da Bielorrússia, aliado de Moscou, acusa Kiev de tentar bombardear o país

Correio Braziliense
postado em 03/07/2022 06:00
 (crédito:  AFP)
(crédito: AFP)

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, denunciou ontem a Rússia pelo que chamou de "terror deliberado", em referência a ataques letais na região de Odessa. Na sexta-feira, três mísseis destruíram um complexo turístico e um edifício de grande porte em Serhiivkaka, na costa do Mar Negro. A investida teria provocado a morte de 21 pessoas, incluindo uma criança de 12 anos. Outras 38 vítimas ficaram feridas.

Segundo o governante, não se trata de acidente. "Isso é terror russo deliberado e não erros ou um ataque acidental com mísseis", denunciou Zelensky. Não havia alvo militar no local do ataque, disseram as autoridades da cidade, situada a 80km de Odessa. Zelensky voltou a pedir ao Ocidente que envie sistemas antimísseis à Ucrânia. Em resposta, o Kremlin garantiu que "as forças armadas da Rússia não operam contra alvos civis" no país vizinho. A reação foi descrita pelo governo alemão como "desumano e cínico".

"Peço aos nossos parceiros que forneçam à Ucrânia sistemas de defesa antimísseis o mais rápido possível. Ajudem-nos a salvar vidas", implorou o ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kouleba, chamando a Rússia de "Estado terrorista". Respondendo à demanda, o Pentágono anunciou US$ 820 milhões em nova ajuda militar a Kiev, incluindo até 150 mil projéteis de 15mm, novos mísseis para os lançadores múltiplos de foguetes Himars, que chegaram recentemente ao campo de batalha, bem como sistemas de defesa antiaérea Nasams. A Noruega, por sua vez, anunciou uma doação de cerca de 960 milhões de euros.

Armamento soviético

De acordo com o exército ucraniano, os projéteis usados contra Serhiivka foram mísseis de cruzeiro soviéticos datados da Guerra Fria e projetados para atacar porta-aviões, do mesmo tipo daqueles que atingiram um shopping center em Kremenchuk em plena luz do dia, matando pelo menos 19 pessoas, há uma semana. Zelensky reconheceu que a situação continua "extremamente difícil" em Lysytchansk, onde a maior parte dos combates está concentrada e onde os russos "tentam cercar" o exército ucraniano "pelo sul, leste e oeste", segundo o governador local, Serguiï Gaïdaï.

Ontem, combates ferozes ocorreram na cidade que, segundo os separatistas pró-russos, está cercada, embora o exército ucraniano negue e afirme que continua resistindo no município mais importante que controla na bacia do Donbass. "Felizmente, a cidade não está cercada e está sob o controle do exército ucraniano", garantiu o porta-voz da Guarda Nacional, Ruslan Muzychuk. Na véspera, o Ministério da Defesa russo anunciou que suas forças "chegaram na "pesadas perdas" ao exército ucraniano na entrada Lysytchansk" e infligiram . Trata-se da última grande cidade que ainda não está nas mãos de Moscou na região de Luhansk.

Cerca de 60km mais a oeste, em Sloviansk, uma cidade do Donbass não muito distante das de Izium e Lyman — ambas nas mãos das forças russas —, um ataque com foguetes atingiu casas habitadas na sexta à noite, causando a morte de uma mulher, segundo a agência France Presse. De acordo com o governador da região de Donetsk, Pavlo Kyrylenko, quatro civis foram mortos e 12 feridos em Sloviansk desde a manhã de sexta-feira.

Ilustrando a questão da guerra de grãos imposta pelo Kremlin, e que preocupa muitos países africanos dependentes do trigo ucraniano para sua segurança alimentar, as forças de Kiev informaram na sexta-feira, com um vídeo de apoio, que tropas russas haviam atacado duas vezes com bombas de fósforo a Ilha das Serpentes, situada no Mar Negro, perto das costas ucraniana e romena, e considerada essencial para controlar o tráfego marítimo, de onde Moscou havia garantido no dia anterior ter se retirado em "sinal de boa vontade".

Na frente diplomática, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, dirigindo-se ao Parlamento de Kiev por vídeo, pediu que as reformas anticorrupção sejam aceleradas, como parte da candidatura da Ucrânia à adesão ao bloco. Ela também exortou a aprovação de um projeto destinado a combater "a influência excessiva dos oligarcas na economia", sugerindo a adoção de uma "lei sobre a mídia, que alinha a legislação ucraniana com os padrões da União Europeia".

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Parceiro russo eleva o tom

Em meio ao auge de versões sobre o envolvimento crescente de Bielorrússia, aliado da Rússia, na guerra, o presidente Alexander Lukashenko disse, ontem, que seu Exército interceptou mísseis lançados da Ucrânia contra seu país. "Eles nos provocam. Devo dizer que, há cerca de três dias, talvez mais, tentaram bombardear diretamente da Ucrânia alvos militares aqui. Graças a Deus, nossos sistemas antiaéreos Pantsir interceptaram todos os mísseis disparados", disse Lukashenko, citado pela agência estatal bielorrussa Belta.

"Repito, como disse há mais de um ano: não pretendemos lutar na Ucrânia", assinalou o presidente bielorrusso. "Iremos combater em apenas um caso: se vocês entrarem em nossa terra, se matarem nossa gente", continuou. Lukashenko também afirmou que responderia "instantaneamente" a qualquer ataque inimigo, em mensagem visivelmente destinada a Kiev e aos países ocidentais. "Há menos de um mês, ordenei a nossas Forças Armadas que mantenham na mira os centros de decisão de suas capitais", declarou, mencionando os mísseis prometidos por Putin e o sistema lançador de foguetes bielorrusso Polonez.

Na semana passada, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou que entregará mísseis Iskander-M, capazes de transportar ogivas nucleares, ao aliado "nos próximos meses". Desde o início da ofensiva contra a Ucrânia, em 24 de fevereiro, a Bielorrússia serviu como base de retaguarda para as forças de Putin. Nos primeiros dias, as colunas moscovitas que tentaram avançar para Kiev partiram do país aliado, mas encontraram uma resistência inesperada, que os obrigou a se retirar. O governo de Lukashenko enfrenta duras sanções internacionais e é altamente dependente da Rússia no campo militar e econômico. 

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