Ásia

Partido de ex-premiê morto fica mais forte

Coalizão do governo japonês tem resultado acima do esperado na disputa pelo Senado, forma supermaioria e pode revisar a Constituição pacifista, uma das bandeiras de Shinzo Abe, que será velado hoje

Correio Braziliense
postado em 11/07/2022 00:01
 (crédito: Fotos:  AFP)
(crédito: Fotos: AFP)

De um assassinato que estarreceu os japoneses e o mundo para uma vitória esmagadora nas urnas e a possibilidade de tirar do papel uma das principais bandeiras levantadas pela vítima. Eis o roteiro vivido pela coalizão que governa o Japão nos últimos dias. O assassinato do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe, na última sexta-feira, pode ter levado a um comparecimento maior às urnas nas eleições para o Senado, realizadas ontem, avaliam analistas. As projeções indicam que a sigla de Abe, o Partido Liberal Democrático (LDP), e o aliado Komeito ganharam ao menos 61% das cadeiras em disputa na Câmara Alta, o que abre portas para a revisão da Constituição pacifista, um dos desejos do líder morto a tiros em um comício. O resultado do pleito está previsto para hoje, quando também ocorrerá o velório público do ex-premiê.

A vitória da coalizão era esperada antes mesmo do crime, mas a tragédia pode ter influenciado no resultado do pleito principalmente em regiões mais disputadas. Na eleição anterior — metade da Casa, que, agora, tem 248 integrantes, é renovada a cada triênio —, o governo ficou com 69 postos. Nesta última, as projeções no meio da tarde (já madrugada no Japão) indicavam 76, o que resultará em uma supermaioria de dois terços da Casa. Um aumento na participação dos eleitores, por sua vez, é certo: ao menos 52%, contra 48,8%.

O atual premiê, Fumio Kishida, comemorou os resultados do pleito. "Acho importante que as eleições tenham sido realizadas normalmente", afirmou. Admitindo a derrota, Kenta Izumi, líder do opositor Partido Democrático Constitucional, que deve perder vários assentos, disse que estava claro que "os eleitores não queriam mudar", segundo a Kyodo News.

Questionado sobre a mudança na Constituição pacifista, Kishida disse que vai se concentrar em elaborar um projeto de lei para ser discutido no Parlamento. O texto, redigido em 1947, após a derrota do Eixo na Segunda Guerra Mundial, do qual o Japão fez parte, estabelece, entre outros pontos, que o país asiático "nunca manterá" as Forças Armadas. A expressiva maioria legislativa pode abrir caminhos para mudanças na Constituição e possíveis investimentos para fortalecer o papel militar do país a nível global.

Uma pesquisa da rede NHK realizada pouco antes da eleição mostra que 37% dos entrevistados são favoráveis à revisão do texto e 23%, contrários. Também não há uma definição sobre quais pontos seriam alterados. Kishida indicou, ontem, outras prioridades. "Neste momento, enquanto enfrentamos problemas como o coronavírus, a Ucrânia e a inflação, a solidariedade dentro do governo e dos partidos de coalizão é vital."

Despedida

Abe estava em um comício atuando pela vitória da coalizão nas urnas quando foi assassinado a tiros. A polícia segue sem divulgar detalhes sobre a investigação.

De acordo com vários relatos colhidos pela imprensa japonesa, o homem acusado pelo assassinato, Tetsuya Yamagami, 41 anos, visitou a região de Okayama, um dia antes do crime, com a intenção de assassinar Abe em outro comício. Ele teria desistido porque os participantes eram obrigados a registrar a presença com nomes e endereços.

Segundo o gabinete do ex-premiê, um velório aberto ao público será feito hoje à noite. Amanhã, apenas a família e os amigos próximos participarão de um funeral simples. A imprensa japonesa informou que os dois eventos devem acontecer no Templo Zojoji, em Tóquio. O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, que está na Ásia, visitará o Japão hoje para expressar pêsames.

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Sri Lanka: invasores seguem no palácio

 (crédito:  AFP)
crédito: AFP

Os manifestantes que invadiram, no sábado, o palácio presidencial do Sri Lanka decidiram que ficarão no prédio até a renúncia do presidente Gotabaya Rajapaksa, prometida para esta quarta-feira. "Nossa luta não acabou. Arriscamos nossas vidas. Nós não vamos desistir até que ele realmente vá embora", disse, ontem, o líder estudantil Lahiru Weerasekara. A população acusa o presidente de ser o responsável pela grave crise econômica que assola o país. Os protestos pela saída de Rajapaksa começaram em março e chegaram ao ápice no último fim de semana. Milhares de pessoas invadiram o complexo residencial, percorrendo os ambientes luxuosos e vasculhando os pertences de Rajapaksa, que fugiu às pressas. A ONU alertou ontem para a possibilidade de uma grave crise humanitária no país asiático. Há ainda a incerteza se alguma figura no Legislativo conseguirá reunir apoio suficiente para suceder Rajapaksa, já que Ranil Wickremesinghe, que ocupava o cargo de primeiro-ministro, renunciou após a invasão do palácio.

Prédio residencial bombardeado

Ao menos 15 pessoas morreram após um prédio residencial ter sido atingido por um míssil, ontem, em Chasiv Yar, na região do Donbass, no leste da Ucrânia. Segundo autoridades locais, o artefato era um míssil Uragan, de origem russa. Com o impacto, parte da construção de quatro andares desabou. Pelo menos cinco moradores foram retirados com vida do local, e as equipes trabalhavam com a possibilidade de resgatar outros 24 que estavam sob os escombros. Boa parte dos ataques russos se concentra nessa região ucraniana.

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