EUA

O tuíte de Donald Trump que teria incitado ataque a Capitólio, segundo comissão

Apoiadores de Donald Trump invadiram Capitólio em 6 de janeiro de 2020

BBC
Jude Sheerin - Da BBC News em Washington
postado em 13/07/2022 08:56
 (crédito: Reuters)
(crédito: Reuters)


Um tuíte de Donald Trump mobilizou apoiadores de extrema-direita para ir à capital dos Estados Unidos, Washington, no dia da invasão do Capitólio, sede do Congresso americano, segundo um comitê parlamentar.

O ex-presidente, que governou o país de 2017 a 2021, fez a postagem após "a reunião mais louca de sua presidência", disse um parlamentar que integra a comissão.

Na ocasião, Trump fez um apelo aos seus apoiadores, apesar de ouvir repetidamente de assessores que havia perdido a eleição presidencial de 2020 para Joe Biden.

O comitê acusa Trump de tentar dar um golpe para permanecer no poder.

Apoiadores de Donald Trump invadiram o Congresso em 6 de janeiro de 2021, quando os parlamentares se reuniram para certificar formalmente a vitória de Biden.

Horas antes da audiência desta terça-feira (12/7), Trump atacou o comitê da Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil) — liderado por democratas, de oposição ao seu governo — em sua plataforma de mídia social Truth Social. O então presidente chamou os democratas de "picaretas e bandidos" ("hacks and thugs", em inglês), que estariam perpetrando uma "farsa".

A comissão vem conduzindo uma investigação de quase um ano sobre o ataque ao Capitólio.

Na audiência desta terça-feira (12/7), a sétima desde junho, concentrou-se em um tuíte que Trump publicou nas primeiras horas de 19 de dezembro de 2020 e em uma tensa reunião de seis horas na Casa Branca antes da postagem.

Jamie Raskin, um democrata do Estado de Maryland que integra a comissão, disse que a reunião foi descrita como "desequilibrada" e "não normal".

Trump já havia sido informado por assessores da Casa Branca e pessoas dentro de sua própria equipe de campanha que ele deveria conceder vitória a Biden.

No entanto, em 18 de dezembro, ele recebeu na Casa Branca alguns conselheiros informais que o exortavam a seguir com alegações infundadas de fraude eleitoral. O grupo — que incluiu seu advogado pessoal Rudy Giuliani e seu ex-assessor de Segurança Nacional Michael Flynn — sugeriu que Trump ordenasse que militares apreendessem as urnas estaduais.

Auxiliares reagem

A reunião foi interrompida por assessores, bem como pelo então advogado da Casa Branca Pat Cipollone.

"Eu acho que nenhuma dessas pessoas estava dando bons conselhos ao presidente", disse Cipollone em depoimento gravado à comissão.

A discussão durou horas e Cipollone disse ter sido atacado "verbalmente", mas que continuou "resistindo". Em um determinado momento, ele perguntou aos demais: "Onde estão as evidências?" Segundo seu depoimento ao comitê, eles não apresentaram nenhuma prova de que teria havido fraude eleitoral.

O encontro terminou depois da meia-noite com a rejeição da ideia de apreensão de urnas. O tuíte de Trump — enviado às 01h42, horário local — dizia a seus apoiadores: "Estatisticamente impossível ter perdido a eleição de 2020. Grande protesto em [Washington] DC em 6 de janeiro. Esteja lá, será louco ("wild", em inglês, que pode ser traduzido como "louco", "selvagem" ou "feroz")".

A postagem, argumenta Raskin, "eletrizou e mobilizou seus apoiadores", que acreditavam nas alegações de Trump de que a eleição havia sido roubada.

A comissão concluiu que o tuíte foi uma convocação para grupos extremistas como os Oath Keepers e Proud Boys. Dois integrantes desses grupos aguardam julgamento por acusações de conspiração relacionadas ao tumulto no Capitólio.

Um funcionário anônimo do Twitter disse ao comitê que viu um aumento na retórica violenta na internet após o tuíte. Raskin disse que algumas das reações eram "abertamente homicidas".

Os membros do comitê tentam traçar uma linha direta entre o post de mídia social e a violência em 6 de janeiro. A comissão tenta levantar provas de que os esforços de Trump para reverter sua derrota nas eleições de 2020 constituem conduta ilegal.

Na audiência de terça-feira (12/7), também foi dito que Trump teria tentado entrar em contato com alguém ligado à comissão parlamentar para levantar a possibilidade de interferir no processo de seleção de testemunhas.

Liz Cheney, uma das duas republicanas no comitê, disse ter notificado o Departamento de Justiça (órgão equivalente ao Ministério da Justiça no Brasil).

A congressista, que representa o Estado de Wyoming, disse que a pessoa que Trump tentou contatar não atendeu sua ligação e, em vez disso, alertou um advogado.

Outra testemunha na terça-feira foi Stephen Ayres, um morador do Estado de Ohio que se declarou culpado de participar da invasão ao Capitólio.

Ayres surpreendeu as pessoas na sala de audiência quando se aproximou de dois dos policiais feridos na confusão e apertou suas mãos. Mais de 140 policiais ficaram feridos no tumulto.

Stephen Ayres aperta a mão de Harry Dunn
Getty Images
Stephen Ayres aperta a mão do policial do Capitólio Harry Dunn após testemunhar

Um dos policiais, Harry Dunn, descreveu a conversa para a repórter Tara McKelvey, da BBC News, que compareceu à audiência.

"Ele se desculpou", disse Dunn. "Estou tentando processar."

Trump — que deu a entender que pode concorrer à Casa Branca novamente em 2024 — disse que as audiências são uma tentativa de distrair os americanos do "desastre" que é o governo democrata de Joe Biden, em meio à escalada da inflação.

Uma sondagem do jornal americano New York Times em parceria com o instituto de pesquisas Gallup nesta semana afirma que apenas 33% dos eleitores aprovam o presidente Biden — índice de popularidade inferior ao de Trump após o tumulto no Capitólio.

- Este texto foi originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62147147


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