Guerra na Ucrânia

'Nos escondemos quando bombardeiam', afirmam soldados ucranianos

"Nós cavamos quando está quieto, nos escondemos quando eles bombardeiam", diz um soldado nas trincheira

Agência France-Presse
postado em 15/07/2022 10:43
 (crédito:  MIGUEL MEDINA / AFP)
(crédito: MIGUEL MEDINA / AFP)

Régión de Izium, Ucrânia- Em uma trincheira na região ucraniana do Donbass, Dima admite que demorou para se acostumar com os sons da guerra, a conviver com seus colegas soldados e com as moscas por toda parte.

Agora, o soldado de 25 anos, de sorriso fácil, afirma confiante que está tudo bem, apesar do constante estrondo da artilharia.

Seu apelido "Moriak" (marinheiro) está escrito em seu uniforme junto com os slogans usados pelos soldados: "Born to hunt" (nascido para caçar) e "Si vis pacum para bellum" (Se você quer paz, prepare-se para a guerra).

Depois de servir na linha de frente nas regiões de Sumy e Kharkiv, ao norte, Dima foi enviado à região de Izium.

Essa região situa-se ao noroeste de Kramatorsk, centro administrativo do Donbass, uma região industrial que as tropas russas tentam conquistar.

Desde sua chegada, Dima cavou na terra escura, como todos em sua unidade.

A trincheira mede dezenas de metros, um labirinto cheio de pás, picaretas e abrigos subterrâneos onde os homens dormem.

"Nós cavamos quando está quieto, nos escondemos quando eles bombardeiam", diz um soldado.

- "Não passarão" -


As forças russas estão a poucos quilômetros.

"Não passarão!", exclama em espanhol o chefe da unidade, Ahil, um soldado com muita experiência e de poucas palavras.

Quando perguntado quantos homens há na unidade, ele responde: "o número que precisamos".

A situação? "Poderia ser pior". Armas? "Nós nunca temos o suficiente". Moral? Boa."

Ahil diz que combate no Donbass desde 2014, quando separatistas apoiados pela Rússia tomaram o controle de parte do território.

Ele acredita que a situação agora é completamente diferente.

"Hoje há uma guerra total", afirma o soldado, que espera "descansar quando tudo isso acabar".

"Se é que consigo chegar a esse ponto", acrescenta.

Esta parte da linha de frente tem sido uma das mais ativas desde que começou a invasão russa, em 24 de fevereiro, mas se acalmou nas últimas semanas, depois que os russos tentaram avançar em outros lugares.

"Este local foi um dos mais sangrentos", admite "Grizzly", outro comandante.

Quando questionado se pensa na morte, respondeu: "É óbvio, penso o tempo todo que essa poderia ser minha última xícara de chá ou a última vez que vou dormir".

- Quilômetro por quilômetro -


Fora da trincheira, o campo se estende por uma paisagem que seria magnífica, não fosse o extenso terreno destruído.

As munições não detonadas estão espalhadas pelas estradas, marcadas por crateras e veículos queimados.

Alguns veículos militares são vistos. Um tanque T-72 levanta uma nuvem de pedras e poeira enquanto gira.

Alguns quilômetros atrás fica o quartel-general da brigada, em uma fazenda abandonada.

Galinhas vagam entre as ruínas, um gato dorme em uma cadeira abandonada. Um míssil Tochka-U é visto no pátio.

Ao pé de uma pequena escada, o oficial encarregado trabalha em uma sala de 15 m2 repleta de mapas e rádios para se comunicar com seus postos. Três homens estão deitados no escuro da sala, olhando para seus telefones.

Oleksandr, o oficial de 34 anos, diz que a situação está "sob controle".

"Estamos aqui desde o final de abril e, após várias tentativas do inimigo de avançar, somos nós que avançamos, quilômetro a quilômetro", afirma.

A meta? "Vitória total". É possível um cessar-fogo? "Não, não, não".

 

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