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O finalista de Wimbledon que virou assassino

Goold foi condenado à prisão perpétua na Ilha do Diabo, na Guiana Francesa, teve frequentes problemas de saúde devido à abstinência de álcool e ópio. Acabou se suicidando aos 55 anos

BBC
Shane Harrison - BBC News
postado em 18/07/2022 13:17

O torneio de tênis de Wimbledon é muitas vezes uma volta a um passado elegante do esporte: os jogadores desfilando com seus uniformes brancos, enquanto os espectadores comem morangos com creme.

Neste ano, o sérvio Novak Djokovic foi o grande vencedor, ao derrotar o australiano Nick Kyrgios. Entusiasta de teorias antivacina, ele chegou a ser barrado do Aberto da Austrália e coleciona polêmicas.

Uma gravura da final de Wimbledon de 1879
Getty Images
Uma gravura da final de Wimbledon de 1879

Sim, sempre houve jogadores "bad boys", mas nenhuma atitude de qualquer competidor de Wimbledon se compara a de um dos finalistas de 1879: Vere Thomas St Leger Goold, o segundo filho de um barão irlandês.

Ele era um tenista altamente talentoso, com um backhand "matador", que chegou à final de 1879, durante a qual foi derrotado pelo reverendo John Thorneycroft Hartley.

Goold era o favorito, mas — segundo os historiadores — ele teria bebido demais na noite anterior à final e acabou perdendo a partida.

A partir daí, sua vida só andou ladeira abaixo.

Morte violenta

Goold gostava de jogos de azar, bebia muito e abusava do ópio.

Em 1891, ele se casou com Madame Marie Giraudin, uma francesa que já havia enviuvado duas vezes e que também tinha seus próprios problemas de dependência.

O casal mudou-se para o sul da França, onde passava bastante tempo nos cassinos de Monte Carlo, em Mônaco.

Os Goold perderam todo o seu dinheiro no jogo. Mas em 1907, eles acreditaram ter encontrado outro bilhete premiado: a viúva dinamarquesa Emma Levin.

Levin emprestou ao casal 40 libras — uma quantia enorme na época — que eles novamente perderam.

Eles se envolveram em uma grande briga pública com outras pessoas que dependiam de Levin, como Madame Castelazzi, que tentava recuperar seu dinheiro.

Envergonhada com o escândalo, a viúva dinamarquesa decidiu deixar Monte Carlo, mas ligou para os Goold antes de sua partida.

Vere Thomas St Leger Goold
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Vere Thomas St Leger Goold, um atleta que caiu em desgraça

Aparentemente houve uma briga violenta porque, quando a polícia chegou à casa dos Goold em busca da desaparecida Emma Levin — denunciada por Castelazzi —, eles encontraram manchas de sangue na parede, no teto e nos móveis. Eles também acharam uma adaga e uma faca de açougueiro cobertas de sangue.

O casal já havia seguido para Marselha, deixando na estação uma mala grande e outra de mão com instruções para que fossem enviadas para Londres.

Mas um porteiro percebeu um mau cheiro e o que parecia ser sangue pingando do objeto.

Não convencidos pela história dos Goold de que o conteúdo da bagagem eram galinhas mortas, ele chamou a polícia, que encontrou na mala os restos mortais de Levin.

Vere Thomas St Ledger Goold logo trocaria as quadras de tênis pelos tribunais.

"Criatura desprezível"

O casal foi julgado pelo assassinato da viúva Levin.

A acusação argumentou que Marie Goold havia instigado o crime e que ele foi facilmente manipulado por ser uma "criatura bêbada e libertina".

Final de Wimbledon 2022
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Wimbledon já teve "bad boys" bem piores do que os atuais

Ambos foram condenados.

Marie recebeu pena de morte na guilhotina, mas como não havia ninguém disponível para executar a ordem em Mônaco, a sentença foi comutada para prisão perpétua. morreu de febre tifoide na prisão em 1914.

Já Vere Thomas St Leger Goold foi condenado à prisão perpétua na infame Ilha do Diabo, na Guiana Francesa. Lá, ele teve frequentes problemas de saúde devido à abstinência de álcool e ópio. Acabou se suicidando em 1909, aos 55 anos.

- Este texto foi originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-62193230


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