guerra no leste europeu

Rússia admite objetivo de derrubar Zelensky da presidência da Ucrânia

Serguei Lavrov, ministro das Relações Exteriores de Vladimir Putin, afirma que russos ajudarão o povo ucraniano a "se libertar do regime". Presidente da Ucrânia não comenta, mas pede mais sanções contra Moscou e critica a "guerra do gás"

Rodrigo Craveiro
postado em 26/07/2022 06:00
 (crédito: Anatolii Stepanov/AFP)
(crédito: Anatolii Stepanov/AFP)

Depois de admitir que Moscou pretende anexar outras regiões da Ucrânia, além do Donbass (leste), o chanceler russo, Serguei Lavrov, afirmou que o Kremlin tem um objetivo: derrubar o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. "Nós definitivamente ajudaremos o povo ucraniano a se libertar do regime, que é absolutamente anti-povo e anti-história", declarou o ministro das Relações Exteriores. Em viagem ao Cairo, Lavrov disse que russos e ucranianos "viverão juntos no futuro".

Alheio à ameaça de deposição, Zelensky pediu à Europa que "responda" à "guerra do gás" da Rússia com mais sanções econômicas. "Hoje ouvimos novas ameaças de gás contra a Europa. Trata-se de uma guerra aberta de gás que a Rússia está travando contra uma Europa unida. (...) Não se deve pensar em como recuperar uma turbina, mas em reforçar as sanções", disse. 

Mais cedo, a petrolífera russa Gazprom anunciou que, a partir de amanhã, diminuirá as entregas diárias de gás para a Europa por meio do gasoduto Nord Stream — que conecta Rússia e Alemanha — para 33 milhões de metros cúbicos. A justificativa de Moscou envolve a necessidade de reparos em uma turbina. 

Professor de política comparativa da Universidade Nacional de Kiev-Mohyla, Olexiy Haran disse ao Correio que, ao invadir a Ucrânia, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou uma "operação militar especial para depor o regime". "Putin afirmou que deseja 'liberar' e 'desnazificar' a Ucrânia. Ele fracassou, e as ações da Rússia tiveram que ser recalibradas. Os russos começaram a falar sobre a 'libertação' do Donbass (leste). Primeiro, Lavrov declarou que desejava reiniciar as negociações com a Ucrânia. Depois, avisou que mudará o regime ucraniano."

Haran crê que a ameaça de depor Zelensky esteja associada ao desejo de anexação de outros territórios da Ucrânia. "Isso confirma que a meta da Rússia permanece a mesma: conquistar a Ucrânia. Ao bombardear áreas civis, os russos tentam intimidar os ucranianos e forçar os cidadãos a pressionarem Zelensky a aceitar as concessões de Moscou. Não vejo chance de o Kremlin derrubar o governo", comentou. "Apesar da lei marcial, a Ucrânia é uma democracia, que permite críticas a Zelensky. Os partidos da oposição estão unidos para defender o país."

Cautela

Mykola Volkivskyi, ex-assessor do presidente do Parlamento, adverte que as declarações de Lavrov devem ser interpretadas com cuidado. De acordo com ele, há algumas semanas, o ex-presidente russo Dmitry Medvedev alertou que ataques ucranianos à Crimeira seriam respondidos com um "dia do juízo final".

"Antes, propagandistas do Kremlin ameaçaram a Ucrânia e os EUA com um ataque nuclear. Quando a Lituânia baniu o trânsito de mercadorias russas, Moscou citou 'consequências imprevisíveis'. Nós observamos uma linguagem da chantagem, quando as nações se veem forçadas a escolher entre 'a declaração de um país autoritário imprevisível' e 'um Estado pacífico que pode ser destruído a qualquer momento'. A fala de Lavrov se aplica a importadores de produtos da Ucrânia", lembrou Volkivskyi.

Para Kateryna Shtepa, 17 anos, estudante de história da Universidade Nacional Kiev Taras Shevchenko, as palavras de Lavrov são bravata. "Estou surpresa com o fato de que a Rússia não compreendeu que o meu povo não pode ser derrotado. Nós elegemos o presidente, e estaremos com ele até a vitória."

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Vozes da Ucrânia

 (crédito: Arquivo pessoal )
crédito: Arquivo pessoal

Kateryna Shtepa, 17 anos, estudante de história da Universidade Nacional Kiev Taras Shevchenko

"A Rússia é incapaz de derrubar Zelensly, pois nós, ucranianos, não permitiremos que isso ocorra. Nosso povo tem um espírito muito forte, somos um povo livre. Quando a invasão em larga escala começou, todos os moradores saíram para defender suas casas. Foi algo realmente inspirador. Tenho certeza de que, se a Rússia quer se arriscar novamente e atacar a capital, a população permanecerá firme."

Anton Suslov, professor da Escola de Análise Política (naUKMA), em Kiev 

"O período em que as tropas estavam perto de Kiev passou. Os soldados russos enfrentam problemas de recursos humanos. Ao mesmo tempo, nossas forças seguem destruindo depósitos de armas e importantes rotas logísticas na região de Kherson, além de contra-atacarem em Donetsk e em Kharkiv. Os russos não têm capacidades militares suficientes para abrirem um novo front."

  •  Anton Suslov, especialista da Escola de Análise Política (naUKMA), em Kiev
    Anton Suslov, especialista da Escola de Análise Política (naUKMA), em Kiev Foto: Arquivo pessoal
  • Mykola Volkivskyi, 27 anos, ex-assessor do presidente do Parlamento (2014-2021) e cientista político, morador de Kiev
    Mykola Volkivskyi, 27 anos, ex-assessor do presidente do Parlamento (2014-2021) e cientista político, morador de Kiev Foto: Arquivo pessoal
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