guerra no leste europeu

União Europeia aceita reduzir consumo de gás e renova sanções contra Rússia

Países-membros da União Europeia aceitaram reduzir o consumo do combustível em 15% entre agosto e março de 2023, uma estratégia para diminuir a dependência de Moscou. Bloco prorroga por seis meses as retaliações financeiras contra o Kremlin

Rodrigo Craveiro
postado em 27/07/2022 06:00
 (crédito: Sergey Bobok/AFP)
(crédito: Sergey Bobok/AFP)

O anúncio foi feito no perfil do Twitter do governo da República Tcheca, que ocupa a presidência rotativa do Conselho da União Europeia (UE). "Não foi uma missão impossível! Os ministros de Energia dos 27 países-membros da UE, à exceção da Hungria, chegaram a um acordo político sobre a redução da demanda de gás para o inverno", afirma o comunicado. O documento pactuado estabelece que cada nação faça "todo o possível" para reduzir o consumo de gás em 15% entre agosto de 2022 e março de 2023 — em comparação com a média dos últimos cinco anos do mesmo período. A meta de 15% será compulsória, caso Moscou interrompa totalmente o envio de gás para a Europa. 

Apesar do avanço, a UE cedeu e fez concessões a alguns países, com base nos níveis de dependência de gás e de armazenamento do combustível. De qualquer forma, a medida é vista como uma tentativa de reduzir a dependência energética de Moscou e aliviar o impacto da interrupção no fornecimento do produto russo, em retaliação às sanções financeiras impostas ao Kremlin. Os cortes de gás por parte da estatal petrolífera Gazprom não intimidaram o bloco. Além do racionamento, a UE decidiu renovar as sanções aplicadas em 2014 contra o governo de Vladimir Putin por um período adicional de seis meses, até o fim de janeiro de 2023. 

"Hoje, a União Europeia deu um passo decisivo para enfrentar a ameaça de interrupção total do gás por parte de Putin. Saúdo fortemente a aprovação, por parte do Conselho, do Regulamento do Conselho relativo a medidas coordenadas de redução de demanda do gás", afiirmou Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia (órgão executivo da UE). Segundo ela, o compromisso coletivo para diminuir em 15% o consumo do gás "é muito importante e ajudará a preencher nosso estoque antes do inverno". 

"Ao agir em conjunto para reduzir a demanda do gás, levando-se em conta todas as relevantes especificidades nacionais, a UE garantiu bases sólidas para a solidariedade indispensável entre os países-membros, face à chantagem energética de Putin", acrescentou Von der Leyen. Ela ressaltou que o anúncio da Gazprom sobre o corte de remessas de gás para a Europa através do gasoduto Nord Stream 1, "sem qualquer razão técnica justificável, ilustra ainda mais a natureza não confiável da Rússia como fornecedora de energia". 

Jozef Síkela, ministro da Indústria e do Comércio da República Tcheca, disse que o bloco "deu um passo enorme para garantir os suprimentos (de gás) para os cidadãos e a economia durante o inverno que se aproxima". "As negociações não foram fáceis. (...) No fim das contas, todos entendem que sacrifícios são necessários. (...) O racionamento gradual nos próximos meses assegurará que tenhamos gás suficiente. Não permitiremos que a Rússia ameace nossa segurança ao interromper, de forma deliberada, as remessas de gás e que utilize o produto como arma política", declarou.

Países insulares interconectados com a rede de gás da UE ficarão isentos de racionamentos obrigatórios — são os casos de Irlanda, Malta e Chipre. De acordo com o jornal britânico The Guardian, as nações bálticas também podem solicitar isenção de cortes por terem os sistemas de eletricidade ligados à Rússia. Espanha, Portugal e Grécia demonstraram oposição a uma meta uniforme de 15% de redução, o que levou a União Europeia a considerar cada caso. 

Preocupação

Especialista da Universidade de Harvard e do Centro para Análise Política Europeia, Benjamin L. Schmitt afirmou ao Correio que o acordo para a redução de consumo de gás em até 15% por parte dos países europeus "ilustra o nível de preocupação de Bruxelas com o fato de que o regime de Putin continua a usar a energia como arma contra democracias do continente". "É vital que passos desse tipo, ligados à segurança energética, sejam tomados para que os líderes europeus mantenham sua habilidade de fornecer apoio significativo à Ucrânia, mesmo se o Kremlin seguir aplicando pressão contra o continente, por meio de cortes generalizados de energia", afirmou.

Para Peter Zalmayev, diretor da organização não-governamental Eurasia Democracy Initiative (em Kiev), o racionamento de gás é um passo na direção correta, porém, demasiadamente tardio. "Depois de anos de dependência do gás russo, isso vem com muito atraso. É óbvio que se trata de uma medida necessária, pois os europeus perceberam que não haverá mais negócios com a Rússia, como costumavam fazer, tão logo eles abandonem essa dependência", disse à reportagem. "O interessante é que os países-membros da UE estão comprometidos com um cenário de vitória da Ucrânia na guerra. Putin concluiu que não existe uma estratégia clara de vitória para ele na Ucrânia."

 

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Eu acho...

 (crédito: Arquivo pessoal)
crédito: Arquivo pessoal

"Para pressionar o Kremlin a recuar em sua agressão contra a Ucrânia, aumentar a resiliência energética da Europa e combater a corrupção estratégica de longa data, devemos ampliar, de forma dramática, as sanções globais de energia contra o governo de Vladimir Putin; continuar a envolver a diplomacia global de energia para ajudar a União Europeia a garantir alternativas aos recursos energéticos russos. Também apoiar um nível de esforço de guerra para implantar a infra-estrutura de diversificação energética, a fim de tornar a Europa independente da energia russa para sempre."

Benjamin L. Schmitt, especialista da Universidade de Harvard e do Centro para Análise Política Europeia 

Forças russas intensificam bombardeios no sul e no leste da Ucrânia

 (crédito: Sergey Bobok/AFP)
crédito: Sergey Bobok/AFP

As regiões do sul da Ucrânia sofreram bombardeios russos "maciços" ontem, incluindo uma cidade balneária perto dos portos de Odessa e Mykolaiv, disseram autoridades ucranianas. De acordo com o Comando Sul do exército ucraniano, o bombardeio foi realizado "por aviões do Mar Negro". "Em Odessa, prédios residenciais nas aglomerações costeiras foram atingidos sem causar vítimas, segundo relatos iniciais", afirmou o Exército da Ucrânia, em nota no Facebook. O Estado-Maior ucraniano também admitiu que as forças russas fizeram pequenos avanços na região de Donetsk, no leste da Ucrânia. Ataques aéreos também ocorreram perto de Soledar, Pokrovske, Vuhlehirska TPP, Siversk, Sloviansk, Bakhmut e Khramatorsk. Em Chuguiv, próximo a Kharkiv, socorristas resgataram o corpo de uma mulher sob os escombros da Casa da Cultura (foto), uma instituição cultural construída pela própria comunidade.

 

Oligarcas e Ministério da Justiça na mira de Londres

O Reino Unido anunciou novas sanções contra membros do Ministério da Justiça e contra oligarcas russos com interesses financeiros significativos em território britânico, em represália pela invasão da Ucrânia por Moscou. Entre as 40 pessoas atingidas, estão o ministro da Justiça, Konstantin Tshutshenko, e seu vice, Oleg Sviridenko, acusados de "ampliar seu poder para reprimir a liberdade de expressão dos russos", informou a chancelaria, em nota. Além dos 29 governadores regionais da Rússia, Londres ampliou suas sanções a Vitali Khotsenko e a Vladislav Kuznetsov, nomeados por Moscou como autoridades nas regiões ucranianas separatistas pró-russas de Donetsk e Luhansk. As novas sanções, que incluem o congelamento de bens e a proibição de entrar em território britânico, também afetam dois sobrinhos de um oligarca russo próximo ao Kremlin. Um deles é Sarvar Ismailov, ex-dirigente do clube de futebol inglês Everton.

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