Cuba

Repressão a protestos forçou fuga em massa da ilha

O jornalista cubano Orelvys Cabrera, 37 anos, cobria para a agência Cubanet os protestos antigovernamentais que se espalharam de Havana para as outras províncias da ilha socialista, em 11 de julho de 2021, quando foi sequestrado pelas forças de segurança. Ficou 37 dias na prisão. "Eles me mantiveram em um calabouço, sem oxigênio e com apenas uma refeição ao dia. Dividi um cela de  2m de comprimento por 4m de largura com 11 pessoas. Fiquei doente e não me forneceram cuidados médicos", contou ao Correio. Libertado, passou 45 dias sob prisão domiciliar. Em 12 de novembro, recebeu um ultimato para abandonar Cuba até janeiro. Depois de um exílio de dois meses na Rússia, hoje encontra-se refugiado em Miami, nos EUA. Orelvys é um dos personagens citados em um relatório da Human Rights Watch (HRW), divulgado hoje, segundo o qual o regime de Cuba cometeu sistemáticas  violações de direitos humanos e forçou a fuga de membros da oposição. 

Pesquisador sênior da HRW, Juan Pappier explicou à reportagem que Cuba vive uma crise de direitos humanos como resultado de três fatores. "Em primeiro lugar, a repressão, que  se acentuou desde os protestos de 11 de julho de 2021 e inclui vários casos de tortura, centenas de detenções arbitrárias e dezenas de processos judiciais abusivos. Em segundo lugar, o regime cubano não abordou as causas subjacentes, que levaram o povo a tomar as ruas, incluindo o limitado acesso a medicamentos. A crise econômica tem enorme impacto nos direitos econômicos e sociais dos cubanos e provoca uma preocupante situação humanitária", afirmou.

A combinação dos dois fatores causou um aumento dramático no número de cubanos que abandonam o país. "Basicamente, vemos uma debandada de dezenas de milhares de pessoas, que saem desesperadas de Cuba, em uma odisseia para encontrar um país que lhes dê refúgio", admitiu. Segundo Pappier, o relatório, intitulado Prisão ou Exílio: A Repressão Sistemática de Cuba aos Manifestantes de julho de 2021, tem 36 páginas e foi redigido com base em 170 entrevistas de pessoas que vivem na ilha e na revisão de dezenas de documentos judiciais, além de perícias de especialistas estrangeiros.

"Nossa conclusão principal é de que os abusos ocorridos contra os cubanos que saíram às ruas, exatamente há um ano, não são atos isolados. Identificamos padrões claros e consistentes de que se tratam de abusos sistemáticos, que parecem ser parte de um plano para castigar aqueles que se manifestaram em Cuba e instaurar o terror dentro da ilha para impedir protestos", comentou o especialista da HRW.  Ele disse que as autoridades cubanos cometeram "todo tipo de atropelos" e citou casos "gravíssimos" de tortura, como forçar os presos a gritarem "Viva, Fidel!", além de espancamentos, de interrogatórios durante a madrugada e de outros tipos de tratamento cruel.

O relatório aponta que 380 manifestantes e transeuntes, incluindo vários adolescentes, foram processados e sentenciados. Muitos julgamentos ocorreram dentro de tribunais militares, o que, segundo a HRW, representa uma violação do direito internacional.