guerra no leste europeu

Desconexão de usina nuclear na Ucrânia eleva tensão na Europa

Sob bombardeios nos últimos dias, a instalação, situada no sudeste da Ucrânia, sofreu um êxodo de funcionários, por medo das explosões

Imagem de satélite mostra a central atômica de Zaporizhzhia, em Enerhodar, região controlada pela Rússia: combates no local assustam o planeta -  (crédito: Maxar Technologies/AFP - 19/8/2022)
Imagem de satélite mostra a central atômica de Zaporizhzhia, em Enerhodar, região controlada pela Rússia: combates no local assustam o planeta - (crédito: Maxar Technologies/AFP - 19/8/2022)
Rodrigo Craveiro
postado em 26/08/2022 06:00 / atualizado em 30/08/2023 16:10

A Energoatom, operadora de energia nuclear da Ucrânia, denunciou que Zaporizhzhia — a maior usina nuclear da Europa — foi totalmente desligada da rede elétrica do país. Moscou e Kiev se acusaram mutuamente pelo incidente, que aumenta o risco de superaquecimento dos dois reatores em atividade e de vazamento de radiação. "Os dois reatores em funcionamento da central foram descontectados da rede. Em consequência, as ações do invasor causaram a desconexão total (da central de Zaporizhzhia) da rede elétrica, pela primeira vez na história", anunciou a Energoatom. Sob bombardeios nos últimos dias, a instalação, situada no sudeste da Ucrânia, sofreu um êxodo de funcionários, por medo das explosões. Ainda segundo a operadora, focos de incêndio causados pelos disparos de mísseis e foguetes forçaram a desconexão em duas ocasiões, após afetarem a quarta e última conexão entre os reatores. A

O governador local Yevgeny Balitsky, nomeado por Moscou, que ocupa a região, responsabilizou o Exército da Ucrânia pelos ataques contra a usina, sob ocupação de forças russas desde o começo de março. 

"A desconexão temporária de Zaporizhzohia da rede é um desdobramento preocupante. Assim como em todas as usinas atômicas, o material nuclear nos reatores de Zaporizhzhia e nas piscinas de resfriamento de combustível usado é tão radioativo que gera seu próprio calor; por isso, deve ser constantemente resfriado", explicou ao Correio o britânico Ross Peel, gerente de transferência de conhecimento e pesquisa do King’s College London e pós-doutor em energia nuclear. Sem o resfriamento, de tão quente o material pode derreter ou se incendiar. "Ambos cenários podem fazer com que, potencialmente, o material radioativo escape para o meio ambiente", alertou. 

De acordo com Peel, o resfriamento ocorre por meio do bombeamento de água fria através do reator e das piscinas de resfriamento. "Sob circunstâncias normais, as centrais de energia nuclear utilizam parte da eletricidade gerada para funcionar as bombas. Se a usina é desligada para manutenção, ou devido a algum problema, a eletricidade é extraída das linhas de energia conectadas à rede. Se essas linhas não funcionam, o backup final é feito por uma série de geradores a diesel altamente protegidos", explicou. "Com a desconexão, Zaporizhzhia ficou temporariamente em uma situação na qual uma das opções de backup — a energia externa — não estava disponível. Por isso, foi preciso recorrer aos geradores a diesel. Sem outras alternativas para resfriar a usina, aumenta a chance de um desastre", acrescentou. 

Diretor de Política Sênior do Centro para Controle de Armas e Não Proliferação (em Washington), John Erath afirmou ao Correio que a desconexão da energia do equipamento de resfriamento do reator pode ser uma medida perigosa. "Infelizmente, não sabemos exatamente o que está ocorrendo ou quais perigos existem realmente, pois monitores internacionais não foram autorizados a visitar Zaporizhzhia", lamentou. "Isso deveria ser feito o mais rápido possível, a fim de que tenhamos uma visão clara dos riscos potenciais."

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