CHINA

Cavernas-abrigo e blocos de gelo gigantes: as medidas dos chineses contra a onda de calor

A onda de calor que atinge a China está fazendo com que o país tenha temperaturas extremas, acima dos 40°C

BBC
Melissa Zhu - BBC News
postado em 25/08/2022 19:49 / atualizado em 25/08/2022 19:49

A onda de calor que atinge a China está fazendo com que o país tenha temperaturas extremas, acima dos 40°C.

Para lidar com isso, os moradores das províncias do sudoeste estão recorrendo a algumas estratégias desesperadas.

Pessoas que vivem na Província de Sichuan e na cidade de Chongqing, vizinha à província, estão se mudando para abrigos subterrâneos e comendo em restaurantes em cavernas na tentativa de buscar refúgio do calor.

Alguns especialistas dizem que a intensidade da atual onda de calor no país pode torná-la uma das piores já registradas no mundo. A onda já dura dois meses e é a mais longa da China desde que há registros, segundo o Centro Nacional do Clima.

O fenômeno também exacerbou uma seca severa na China — onde boa parte da energia elétrica é gerada por grandes hidrelétricas que dependem do nível de água das represas.

No calor e no escuro

Uma das medidas que algumas estações de trem da província adotaram é diminuir as luzes, que geralmente são muito fortes, para economizar eletricidade.

As redes sociais chinesas estão cheias de fotos e vídeos que mostram cenas bastante perturbadoras de pessoas sentadas em vagões de trem escuros em Chongqing ou andando pelas ruas sem iluminação.

Para economizar energia, as autoridades de Sichuan pediram que o ar-condicionado dos prédios nunca seja regulado para temperaturas abaixo de 26ºC.

Na cidade de Chongqing, as empresas tiveram que restringir o uso do aparelho nesta semana. Por causa disso, algumas delas recorreram a grandes blocos de gelo para ajudar a resfriar os escritórios, de acordo com relatos da mídia local.

Um senhor chinês idoso mostra um trigo murcho
Reuters
Produtor rural chinês mostra sua colheita afetada pela seca

E, fora dos escritórios, muitas pessoas têm preferido estabelecimentos debaixo da terra.

Restaurantes que funcionam em "cavernas" no subsolo estão ficando lotados.

A temperatura nestes restaurantes no subsolo ronda os 16 °C. Um luxo comparado aos 42ºC escaldantes do lado de fora, como relatou o jornal estatal China Daily, no último sábado.

Outro moradores se refugiam em abrigos subterrâneos, onde colocam esteiras no chão ou penduram redes nas vigas.

Mapa da China
BBC

Sofrimento nas fazendas

Algumas partes de Sichuan, que é uma das províncias que mais produzem energia hidrelétrica do país, tiveram falta de energia.

Os produtores agrícolas — e os animais — foram particularmente atingidos pela onda de calor e pela seca.

Em um vídeo que viralizou, um criador de galinhas em Sichuan é visto chorando porque todos os seus animais morreram durante a noite devido a falta de energia em um dia muito quente.

A agência meteorológica chinesa disse que o clima quente deve continuar pelo menos nos próximos três dias nessa região do país, bem como nas províncias ao redor de Xangai.

Mas não é apenas Sichuan que foi afetada: com menos chuva indo para o rio Yangtze, os níveis de água caíram muito da represa de Três Gargantas e, consequentemente, a energia foi reduzida em várias cidades da China, incluindo Xangai.

Senhora chinesa idosa colhe plantas de sua horta
LEX PLAVEVSKI/EPA-EFE/REX/Shutterstock
Outras províncias, como a de Jiangxi, também foram afetadas

Stephen McDonell, correspondente da BBC News na China, diz que a Barragem das Três Gargantas tem sido controversa desde a sua criação.

Para alguns, é uma maravilha da engenharia que gera grandes quantidades de eletricidade e controla as inundações do rio Yangtze. Mas seus detratores argumentam que ela submergiu cidades antigas e levou à realocação de milhões de pessoas e à eliminação de muitas espécies de peixes e animais.

No momento, diz McDonell, a seca fez com que não houvesse água suficiente para ter bons níveis de energia, necessários para as pessoas e para economia da região.

A escassez de água é tão terrível que relíquias budistas históricas que ficaram submersas por anos ressurgiram nas últimas semanas.


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