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Paquistão: perfil da nação muçulmana nascida da divisão da Índia

A capital do país, Islamabad, foi construída nos anos 1960, no norte do país, especialmente para abrigar o governo central

O Estado nacional do Paquistão, de maioria muçulmana, nasceu da divisão do subcontinente indiano em 1947, ao término do domínio colonial britânico. Desde então, o país enfrentou graves crises políticas internas e se envolveu em conflitos regionais.

O Paquistão foi inicialmente criado para atender às demandas da população muçulmana da Índia por um país próprio. Como os muçulmanos da região distribuíam-se, primordialmente, nos extremos oeste e leste da então colônia britânica da Índia, após a independência, o Estado paquistanês ficou dividido em duas partes: uma à oeste da Índia, chamada de Paquistão Ocidental, e outra, menor, a leste, o Paquistão Oriental. Em 1971, a parte leste, onde se falava a língua bengali, desligou-se do Paquistão Ocidental, com a ajuda da Índia, e tornou-se o independente Bangladesh.

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Islamabad, capital do Paquistão, foi construída na década de 1960 para abrigar o governo do país

O desenvolvimento do Paquistão tem sido prejudicado pela violência política de grupos islamistas e pela estagnação econômica. As relações com seus vizinhos Índia e Afeganistão sempre foram marcadas por tensões e confrontos armados. O país lutou três guerras contra a Índia, em 1945, 1965 e 1971. Enquanto o último foi decorrente da independência de Bangladesh, os dois primeiros ocorreram em torno do disputado território da Caxemira, cujo status ainda hoje é fonte de tensão entre Islamabad e Nova Délhi.

O Paquistão é uma potência nuclear fora do âmbito do acordo de não-proliferação nuclear da ONU, tendo anunciado a realização de bem-sucedidos testes em 1998. O país também esteve no centro dos esforços da comunidade internacional contra o regime do Taliban no Afeganistão, que até os atentados de 11 de setembro de 2001 contra os Estados Unidos era reconhecido pelo governo paquistanês.

A capital do país, Islamabad, foi construída nos anos 1960, no norte do país, especialmente para abrigar o governo central. A maior cidade paquistanesa é Karachi, um porto no sul, seguida de Lahore, localizada ao norte e considerada uma espécie de capital cultural do Paquistão.

FATOS

LÍDERES

Presidente: Arif Alvi

O Paquistão é uma república parlamentarista, onde o primeiro-ministro detém o poder de comandar o governo. Presidentes, no entanto, geralmente exercem um papel importante em momentos de crises constitucionais. Arif Alvi é um antigo integrante do partido governista Pakistan Thereek-e-Insaf (PTI), tendo servido dois mandatos no Parlamento do país. Ele foi eleito presidente pelo Parlamento em setembro de 2018, substituindo Mamnoon Hussain, cujo mandato de cinco anos havia chegado ao fim.

Primeiro-ministro: Shehbaz Sharif

Shehbaz Sharif, um político experiente, de uma família industrial de classe média alta, da região do Punjab, a prvíncia mais populosa do Paquistão. Sharif é presidente do partido PML (Liga Muçulmana do Paquistão) e por três mandatos foi o representante do Punjab junto ao governo, tendo ocupado o cargo pela primeira vez em 1997. Em 1999, após o golpe de Estado, Sharif se exilopu com a família na Arábia Saudita, fugindo da perseguição política. Ele retornou ao Paquistão em 2007 e edois anos depois, com a vitória do PML nas eleições gerias, ele voltou a ocupar o ministério para o Punjab, cargo que manteve até 2018 quando seu partido foi derrotado nas eleições gerais.

Ele assumiu a presidência do partido depois que o então presidente - seu irmão, Nawaz Sharif - se viu envolvido em escândalos de corrupção denunciados pelo famoso vazamento apelidado de Panama Papers. Em 2018, Shehbaz Sharif se tornou líder da oposição no Parlamento paquistanês.

Ele se tornou primeiro-ministro do Paquistão em abril de 2022 após a destituição do então PM, Imran Khan, por voto de não confiança do parlamento.

O ex-astro do críquete Imran Khan obteve sua vitória nas eleições gerais de 2018 com a promessa de acabar com a corrupção.

Imran Khan

Após atingir a posição de ídolo do críquete paquistanês, com fama internacional, Khan iniciou sua carreira política em 1996, com seu partido Pakistan Thereek-e-Insaf (PTI). A legenda ganhou destaque na política nacional a partir de 2013 e atacou o governo de Nawaz Sharif, da Liga Muçulmana do Paquistão, que acusava de corrupção.

Durante da campanha de 2018, Khan enfrentou ele mesmo acusações - que ele negou - de ser o candidato favorito do poderoso Exército paquistanês e que o serviço militar de inteligência trabalhava para desacreditar seus adversários.

O PTI obteve 116 das 272 cadeiras do Parlamento disputadas e uniu-se a vários partidos menores para formar uma maioria parlamentar. Críticos do premiê o acusam de docilidade com extremistas islâmicos e de ser vago sobre seus planos para atacar a pobreza, a estagnação econômica e outros problemas sociais profundos.

MÍDIA

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O Paquistão é considerado um país perigoso para jornalistas, situação que gera protestos no país

O Paquistão é um dos países mais perigosos para jornalistas, com 14 profissionais de mídia assassinados apenas em 2014. Tanto agentes do serviço de inteligência como membros de organizações militantes banidas são fazem ameaças a repórteres, segundo entidades que monitoram o setor.

O governo utiliza poderes legais e constitucionais para suprimir a liberdade de imprensa, e a legislação que envolve casos de blasfêmia já foi usada contra jornalistas. Críticos demonstraram preocupação quanto à natureza restritiva de um novo código de conduta para empresas de radiodifusão introduzida em 2015.

RELAÇÕES COM O BRASIL

Brasil e Paquistão nunca foram muito próximos, e o intercâmbio comercial entre as duas nações ainda é relativamente modesto. As relações diplomáticas foram iniciadas pouco depois da independência do país asiático, em 1948, e em 1952 os dois países abriram suas respectivas embaixadas.

O comércio bilateral somou US$ 539 milhões em 2018, ano em que Brasília e Islamabad estabeleceram um Acordo Básico de Cooperação Técnica. Segundo o Itamaraty, o setor de defesa é considerado um "relevante campo de cooperação" entre os governos brasileiro e paquistanês. Em 2004, o então presidente Pervez Musharraf realizou uma visita oficial ao Brasil.

LINHA DO TEMPO

Importantes datas na história do Paquistão:

2500 BC - A região da Índia e do Paquistão abriga várias antigas civilizações e impérios.

Século 17 - Os britânicos chegam à região e estabelecem postos comerciais sob controle da empresa The British East India Company. Em meados do século 19, os britânicos controlam a maior parte do subcontinente indiano.

1906 - Liga Muçulmana é criada, como um fórum para defender o separatismo da Índia muçulmana.

1940 - Liga Muçulmana endossa a ideia de um Estado separado para os muçulmanos da Índia após um futuro fim do domínio colonial britânico.

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A mesquita Badshahi, erguida no século 17 em Lahore, é um grande símbolo da fé muçulmana no país

1947 - O Estado muçulmano englobando Paquistão Oriental e Paquistão Ocidental é criado, como resultado da divisão da Índia ao final do domínio britânico. Centenas de milhares de pessoas morrem numa situação de violência comunitária disseminada, entre hindus e muçulmanos, e milhões ficam desabrigados.

1948 - Muhammed Ali Jinnah, líder fundador do Paquistão, morre. Primeira guerra contra a Índia pela região da Caxemira.

1965 - Segunda guerra entre Índia e Paquistão pela Caxemira.

1970 - Vitória da separatista Liga Awami nas eleições do Paquistão Oriental leva a tensões entre a região e o Paquistão Ocidental.

1971 - O Paquistão Oriental tenta se tornar independente, o que leva a uma guerra civil paquistanesa. A Índia intervém do lado do Paquistão Oriental, que acaba se separando e se tornando Bangladesh.

1972 - O acordo de paz de Simla define uma nova fronteira na Caxemira.

1973 - O populista Zulfiqar Ali Bhutto torna-se primeiro-ministro.

1988 - O PPP, partido de Benazir Bhutto, filha dke Zulfiqar Ali, vence as eleições gerais.

1990 - Benazir Bhutto é afastada do cargo, sob acusação de incompetência e corrupção.

1991 - O primeiro-ministro conservador Nawaz Sharif inicia programa de liberalização econômica. A sharia, lei islâmica, é formalmente incorporada ao código legal do país.

1993 - Sharif renuncia sob pressão dos militares. Eleição geral coloca Benazir Bhutto novamente no poder.

1997 - Nawaz Sharif volta ao cargo de premiê depois da vitória eleitoral da Liga Muçulmana.

1998 - Após a Índia realizar testes nucleareas, o Paquistão conduz seus próprios testes, bem-sucedidos.

1999 - Abril - Benari Bhutto e seu marido são condenados à prisão por corrupção, mas Bhutto permanece fora do país. Em maio, conflito entre Índia e Paquistão em Kargil, na parte da Caxemira sob controle indiano. Mais de mil pessoas são mortas em ambos os lados.

1999 - Outubro - General Pervez Musharraf toma o poder num golpe de Estado.

2000 - Nawaz Sharif é condenado à prisão perpétua, sob acusação de sequestro e terrorismo em suas ações para tentar impedir o golpe de 1999. Ainda em 2000, ele é perdoado pelos militares e deixa o Paquistão para se exilar na Arábia Saudita.

2001 - Agora autodenominado presidente, Musharraf apoia os Estados Unidos em sua luta contra o terrorismo islamista. Islamabad oferece suporte aos ataques contra o Taliban e a al-Qaeda no Afeganistão - até então, o Paquistão reconhecia o regime do Taliban. Os EUA retiram algumas das sanções impostas sobre o Paquistão depois de seus testes nucleares de 1998.

2002 - Presidente Musharraf declara banidos dois grupos militantes - Lashkar-e-Toiba e Jaish-e-Mohammad - e aumenta a pressão contra o extremismo religioso. No mesmo ano, Musharraf obtém mais cinco anos no cargo num polêmico plebiscito.

2003 - O Paquistão declara cessar-fogo na Caxemira, seguido da Índia. Os dois países concordam em retomar conexões aéreas a partir de 2004, depois de uma suspensão que durou dois anos.

2005 - Terremoto mata dezenas de milhares de pessoas na parte da Caxemira controlada pelo Paquistão.

2007 - Fevereiro - Paquistão e Índia assinam um acordo para reduzir o risco de uma guerra nuclear acidental.

2007 - Outubro - A ex-primeira-ministra Benazir Bhutto volta do exílio. Dezenas de pessoas são mortas num atentado suicida a bomba durante o desfile celebrando sua volta na cidade de Karachi.

2007 - Novembro - O ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif retorna do exílio no exterior.

2007 - Dezembro - Benazir Bhutto é assassinada num comício eleitoral em Rawalpindi.

2008 - Presidente Musharraf renuncia depois que os dois principais partidos governistas concordam em iniciar um processo de impeachment contra ele.

2011 - O líder da al-Qaeda, Osama bin Laden, é morto por forças especiais dos Estado Unidos na cidade paquistanesa de Abbottabad.

2013 - O Parlamento aprova o retorno de Nawaz Sharif ao cargo de primeiro-ministro, após sua Liga Muçulmana vencer as eleições parlamentares.

2018 - O ex-astro do críquete Imran Khan torna-se primeiro-ministro com a promessa de acabar com a corrupção e a tradição de dinastias políticas.

2022 - Imran Khan é afastado após voto de não confiança do parlamento paquistanês.

2022 - O líder da oposição, Shehbaz Sharif, se torna primeiro-ministro do Paquistão.

- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-56919994


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