ARGENTINA

Cristina Kirchner denuncia pedido de prisão como perseguição política

A vice-presidente argentina, que tem foro especial por prerrogativa de função, solicitou nesta terça-feira (23/8) uma ampliação de sua declaração preliminar, mas o pedido foi negado

A vice-presidente argentina Cristina Kirchner, acusada de corrupção, qualificou nesta terça-feira (23) o pedido de 12 anos de prisão feito contra ela como uma perseguição judicial para afastá-la da política.

"Nada, absolutamente nada do que disseram (os promotores) foi provado", disse Kirchner em um discurso de mais de duas horas transmitido pelas rede sociais de seu gabinete no Senado.

Acusada junto a outras doze pessoas pelos crimes de associação criminosa e improbidade administrativa, o Ministério Público solicitou também na segunda-feira, em sua última audiência de acusações, a inabilitação política vitalícia da vice-presidente.

Durante o discurso, centenas de apoiadores se reuniram em frente à sua casa em Buenos Aires e depois, em frente ao Congresso.

"Não é um julgamento contra mim, é um julgamento contra o peronismo, os governos nacionais e populares", afirmou a advogada de 69 anos, que foi presidente da Argentina entre 2007 e 2015.

A vice-presidente, que tem foro especial por prerrogativa de função, solicitou nesta terça-feira uma ampliação de sua declaração preliminar, mas o pedido foi negado pelo tribunal que considerou que essa fase já está concluída e que a vice-presidente poderá expor seus argumentos nas alegações da defesa, a partir de 5 de setembro.

"São 12 anos (de pedido de prisão), os 12 anos do melhor governo que a Argentina teve nas últimas décadas, por isso pedem 12 anos. Por isso, vão me estigmatizar e condenar. Se eu nascesse 20 vezes, faria o mesmo 20 vezes", afirmou.

"Querem vingança, disciplinar a classe política para que ninguém se atreva a fazer o mesmo de novo", afirmou Kirchner.

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Acusação 

A acusação contra Kirchner remonta a seus dois mandatos como presidente (2007-15) e o anterior (2003-2007), de seu marido Néstor Kirchner, que morreu em 2010.

Os autos a descrevem como líder de uma associação criminosa, com a qual supostamente orientou a atribuição de licitações de obras públicas na província de Santa Cruz (sul), seu reduto político, para favorecer o empresário Lázaro Báez. O Ministério Público estimou em um bilhão de dólares a quantia que teria sido desviada pelo Estado.

O processo judicial começou em 2019 e estima-se que a decisão dos juízes seja conhecida até final do ano. Em caso de condenação, Kirchner pode recorrer. Enquanto não houver uma sentença da Suprema Corte e devido à sua imunidade política como vice-presidente e presidente do Senado, ela não será presa, nem ficará inabilitada.

Kirchner foi afastada em várias ocasiões por supostos delitos enquanto presidente e ainda responde a cinco processos.

Solidariedade 

No final de sua intervenção, Kirchner apareceu na sacada do Congresso para cumprimentar os manifestantes que a esperavam. Além destas demonstrações de apoio, a vice-presidente recebeu a solidariedade de alguns líderes de esquerda da região, como os ex-presidentes Evo Morales, da Bolívia, e Dilma Rousseff, do Brasil.

"Manifesto minha mais incondicional solidariedade à vice-presidenta da Argentina e presidenta do Senado deste país irmão", escreveu Dilma em sua conta no Twitter.

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