Reino Unido

Reino Unido: Liz Truss escolhe gabinete marcado pela diversidade

Pouco antes das nomeações, diante de 10 Downing Street, sede do governo britânico, Truss buscou transmitir otimismo e elogiou Boris Johnson, em pronunciamento à nação como nova chefe do país

Rodrigo Craveiro
postado em 07/09/2022 06:00
 (crédito: Jane Barlow/AFP)
(crédito: Jane Barlow/AFP)

No primeiro dia de governo, a nova primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, 47 anos, surpreendeu ao escolher um gabinete marcado pela diversidade. Ela anunciou o discreto James Cleverly, 53, como ministro das Relações Exteriores; a superconservadora Suella Braverman, 42, para a pasta do Interior; Theresa Coffrey, 50, como vice-premiê e ministra da Saúde; e o ultraliberal Kwasi Kwarteng, 47, para as Finanças. Pela primeira vez, o Reino Unido não terá nenhum homem branco nos quatro principais postos do governo.

Kwarteng, filho de pai economista e de mãe advogada, ambos imigrantes de Gana, terá a tarefa de livrar os britânicos dos efeitos da crise econômica, como o alto custo de vida e a disparada dos preços da energia. Braverman, por sua vez, tem origem indiana e pais que emigraram para Londes na década de 1960, a partir da África. Cleverly será o primeiro não branco a ocupar uma pasta no governo. Segundo a agência de notícias France Presse, quase todos os ministros das quatro posições-chave apontadas por Truss estudaram em escolas da elite britânica, do exclusivo internato para meninos de Eton às prestigiosas universidades de Oxford e Cambridge.

Pouco antes das nomeações, diante de 10 Downing Street, sede do governo britânico, Truss buscou transmitir otimismo e elogiou Boris Johnson, em pronunciamento à nação como nova chefe do país. "Boa tarde. Acabo de aceitar o gentil convite de Sua Majestade a Rainha para formar um novo governo. Deixe-me prestar homenagem ao meu antecessor. Boris Johnson entregou o Brexit e a vacina contra a covid-19, além de ter enfrentado a agressão russa. A história o verá como um premiê imensamente consequente", declarou. "Estou honrada em assumir essa responsabilidade em um momento vital para o nosso país. (...) Por mais forte que seja esta tempestade, sei que o povo britânico é mais forte (...). Juntos podemos vencer a tempestade", acrescentou, ao enumerar a economia, a saúde pública e a crise energética como as três prioridades de seu governo. 

Pela manhã, Truss reuniu-se com a rainha Elizabeth II no Castelo de Balmoral, a residência de verão da monarca na Escócia, quase 800km ao norte de Londres. Funcionários da Casa Real divulgaram uma foto em que ambas apertam as mãos. 

Anthony Glees, professor emérito da Universidade de Buckingham (Reino Unido), afirmou ao Correio que Truss tornou-se chefe de governo em um momento de grave crise no país. "A economia está entrando em recessão, a inflação deverá atingir os 20%  em janeiro, o custo da energia está forçando os mais pobres a escolherem entre o aquecimento e a comida", disse. Ele considerou o primeiro discurso de Truss como premiê como "um vazio absurdo". "Ela começou o pronunciamento com elogios a Boris Johnson. Acredito que Truss governará da mesma forma que Boris, ao lado de um grupo inexperiente de partidários do Brexit duro (divórcio entre Reino Unido e União Europeia)", comentou. 

Para Glees, as primeiras impressões de Truss como primeira-ministra não são as melhores. "Ela insiste que será ousada em cortar impostos, fomentar a economia e lidar com a crise energética. Terá uma tarefa enorme pela frente. A União Europeia teme que Truss seja um desastre", advertiu o estudioso. Outra questão que perseguirá a nova premiê será a legitimidade. Especialista em Constituição pela Faculdade de Política Pública da University College London, Robert Hazell lembrou à reportagem que Truss venceu a eleição pela liderança do Partido Conservador por uma margem estreita.

"Além disso, não foi a primeira escolha dos parlamentares conservadores. Ela enfrenta uma agenda assustadora, tanto interna quanto internacionalmente. Se falhar, servirá como primeira-ministra por um período ainda menor do que Boris Johnson", afirmou ele.

Nick Turnbull, professor de política da Universidade de Manchester, concorda com Hazell. "Politicamente, Truss teve apenas o apoio minoritário entre os conservadores. Então, ela precisará olhar sua retaguarda. Além de não ser popular, a nova premiê terá que herdar o fato de que Johnson deixou o poder em meio a pesquisas que mostram o seu governo conservador bem atrás dos trabalhistas. Ela é a quarta pessoa a ocupar o posto de premiê desde 2015; por isso, suas chances de sobrevivência não parecem muito boas", disse ao Correio. No entanto, Turnbull acha que Truss possa se beneficiar da enorme maioria eleitoral e terá de calcular quantos assentos pode perder ao escolher suas políticas, sem sacrificar essa maioria. 

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Eu acho...

 (crédito: Arquivo pessoal)
crédito: Arquivo pessoal

"Liz Truss é um Boris Johnson de saias? Não, no sentido de que ela é muito mais dependente de homens e mulheres adeptos do Brexit duro. Faltam a ela carisma e habilidade para usar as palavras de forma eficiente. Ela é uma nova Margaret  Thatcher. Não, apesar de que adoraria. Thatcher acreditava no vasto mercado interno europeu. Ela apostava em combater a inflação, antes de cortar impostos, e era uma mulher extremamente inteligente. Não há evidências de que Truss tenha uma mente científica forte."

Anthony Glees, professor emérito da Universidade de Buckhingham (Reino Unido)


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