Estados Unidos

Furacão Ian deixa rastro de destruição na Flórida e em Cuba

Tempestade de categoria 4 na escala Saffir-Simpson provoca inundações, destrói casas e deixa moradores ilhados. Blecaute afeta mais de 1 milhão de residências. Barco com migrantes naufraga e 23 estão desaparecidos

Rodrigo Craveiro
postado em 29/09/2022 06:00
 (crédito: Jose Romero/NOAA/AFP)
(crédito: Jose Romero/NOAA/AFP)

Ian tocou o solo da Flórida, na Ilha Cayo Costa, às 15h05 de ontem (16h05 em Brasília), com ventos de 240km/h. Um dos mais poderosos furacões registrados nos Estados Unidos — de categoria 4 na escala Saffir-Simpson (que vai até 5) — elevou o nível da água em até 5m, provocou inundações que cobriram casas e carros, arrastou barcos e deixou moradores presos. Mais de 1 milhão de residências ficaram sem energia elétrica. "Estamos sob a água. Nossa casa foi inundada. Felizmente, a eletricidade acabou antes. Os cachorros estão sobre a pia e eu sobre o balcão", relatou uma moradora de Fort Myers, na costa oeste da Flórida, em um grupo de pedido de ajuda no Facebook. "Esta é, de longe, a pior tempestade que já vi", admitiu Kevin Anderson, prefeito da cidade.

De acordo com o Centro Nacional de Furacões (NHC), Ian "está atingindo a Península da Flórida com tempestades catastróficas, ventos e inundações". "Essa é uma tempestade da qual falaremos por muitos anos", garantiu o diretor do Serviço Nacional de Meteorologia (NWS), Ken Graham. Ron DeSantis, governador da Flórida, conversou com o presidente dos EUA, Joe Biden, e discutiu meios de agilizar a ajuda federal. "É uma grande tempestade", disse DeSantis. "Claramente, é um furacão muito poderoso, que terá consequências de longo alcance." À noite, Ian perdeu um pouco de força e se tornou furacão de categoria 3.

Durante a madrugada de ontem, horas antes da chegada de Ian, dez condados receberam ordens para remover 2,5 milhões de habitantes. As autoridades da Flórida mobilizaram mais de 42 mil eletricistas, 7 mil homens da Guarda Nacional e 179 aeronaves, além de carros anfíbios. 

Em Naples, a 70km de Fort Myers, o empreiteiro Jeffrey Kepka, 41 anos, filmou o momento em que a água invadiu a garagem subterrânea de um prédio de 30 andares. "O edifício está situado na costa. A tempestade fez com que a maré subisse bastante. A água varreu os carros. Os donos se refugiaram na parte norte da Flórida", contou Kepka ao Correio. "Por se mover muito lentamente, o furacão está causando muitas enchentes na costa. O furacão Irma, em 2017, foi muito ruim, mas nunca houve uma tempestade como Ian."

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pri-2909-furacao (foto: pri-2909-furacao)

Na mesma cidade, o bancário Matt E. (ele não quis ter o sobrenome divulgado), 23, também disse à reportagem que Ian "é, de longe, o pior furacão que enfrentou". "Estamos seguros, finalmente o pior da tempestade passou agora à noite. Mas por aqui há grandes inundações. Durante a tarde, tivemos ventos intensos e chuva torrencial. A eletricidade foi cortada em boa parte da região, e os serviços de telefonia celular estão bem precários. As áreas baixas ficaram debaixo d'água. Como eu e minha família estamos a 3 metros acima do nível do mar, nos livramos das inundações", comentou. 

  • Palmeiras se dobram com a força do vento na Baía de Sarasota, onde árvores também foram arrancadas Sean Rayford/Getty Images/AFP
  • Com água acima da cintura, bombeiros de Naples atuam no resgate Naples Fire-Rescue Department

Insólito

Também em Naples, bombeiros foram filmados em operações de resgate com a água acima da cintura. A Guarda Costeira informou que um barco com 27 migrantes cubanos afundou perto de Key West. Quatro pessoas conseguiram nadar até a costa e foram resgatadas com vida. Até o fechamento desta edição, 23 estavam desaparecidas. O furacão Ian produziu imagens curiosas e assustadoras. Na Baía de Tampa, a água foi praticamente "sugada" pela tempestade. Em Fort Myers, um morador flagrou um tubarão em uma rodovia tomada pela água do mar. Em São Petersburgo, perto da Baía de Tampa, os funcionários de um jardim botânico mantiveram mais de 10 flamingos dentro de um banheiro. 

Jornalistas da agência de notícias France-Presse relataram que as ruas de Punta Gorda, no sul, esvaziaram-se repentinamente na tarde de ontem, enquanto o céu ficava cinza e as chuvas se intensificavam. No momento em que Ian se deslocava a 40km da cidade, os ventos arrancavam os galhos de palmeiras e chacoalhavam postes de energia elétrica. 

A apreensão tomou conta inclusive de quem vive na costa leste da Flórida, longe do impacto direto de Ian. A advogada goiana Ludmilla Vieira Costa Campos, 39 anos, mora desde 2019 em Hallendale, a 232km de Fort Myers. "É a segunda vez que vivo a experiência da passagem de um furacão. O primeiro foi o Dorian, em agosto e setembro de 2019. Desde o início da semana, tenho acompanhado os noticiários para ter a dimensão dos danos que poderíamos enfrentar", contou ao Correio. "Estamos a quatro horas de Tampa, e as previsões por aqui são de danos comuns causados por chuvas torrenciais e muito vento, como a derrubada de árvores, a alta da maré e inundações em algumas regiões próximas do mar." 

De acordo com Ludmilla, alguns moradores de Hallendale preferiram armazenar comida e água, em escassez em mercados da região. "Tivemos o cuidado em retirar todos os móveis da sacada, uma vez que os ventos tendem a aumentar a velocidade, com a aproximação do furacão", relatou. 

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Destruição em Cuba

 (crédito: Yamil Lage/AFP)
crédito: Yamil Lage/AFP

A passagem do furacão Ian por Cuba também causou inundações e deixou milhões de pessoas sem eletricidade. Depois de 18 horas de apagão geral, a energia elétrica começou a voltar lentamente aos circuitos do país, os quais entraram em colapso devido à tempestade, que deixou dois mortos. "Chegou!", gritaram moradores de Havana Velha, que correram para verificar o estado dos alimentos guardados em seus congeladores. O mesmo aconteceu em Centro Havana, outro município da capital, de 2,1 milhões de habitantes.

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