O homem que tentou assassinar a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, nasceu no Brasil em 1987 e chegou ainda criança a Buenos Aires, em meados dos anos noventa.
Filho de uma argentina e de um chileno, Fernando Andrés Sabag Montiel, de 35 anos, foi preso na quinta-feira (01/09) após o ataque e a polícia argentina confirmou sua identificação.
As imagens do ato foram filmadas por seguidores da ex-presidente do país e reproduzidas pelas emissoras de televisão locais, mostrando o momento em que Sabag Montiel aponta a pistola Bersa Thunder, calibre 32, para o rosto de Kirchner.
Segundo investigações preliminares, a arma teria chegado a ficar a apenas 20 centímetros da ex-presidente e o brasileiro teria apertado o gatilho duas vezes. Mas os disparos, da arma carregada com cinco balas, falharam.
Sabag Montiel foi pego pelos apoiadores da vice-presidente que viram sua ação e o entregaram à polícia, que estava no local, nos arredores do edifício onde Kirchner mora, no bairro da Recoleta, em Buenos Aires.
Sabag Montiel tinha chegado ao local se passando por um apoiador, usando uma touca preta e uma máscara de proteção contra a covid-19.
Na hora em que se aproxima de Kirchner, ele tira a máscara e aponta a arma. A ação foi percebida pelos manifestantes que agiram para detê-lo.
Avanço das investigações
Na primeira etapa da investigação, a Polícia Federal esteve, durante a madrugada, no endereço que aparece no documento do acusado, que seria a residência de Sabag Montiel.
No local, porém, os moradores colocaram um pequeno cartaz, escrito à mão, dizendo "Fernando não mora aqui".
O endereço corresponderia a um pequeno salão de beleza e o inquilino do imóvel que seria do brasileiro disse não conhecê-lo.
Na madrugada desta sexta-feira, ao ver as notícias na imprensa argentina, um homem se apresentou à polícia e disse alugar um pequeno conjugado, de sua propriedade, para o brasileiro na localidade de San Martín, a cerca de duas horas do centro de Buenos Aires.
O proprietário declarou à polícia que alugou o imóvel com a garantia de três automóveis, que seriam táxis, dada pelo inquilino e que não teria tido problemas com o acusado.
A vida de Sabag Montiel passou a ser um dos principais assuntos na Argentina, após o atentado realizado pouco depois das nove da noite, quando Cristina chegava em casa, após uma sessão no Senado, que é presidido por ela.
Desde aquele momento, o esquema de segurança da ex-presidente passou a ser questionado por especialistas que apontaram para a vulnerabilidade a que ela estava exposta.
Na casa onde morava o homem, a Polícia Federal encontrou caixas de balas de armas de diferentes calibres. Segundo a Polícia Federal, ele não tinha autorização para porte de armas.
Sabag Montiel fez, recentemente, duas aparições na emissora popular Cronica TV. A mais recente foi em agosto, quando uma reportagem nas ruas de Buenos Aires pergunta a populares sobre o que pensavam a respeito da distribuição de benefícios sociais por parte do governo. Sabag Montiel disse ser contra programas sociais.
Em suas redes sociais, identificado como Fernando Salim Montiel, ele comenta sobre a entrevista realizada na Avenida Corrientes, no centro de Buenos Aires, dizendo não ser "xenófobo" e volta a justificar porque seria contrário à ajuda social.
A imprensa tem exibido fotos com vários estilos do acusado - versões com cabelos longos e barba e cabelos curtos.
Segundo informações da polícia, Sabag Montiel se apresentava nas redes sociais como Fernando Salim ou Tedi e era seguidor de grupos "associados ao ódio e ao radicalismo".
Nas fotos em suas redes sociais, ele mostrava uma de suas tatuagens, associada ao "Sol Negro" (Schwarze Sonne), símbolo que foi apropriado pelo nazismo e é frequentemente associado a neonazistas atualmente.
Em março do ano passado, ele teve passagem pela polícia de Buenos Aires, quando foi flagrado com uma faca e um carro sem placa. Ele, então, declarou que a faca era para "proteção pessoal". O episódio levou a Polícia Federal a informar que Sabag Montiel tem por isso "antecedentes policiais".
Sabag Montiel também já teria sido acusado por maus tratos contra animais, apesar de ter um cachorro, cujo nome é Moro, segundo informou o portal do jornal Ambito Financiero, de Buenos Aires.
De acordo com a polícia, o acusado estava registrado como motorista e pela descrição do serviço trabalharia em aplicativos de transporte.
Nenhum familiar tinha feito declarações públicas sobre o acusado.
Um advogado se apresentou nas dependências da Polícia Federal, no bairro de Palermo, informando ser seu defensor após ter sido contratado por familiares, mas evitou dar mais detalhes. O caso sacudiu a política argentina e provoca comoção nacional.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62765980
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