CHINA

5 razões pelas quais a economia da China está em apuros

A economia da China está desacelerando à medida que se adapta a uma estratégia de covid zero e enfraquece a demanda global

BBC
Suranjana Tewari - Da BBC News
postado em 09/10/2022 09:07

A economia da China está desacelerando à medida que se adapta a uma estratégia de covid zero e enfraquece a demanda global.

Os números oficiais de crescirmento para o trimestre de julho a setembro são esperados para breve - se a segunda maior economia do mundo se contrair, isso aumenta as chances de uma recessão global. A meta de Pequim - uma taxa de crescimento anual de 5,5% - está agora fora de alcance, embora as autoridades tenham minimizado a necessidade de atingi-la.

A China evitou, por pouco, a contração no trimestre de abril a junho (teve um crescimento de 0,4%). Para este ano, alguns economistas não esperam expansão econômica.

O país pode não enfrenta alta inflação, como é o caso dos Estados Unidos e do Reino Unido, mas tem outros problemas: a "fábrica do mundo" de repente encontrou menos clientes para seus produtos, tanto no mercado interno quanto no internacional. As tensões comerciais entre a China e as principais economias, como os Estados Unidos, também estão prejudicando o crescimento.

E a moeda chinesa, o yuan, está a caminho de ter seu pior ano em décadas, uma vez que despenca em relação ao dólar americano. Uma moeda fraca assusta os investidores, alimentando a incerteza nos mercados financeiros. Também torna difícil para o Banco Central injetar dinheiro na economia.

Tudo isso acontece em um momento em que as apostas são especialmente altas para o presidente chinês, Xi Jinping - ele deve garantir um terceiro mandato, algo sem precedentes, no Congresso do Partido Comunista (PCC), que começa em 16 de outubro.

Então, o que exatamente deu errado?

1. Política de covid zero está causando estragos

Os surtos de covid-19 em várias cidades, incluindo centros de manufatura como Shenzhen e Tianjin, estão prejudicando a atividade econômica em todos os setores.

As pessoas também não estão gastando dinheiro em coisas como alimentos e bebidas, varejo ou turismo, colocando os principais serviços sob pressão.

Do lado da manufatura, a atividade fabril parece ter voltado a subir em setembro, de acordo com a Agência Nacional de Estatísticas. Essa recuperação pode ter ocorrido porque o governo está gastando mais em infraestrutura.

No entanto, isso veio depois de dois meses em que a manufatura não se expandiu. E levantou questões, especialmente desde que uma pesquisa privada mostrou que a atividade fabril realmente caiu em setembro, com a demanda atingindo a produção, novos pedidos e empregos.

A demanda em países como os Estados Unidos também diminuiu por causa das taxas de juros mais altas, da inflação e da guerra na Ucrânia.

Especialistas dizem que Pequim poderia fazer mais para estimular a economia, mas que há poucas razões para fazer isso até que a pandemia termine. "Não há muito sentido em injetar dinheiro em nossa economia se as empresas não puderem se expandir ou as pessoas não puderem gastar o dinheiro", disse Louis Kuijs, economista-chefe da S&P Global Ratings para a Ásia.

2. Pequim não está fazendo o suficiente

O presidente chinês Xi Jinping acena depois de falar durante uma cerimônia para homenagear as contribuições para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Inverno de Pequim 2022 no Grande Salão do Povo em 8 de abril de 2022 em Pequim, China.
Getty Images
Xi Jinping deve garantir um terceiro mandato sem precedentes no Congresso do Partido Comunista

Pequim interveio - em agosto anunciou um plano de 1 trilhão de yuans (R$ 733 bilhões) para impulsionar pequenas empresas, infraestrutura e imóveis.

Mas as autoridades podem fazer muito mais para estimular os gastos de forma a atingir as metas de crescimento e criar empregos.

Isso inclui investir mais em infraestrutura, facilitar as condições de empréstimo para compradores de imóveis, promotores imobiliários e governo local e isenções fiscais para famílias.

"A resposta do governo à fraqueza da economia foi bastante modesta em comparação com o que vimos durante crises econômicas anteriores", disse Kuijs.

3. O mercado imobiliário da China está em crise

A fraca atividade imobiliária e o sentimento negativo no setor, sem dúvida, desaceleraram o crescimento.

Isso atingiu duramente a economia porque o mercado imobiliário e outras indústrias que contribuem para ela respondem por até um terço do Produto Interno Bruto (PIB) da China.

"Quando a confiança é fraca no mercado imobiliário, isso faz com que as pessoas se sintam inseguras sobre a situação econômica geral", disse Kuijs.

Os compradores de casas têm se recusado a fazer pagamentos de hipotecas em prédios inacabados e alguns duvidam que suas casas sejam concluídas. A demanda por novas residências diminuiu, e isso reduziu a necessidade de importação de commodities usadas na construção.

Apesar dos esforços de Pequim para sustentar o mercado imobiliário, os preços das casas em dezenas de cidades caíram mais de 20% neste ano.

Com os construtores imobiliários sob pressão, analistas dizem que as autoridades podem ter que fazer muito mais para restaurar a confiança no mercado imobiliário.

4. As mudanças climáticas estão piorando as coisas

O clima extremo está começando a ter um impacto duradouro nas indústrias da China.

Uma intensa onda de calor, seguida por uma seca, atingiu a Província de Sichuan, no sudoeste do país, e a cidade de Chongqing, no cinturão central, em agosto.

A demanda por ar-condicionado pressionou a rede elétrica em uma região que depende quase inteiramente de energia hidrelétrica.

Fábricas, incluindo grandes empresas como a fabricante de iPhones Foxconn e a Tesla, foram forçadas a reduzir a produção ou fechar completamente.

O departamento de estatísticas da China disse em agosto que apenas os lucros da indústria de ferro e aço caíram mais de 80% nos primeiros sete meses de 2022, em comparação com o mesmo período do ano passado.

Pequim promoveu então um resgate de dezenas de bilhões de dólares para apoiar empresas de energia e agricultores.

5. Os gigantes da tecnologia da China estão perdendo investidores

Uma repressão regulatória aos titãs da tecnologia da China - que já dura dois anos - não está ajudando.

Tencent e Alibaba relataram sua primeira queda na receita no trimestre mais recente - os lucros da Tencent caíram 50%, enquanto o lucro líquido do Alibaba caiu pela metade.

Um empreendimento imobiliário em Nanjing, província de Jiangsu, China, em 1º de setembro de 2022.
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A crise no mercado imobiliário da China está prejudicando o crescimento

Dezenas de milhares de jovens trabalhadores perderam o emprego - somando-se a uma crise profissional em que uma em cada cinco pessoas de 16 a 24 anos está desempregada. Isso pode prejudicar a produtividade e o crescimento da China no longo prazo.

Os investidores também estão sentindo uma mudança em Pequim - algumas das empresas privadas mais bem-sucedidas da China estão sob maior escrutínio à medida que o poder de Xi Jinping cresce.

Enquanto as empresas estatais parecem estar ganhando popularidade, os investidores estrangeiros estão tirando dinheiro da mesa.

O Softbank, do Japão, retirou uma enorme quantidade de dinheiro do Alibaba, enquanto a Berkshire Hathaway, de Warren Buffet, está vendendo sua participação na fabricante de veículos elétricos BYD. A Tencent teve mais de US$ 7 bilhões (R$ 36,5 bilhões) em investimentos retirados apenas no segundo semestre deste ano.

E os Estados Unidos estão reprimindo as empresas chinesas listadas no mercado de ações americano.

"Algumas decisões de investimento estão sendo adiadas e algumas empresas estrangeiras estão buscando expandir a produção em outros países", disse a S&P Global Ratings em nota recente.

O mundo está se acostumando com o fato de que Pequim pode não ser tão aberta aos negócios quanto costumava ser - mas Xi Jinping está arriscando o sucesso econômico que impulsionou a China nas últimas décadas.

Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63143394

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