EQUADOR

Detentos voltam a se enfrentar após rebelião prisional que deixou 16 mortos

Mais de 400 detentos morreram nos últimos dois anos nas prisões do Equador, em chacinas apavorantes com presidiários decapitados a golpes de facão e corpos carbonizados

Novos "distúrbios" foram registrados nesta terça-feira (4) em um presídio do Equador após os confrontos de segunda com facas e armas de fogo entre detentos que deixaram ao menos 16 mortos - entre eles supostamente um chefe do narcotráfico - e 43 feridos, informaram as autoridades prisionais.

Um dos 44 feridos registrados no último balanço faleceu, aumentando o número de mortos para 16 nesta terça-feira, de acordo com o SNAI, organismo estatal encarregado do sistema prisional.

Foram ouvidas "detonações" no pavilhão de média segurança do presídio de Latacunga, localidade ao sul de Quito, informou o SINAI, que não reportou sobre novas vítimas.

O "pessoal administrativo" foi evacuado, acrescentou.

A crise estourou na segunda-feira no mesmo estabelecimento prisional onde já foram registradas duas chacinas em 2021, quando começou o derramamento de sangue nos presídios equatorianos, devido a disputas do crime organizado.

Mais de 400 detentos morreram nos últimos dois anos nas prisões do Equador, em chacinas apavorantes com presidiários decapitados a golpes de facão e corpos carbonizados.

Um contingente de 600 militares e policiais entrou para tentar retomar o controle do presídio, segundo autoridades, enquanto familiares angustiados se concentram nos arredores à espera de notícias de seus entes queridos.

"Estou procurando meu irmão, Carlos Bravo. Cheguei às seis da manhã. Ligaram para meu telefone para dizer que fosse reconhecer meu irmão. Não sei de nada, não tem uma lista, ninguém me diz nada", contou à AFP uma mulher com os olhos inchados de tanto chorar, que não quis se identificar.

O presidente do Equador, Guillermo Lasso, enviou na noite desta segunda uma "mensagem de condolências e solidariedade" aos familiares das vítimas no moderno presídio de Latacunga, que tem 4.300 detentos, vários deles de alta periculosidade.

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"El Patrón" 

Desta vez, a violência teria sido provocada pelo assassinato de Leandro Norero, um narcotraficante de 36 anos, conhecido pelo apelido "El Patrón".

"Do que pudemos depreender preliminarmente, o cidadão Leandro Norero estará entre as vítimas", disse Jorge Flores, vice-diretor do SNAI.

Dos presídios, quadrilhas como Los Chone Killers - à qual pertencia Norero -, Los Choneros, Los Lobos e Los Tiguerones gerenciam o narcotráfico. As organizações travam uma guerra dentro e fora das unidades prisionais pelo controle do negócio.

As autoridades trabalham na identificação dos corpos. "Depois das perícias (...) correspondentes será possível confirmar ou não" a morte de Norero, informou o Ministério Público pelo Twitter.

"El Patrón" foi detido em maio, sob acusações de narcotráfico e lavagem de dinheiro durante uma operação realizada em Guayaquil, o principal porto equatoriano, por onde sai parte importante da cocaína com destino à Europa e aos Estados Unidos.

Norero também era alvo de uma ordem de captura emitida no Peru.

Segundo o portal GK, especialista na violência prisional, Norero foi morto "no mesmo dia" em que seria denunciado por narcotráfico.

A rebelião começou após um ataque "orquestrado contra Norero e sua segurança, ao menos seis presos", disse o veículo, citando presos que falaram sob a condição do anonimato.

"El Patrón" "tem um longo histórico criminoso e sua liderança esteve em Los Ñetas,para depois fundar Los Chone Killers junto com o indivíduo conhecido como Trompudo", afirmou GK.

Sua provável morte pode desencadear novos confrontos entre detentos. Agora, "é preciso estar atentos porque isso pode ocorrer", informou o Ministério do Interior.

Com capacidade para 30.000 detentos, os presídios equatorianos têm uma superpopulação estimada em 1.900.

A guerra nas prisões se estende para as ruas de cidades como Guayaquil (sudoeste), onde há um grande complexo prisional, com 13.100 detentos.