Israel

Netanyahu reconquista o cargo de primeiro-ministro de Israel

Líder do partido Likud reconquista o cargo de primeiro-ministro, após sua coalizão obter 64 dos 120 assentos do Parlamento. País terá o governo mais à direita de sua história. Começam as negociações para a formação de gabinete

Rodrigo Craveiro
postado em 04/11/2022 06:00
 (crédito: Menahem Kahana/AFP)
(crédito: Menahem Kahana/AFP)

Benjamin Netanyahu está de volta. Dessa vez, para liderar o governo mais à direita na história de Israel — formado por aliados ultraconservadores e por religiosos. A coalizão liderada pelo Likud, partido de Netanyahu, conquistou 64 dos 120 assentos na Knesset (Parlamento). A aliança centrista construída pelo atual premiê interino Yair Lapid obteve 51 cadeiras. "O Estado de Israel está acima de todas as considerações políticas. Desejo a Netanyahu sucesso pelo bem do povo de Israel e pelo Estado de Israel", afirmou. Em comunicado, o gabinete de Lapid informou que o chefe da oposição deu instruções para preparar uma transição ordenada. Ex-membro do Likud, Gideon Saar advertiu que o governo israelense segue em direção a uma "coalizão de extremistas". 

"É hora de trazer a segurança de volta às ruas, restaurar a ordem, mostrar quem está no comando, é hora de matar um terrorista que realiza um ataque", disse o líder de extrema-direita Itamar Ben Gvir, chefe do partido Sionismo Religioso, que conseguiu a façanha de dobrar para 14 o número de assentos na Knesset. "O governo Lapid está chegando ao fim", acrescentou o aliado de Netanyahu e estrela das eleições deste ano.

O anúncio do resultado das urnas coincidiu com o acirramento da violência em Jerusalém e nos territórios ocupados. Ontem, três soldados israelenses ficaram feridos em um ataque a faca (veja foto) e quatro palestinos foram mortos em choques com as forças de Israel na Cisjordânia. 

Netanyahu tem, legalmente, um prazo de 42 dias para começar a formar o governo, após o pedido formal do presidente israelense, Isaac Herzog. No entanto, segundo a imprensa local, o bloco de Netanyahu não perdeu tempo e, antes mesmo do ritual protocolar, incumbiu Yariv Levin — um de seus principais aliados — para começar as tratativas que viabilizem uma forte coalizão. As negociações prometem ser complexas, especialmente com o partido Sonismo Religioso, que almeja ocupar os ministérios da Defesa e da Segurança Pùblica. 

De acordo com Eytan Gilboa, professor de comunicação política da Universidade Bar Ilan, em Ramat Gan (subúrbio de Tel Aviv), em todos os governos de coalizão anteriores, Netanyahu recrutou membros de centro-esquerda da Knesset para que ele não fosse o único líder moderado da direita. "Essa estratégia não deverá ocorrer dessa vez. No entanto, Netanyahu planeja assinar acordos de coalizão que limitariam o poder e a influência da extrema-direita. Isso poderia ser feito por meio de nomeações para cargos ministeriais menos importantes, além da insistência no acordo sobre políticas que a extrema-direita não teria que aceitar", disse. 

Mito

Em relação ao conflito palestino-israelense, Gilboa explicou que é um mito a crença de que a natureza dos governos israelenses determina as chances de paz na região. "Eles rejeitaram excelentes soluções sugeridas por governos de esquerda ou de centro em Israel, como os premiês Ehud Barak e Ehud Olmert. Mesmo com um governo muito mais moderado e com um partido árabe-israelense na coalizão, não havia muita chance à paz", comentou o especialista.

Ele recordou que, no ano passado, a Autoridade Palestina (AP) perdeu controle de grandes cidades da Cisjordânia, como Jenin e Nablus, enquanto o Hamas e a Jihad Islâmica tornaram-se muito populares ao operarem em Gaza. "isso tudo erodiu ainda mais uma AP em declínio. Se a AP e o Hamas não podem alcançar a paz entre eles, como esperar que possam fazê-lo com Israel? Sob a perspectiva israelense, não há liderança palestina com a qual negociar", acrescentou Gilboa. 

Professor de ciência política também da Universidade Bar Ilan, Gerald Steinberg afirmou que Netanyahu manteve o apoio de mais de metade do eleitorado israelense e foi bem sucedido em unir diferentes facções. "Em contraste, seus oponentes — incluindo Lapid — fracassaram em abordar preocupações nacionais centrais, incluindo a questão renovada do terrorismo palestino, e se dividiram internamente", disse. "Como premiê novamente, Netanyahu expandirá a cooperação regional sob os Acordos de Abraão e a coordenação de segurança. A ameaça do Irã é a prioridade máxima, e Netanyahu buscará laços mais estreitos com os Estados Unidos." 

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Eu acho...

 (crédito: Arquivo pessoal)
crédito: Arquivo pessoal

"Enquanto os palestinos permanecerem profundamente divididos e incapazes de negociar um compromisso realista, qualquer progresso será improvável. Sob essas circunstãncias, alguns partidos da nova coalizão de Netanyahu tentarão novamente anexar algumas áreas reivindicadas pelos palestinos, mas, sem a cooperação dos Estados Unidos, isso será difícil."

Gerald Steinberg,professor de ciência política da Universidade Bar Ilan, em Ramat Gan (subúrbio de Tel Aviv)

Ataque na Cidade Velha de Jerusalém

 (crédito: Ahmad Gharabli/AFP)
crédito: Ahmad Gharabli/AFP

Três policiais israelenses ficaram feridos em um ataque na Cidade Antiga de Jerusalém, anunciou a polícia, que também informou que o agressor foi morto a tiros. Ao ser interpelado pelas forças israelenses, um "suspeito", não identificado em um primeiro momento, "puxou uma faca e esfaqueou um policial", afirmou a força de segurança em um comunicado. Outros dois oficiais abriram fogo e o agressor foi declarado morto, acrescenta a nota. Médicos do serviço de emergência israelense informaram que atenderam três feridos, que foram levados para hospitais em Jerusalém. O ataque ocorreu no bairro muçulmano da Cidade Antiga, em Jerusalém Oriental, setor palestino ocupado desde 1967 e anexado por Israel.

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