Afeganistão

Talibã proíbe mulheres de frequentarem parques na capital do Afeganistão

Além de obrigadas a usar o hijab, as mulheres talibãs não podem frequentar o ensino médio e estão impedidas de viajar sozinhas para fora de sua localidade

Rodrigo Craveiro
postado em 11/11/2022 06:00
 (crédito: Wakil Kohsar/AFP)
(crédito: Wakil Kohsar/AFP)

O nome de Habiba Ashna Marhoon, 32 anos, estava na lista de alvos do Talibã. Por isso, ela e a família fugiram para a Virgínia, nos Estados Unidos. A ativista afegã não se surpreendeu com a mais nova etapa da segregação de gênero imposta pela milícia fundamentalista islâmica: as mulheres de Cabul estão proibidas de frequentarem parques públicos e os jardins da capital do Afeganistão. 

"Em muitos lugares, as regras foram violadas", declarou à agência France-Presse (AFP) Mohammad Akif Sadeq Mohajir, porta-voz do Ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício. "Havia mistura e o hijab (o véu que cobre a cabeça e o pescoço) não estava sendo respeitado. Por isso esta decisão foi tomada", justificou. Habiba disse ao Correio que seu país natal "não é seguro para ninguém que tenha cérebro".

Ela contou que conversou com várias mulheres de Cabul. "Estão com medo do Talibã e nem mais saem de suas casas. Em uma nação onde as mulheres não podem frequentar escolas, o veto à presença delas nesses parques é apenas simbólico. Essa decisão mostra o quanto o Talibã está desconectado da realidade e do mundo. O centro da ideologia talibã é antimulher e isso abre brecha para o feminicídio", desabafou Habiba, que abandonou o Afeganistão duas semanas antes da chegada da milícia ao poder, em agosto de 2021. 

Os parques eram considerados o última espaço de liberdade para as mulheres. Além de obrigadas a usar o hijab, elas não podem frequentar o ensino médio e estão impedidas de viajar sozinhas para fora de sua localidade. Criado há mais de seis anos, o Parque Zazai, situado na parte alta de Cabul, está com a roda gigante parada. Nos fins de semana, a atração da capital afegã recebia cerca de 15 mil visitantes por dia. "Sem mulheres, as crianças não virão sozinhas", lamentou à AFP Habib Jan Zazai, o coadministrador que investiu US$ 11 milhões e emprega 250 pessoas. "Gostaria que o Talibã apresentasse razões convincentes. No islã você pode ser feliz. O islã não permite que as pessoas sejam presas em casa. Com essas decisões, vão desencorajar os investidores. E sem empresários que paguem impostos, como vão governar?", questionou Zazai. 

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Habib Marhoon, ativista afegã
Habib Marhoon, ativista afegã (foto: Arquivo pessoal )

"O Talibã segrega as mulheres de todas as maneiras. Há segregação nas universidades, nas escolas de idiomas, nas clínicas. As mulheres não têm permissão nem para mostrar o rosto na televisão, a menos que cubram os cabelos. Eles estão apagando cada mulher de todas as partes das arenas socioeconômica e política."

Habiba Ashna Marhoon, 32 anos, ativista afegã, fundadora da ONG Coalizão da Liberdade

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