China-EUA

Relações tensas serão colocadas à mesa em encontro entre Biden e Xi Jinping

Amanhã, Xi Jinping e Joe Biden terão a primeira reunião presencial desde que o norte-americano assumiu o poder. Encontro ocorre em momento delicado para a diplomacia bilateral. Especialista adverte sobre desconfiança crescente

No ano passado, Biden e Xi mantiveram conversa por videoconferência: na ocasião, o chinês aconselhou o americano a
No ano passado, Biden e Xi mantiveram conversa por videoconferência: na ocasião, o chinês aconselhou o americano a "não brincar com fogo" - (crédito: Mandel Ngan/AFP)
Rodrigo Craveiro
postado em 13/11/2022 06:00 / atualizado em 30/08/2023 16:06

Pela primeira vez, os líderes das duas maiores potências do planeta estarão frente a frente, pessoalmente, em uma reunião à margem da cúpula do G20 (grupo das 19 principais economias mais a União Europeia), em Bali (Indonésia). De acordo com a Casa Branca, os presidentes Joe Biden e Xi Jinping discutirão "esforços para manter e aprofundar linhas de comunicação entre EUA e China". O comunicado do governo norte-americano informa que o encontro de amanhã também debaterá formas de gerenciar a competição de modo responsável e de trabalharem, juntos, nas áreas de alinhamento de interesses, "especialmente em relação aos desafios transnacionais que afetam a comunidade internacional".

No entanto, outros temas importantes serão colocados à mesa pelos dois chefes de Estado. A reunião de mais alto nível ocorre dias depois de a Coreia do Norte, aliada da China, realizar uma série de lançamentos de mísseis — uma das simulações envolveu um míssil balístico intercontinental, que parece ter fracassado, segundo a Coreia do Sul. Os acenos emitidos pelos EUA em direção a Taiwan têm provocado mal-estar em Pequim. A China endureceu a retórica sobre a ilha democrática, a qual considera parte inalienável de seu território. As pressões por um maior protagonismo da China para fazer com que a Rússia interrompa a guerra na Ucrânia também deverão vir a tona em Bali. Xi e Biden mantiveram uma reunião bilateral por videoconferência, em 15 de novembro de 2021.

Na quarta-feira, Biden afirmou que "o que deseja fazer quando conversarem é determinar o tipo de linha vermelha mútua que não deve ser cruzada". "A doutrina sobre Taiwan não mudou em nada", frisou. O norte-americano evitou comentários anteriores de que as Forças Armadas dos EUA defenderiam Taiwan, caso a ilha fosse atacada pela China. 

Soberania

Zhao Lijian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, fez questão de frisar que a política chineses sobre os EUA é "consistente e clara". "Estamos comprometidos com o respeito mútuo, a coexistência pacífcia e a cooperação de mútuos ganhos com os Estados Unidos. Ao  mesmo tempo, nós firmemente defendemos nossa soberania, nossa segurança e os interesses em desenvolvimento", declarou. Ele considerou importante que Washington trabalhe com Pequim para "abordarem, adequadamente, as divergências, avançarem na cooperação benéfica, evitarem mal-entendidos e erros de cálculo e devolver as relações entre China e EUA de volta ao caminho correto do desenvolvimento sólido e sustentável". 

Ministro conselheiro da Embaixada da China no Brasil, Li Qi disse ao Correio que as relações sino-americanas "talvez sejam as mais complexas e as mais importantes do mundo contemporâneo". "Conduzir essas relações não tem sido e nem tampouco será algo fácil. Gostaria de citar a última frase do ex-secretário de Estado Henry Kissinger em seu livro sobre a China: 'Os Estados Unidos e a China poderiam unir seus esforços não para abalar o mundo, mas para construí-lo'. É uma reflexão muito relevante, mas as chaves estão nas mãos dos EUA", comentou. "Eles têm que modificar sua visão sobre a China, um país diferente e uma civilização diferente, além de recuperar o devido respeito e deixar de lado as mentalidades obsoletas da Guerra Fria."

Diretora do Programa Ásia do think tank German Marshall Fund of the United States (em Washington), Bonnie Glaser lembrou que as relações entre as duas nações pioraram de forma contínua ao longo dos últimos anos. "Eles podem colocar um piso sob o relacionamento e suspender essa deterioração?", questionou a especialista em China, que não esconde o pessimismo. Ela explica que, há um ano e meio, o governo Biden tem buscado persuadir Xi Jinping a impedir que essa relação saia de controle. "Nenhum progresso foi feito. Os chineses não têm muito interesse em medidas de redução de riscos ou em conversas sobre estabilidade estratégica. Desde a visita de Nancy Pelosi a Taiwan, as comunicações bilaterais têm se limitado", advertiu. 

De acordo com Glaser, a imposição dos EUA de controles de exportação sobre os semicondutores convenceu ainda mais a China de que os norte-americanos procuram conter a ascensão chinesa. "A desconfiança mútua está em alta." A medida deve complicar o desenvolvimento de semicondutores avançados em território chinês. 

Xi chega ao encontro em Bali com a posição fortalecida, depois de ganhar o terceiro mandato no Congresso do Partido Comunista Chinês e de se consolidar como o líder mais influente e poderoso desde Mao Tsé-tung. Biden, por sua vez, saiu de uma eleição de meio de mandato com mais lucros do que prejuízos — a "onda vermelha" republicana não aconteceu e deu fôlego ao governo. Segundo a agência France-Presse (AFP), Biden transformou a rivalidade com a China no eixo principal de sua política externa, apesar de não querer uma nova "Guerra Fria".

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores através do e-mail: sredat.df@dabr.com.br

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação