A crise deflagrada pela tentativa de autogolpe de Pedro Castillo e pela destituição — seguida da prisão — do ex-presidente peruano ganhou contornos econômicos e diplomáticos. Organizações de trabalhadores da capital, Lima, e de cidades como Arequipa, Cusco e Cajamarca convocaram para ontem uma greve geral nacional para exigir a antecipação das eleições. No fim da noite, a Suprema Corte declarou procedente um pedido do Ministério Público e determinou que Castillo fique preso por 18 meses.
A presidente Dina Boluarte, que substitui Castillo, enfrenta grandes protestos de associações e organizações de camponeses e indígenas, que também exigem sua renúncia e a libertação do líder destituído. Ontem, a chancelaria peruana convocou para consultas seus embaixadores na Argentina, na Bolívia, na Colômbia e no México. O gesto representa repúdio à declaração dos respectivos governos, que defenderam a restituição do poder a Castillo.
Na segunda-feira, os quatro países expressaram apoio a Castillo e pediram respeito à vontade popular em um comunicado conjunto. "Exortamos aqueles que integram as instituições a se absterem de reverter a vontade popular expressa com o livre sufrágio", afirmou a nota.
A ocupação do aeroporto de Ayachucho (centro), ontem, deixou dois manifestantes mortos. Desde o início dos protestos, em 8 de dezembro, dez pessoas morreram e quase 200 ficaram feridas nos confrontos.
Na quarta-feira, o ministro da Defesa, Alberto Otárola, anunciou a decretação do estado de emergência em todo o território nacional para tentar conter a violência. A medida, com validade de 30 dias, restringe as liberdades individuais.
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Bloqueios
Os protestos mais intensos ocorrem no sul, onde os aeroportos de Andahuaylas, Arequipa, Puno e Cuzco permanecem fechados. Mais de 100 vias estão bloqueadas, o que dificulta o transporte e o abastecimento. Cerca de 2 mil caminhões da Bolívia estão retidos. Em Lima, manifestantes acampam ao redor da prisão policial onde está detido Castillo, que tentou dissolver o Congresso, nove dias atrás.
Opositores afirmam que parte do apoio ao ex-presidente vem do Movadef, braço político do Sendero Luminoso, guerrilha que semeou o caos nas décadas de 1980 e 1990.
"Desde o dia em que Pedro Castillo assumiu a presidência, éramos terroristas. Não o deixaram governar, éramos ladrões, corruptos", criticou Vilma Vásquez, 42 anos, sobrinha do ex-líder esquerdista, nas imediações da penitenciária. "Vamos ficar até que ele saia."
Em cerimônia na Força Aérea, Dina Boluarte pediu ao Congresso que aprove a reforma constitucional para antecipar as eleições gerais de 2026 para 2023.
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