Covid-19

Covid: após 3 anos, China acaba com quarentena para viajantes em meio a onda da doença

A China eliminará a quarentena para viajantes a partir de 8 de janeiro, informaram autoridades, marcando a última grande mudança na política de "covid zero" do país

BBC
Frances Mao & Fan Wang - BBC News
postado em 27/12/2022 08:10
Hotel para quarentena em Hangzhou
Getty Images
China está enfrentando onda de covid depois de suspender quase todas as medidas anticovid neste mês

A China eliminará a quarentena para viajantes a partir de 8 de janeiro, informaram autoridades, marcando a última grande mudança na política de "covid zero" do país.

Depois de quase três anos de fronteiras fechadas, a medida reabrirá o país para quem tem visto de trabalho e estudo, ou busca visitar familiares.

Mas ocorre no momento em que a China luta contra a forte disseminação do vírus após a suspensão das restrições.

Hospitais estão sobrecarregados e idosos morrendo.

O verdadeiro número — contagem diária de novos casos e mortes — é atualmente desconhecido porque as autoridades pararam de divulgar os dados de covid.

Na semana passada, o governo chinês registrou cerca de 4 mil novas infecções por covid a cada dia e poucas mortes.

Viajantes caminhando pelo aeroporto internacional de Pequim na terça-feira, 27/12
Reuters
Quem entra na China não precisará passar por quarentena a partir de 8 de janeiro

No domingo, as autoridades informaram que parariam de publicar os números de casos. Mas a empresa britânica de dados de saúde Airfinity estimou que a China estava enfrentando mais de 1 milhão de infecções e 5 mil mortes por dia, segundo a agência de notícias Reuters.

A China é a última grande economia do mundo a adotar a política de "viver com a covid" após três anos de lockdowns, fronteiras fechadas e quarentena obrigatória para casos e contatos da covid.

Conhecida como covid zero, tal política impactou negativamente a economia e deixou os chineses cansados ??de restrições e testes ininterruptos.

Viajantes caminhando pelo aeroporto internacional de Pequim na terça-feira, 27/12
Reuters
Medida do governo chinês reabrirá país para quem tem visto de trabalho e estudo, ou busca visitar familiares

O ressentimento contra a política tomou forma em raros porém intensos protestos públicos contra o presidente Xi Jinping em novembro, o que levou as autoridades a abandonar as medidas anticovid apenas algumas semanas depois.

Fronteiras fechadas continuam sendo a última grande restrição. Desde março de 2020, qualquer pessoa que entrasse na China tinha que passar por quarentena obrigatória em uma instalação do Estado — por até três semanas por vez. Isso foi recentemente reduzido para cinco dias.

Mas na segunda-feira, a Comissão Nacional de Saúde anunciou que a covid seria formalmente rebaixada para uma doença infecciosa de classe B em 8 de janeiro.

Na prática, isso significa que a quarentena será suspensa — embora os viajantes que chegam ainda precisem fazer um teste PCR — e um limite para o número diário de voos permitidos para a China também seria descartado.

Rastreando a onda de Covid na China

Autoridades chinesas disseram que também "otimizariam" os acordos de visto para estrangeiros que desejam vir à China para trabalhar e estudar, bem como visitas familiares e reuniões.

Mulher caminha pelo Aeroporto Internacional de Pequim Daxing, em Pequim
EPA
Novas regras foram bem recebidas por muitos chineses

Não está claro se isso inclui vistos de turista, mas o governo disse que um programa piloto seria iniciado para navios de cruzeiro internacionais.

As novas regras foram bem recebidas por muitos chineses, que agora poderão viajar para o exterior novamente. As principais agências de viagens on-line do país relataram um aumento no tráfego horas após o anúncio.

Mas muitos também expressaram raiva pela liberdade repentina após anos de controle.

"Estou feliz com isso, mas também sem palavras. Se estamos fazendo isso [a reabertura] de qualquer maneira — por que tivemos que passar por todos os testes e lockdowns diários da covid este ano?" diz Rachel Liu, que mora em Xangai.

Ela disse que enfrentou três meses de confinamento em abril, mas quase todos em sua família foram infectados com o vírus nas últimas semanas.

E acrescentou que seus pais, avós e companheiro — que vivem em três cidades diferentes: Xi'an, Xangai e Hangzhou — tiveram febre na semana passada.

Um trabalhador médico realiza pré-exame em um paciente em 26/12 em meio ao aumento do número de tratamentos de emergência no hospital Tongji em Xangai
Reuters
Hospitais - como este em Xangai - estão sob pressão nesta onda de covid

Muitos também expressaram preocupação nas redes sociais com a reabertura das fronteiras, à medida que os casos de covid atingem o pico na China.

"Por que não podemos esperar até que essa onda passe para a abertura? Os profissionais de saúde já estão exaustos e os idosos não sobreviverão a duas infecções em um mês", dizia um comentário com várias curtidas no Weibo, o Twitter chinês.

Pessoas em cidades como Pequim e Xangai, que experimentam temperaturas baixas no inverno, dizem que estão ficando sem remédios para gripe e resfriado e pedem ajuda médica para parentes doentes.

Teme-se que centenas de mortes não sejam notificadas, já que os crematórios estão sobrecarregados.

Na segunda-feira, o presidente Xi Jinping fez seus primeiros comentários sobre as mudanças, pedindo às autoridades que fizessem o que fosse "viável" para salvar vidas.

A imprensa estatal o citou dizendo que o país enfrenta um novo desafio com o controle da pandemia e precisa de uma resposta mais direcionada.

A reviravolta da China na forma como o país administra a pandemia colocou Xi em uma situação difícil, dizem analistas. Ele foi a força motriz por trás da "covid zero", que muitos culparam por restringir excessivamente a vida das pessoas e paralisar a economia.

Mas, tendo abandonado essa política, analistas dizem que agora ele deve assumir a responsabilidade pela enorme onda de infecções e internações hospitalares. Muitos questionaram por que o país não estava mais bem preparado.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-64095045

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