Ucrânia

Confira a reação internacional do envio de tanques da Alemanha para a Ucrânia

Alemanha anuncia a remessa de 14 veículos de combate do modelo Leopard 2A6, enquanto os Estados Unidos preparam a entrega de 31 M1 Abrams. Especialistas ucranianos celebram a decisão dos aliados, e Rússia promete que a ajuda estrangeira "queimará" no campo de batalha

Rodrigo Craveiro
postado em 26/01/2023 06:00
 (crédito: Anatolii Stepanov/AFP)
(crédito: Anatolii Stepanov/AFP)

A menos de um mês do primeiro aniversário da invasão russa à Ucrânia, o Ocidente respondeu aos reiterados pedidos do presidente Volodymyr Zelensky. Horas depois de a Alemanha confirmar o envio a Kiev de 14 tanques de guerra Leopard 2A6, os Estados Unidos anunciaram a remessa de 31 armamentos semelhantes, do modelo M1 Abrams. "É o equivalente a um batalhão ucraniano. (...) Os tanques Abrams são os mais capazes do mundo. Eles são extremamente complexos de operar e de manter. Daremos à Ucrânia as peças e os equipamentos necessários para sustentar esses tanques no campo de batalha", declarou o presidente dos EUA, Joe Biden, que conversou, por telefone, com o chanceler alemão, Olaf Scholz.

Zelensky agradeceu aos aliados por sua vontade de proporcionar a Kiev "tanques modernos e indispensáveis". No entanto, apelou por mais armamentos. "Também deveriam possibilitar a entrega de mísseis de longo alcance para a Ucrânia. É importante. E devemos ampliar nossa cooperação em artilharia e (possibilitar) o envio de aviões de combate", disse o líder ucraniano.  "A chave agora é a celeridade e o volume. A celeridade no treinamento dos nossos militares, a celeridade na entrega dos tanques (...) e o volume do apoio."

A Noruega avisou que contribuirá com dois Leopard, enquanto a Espanha estuda mobilizar o próprio estoque do tanque, enquanto a Polônia prometeu ser um grande fornecedor. Finlândia e Holanda sinalizaram que atenderão aos apelos de Kiev. O Reino Unido destacou que os Leopard "fortalecerão o poder de fogo defensivo da Ucrânia", segundo o premiê, Rishi Sunak. Há poucos dias, Londres havia anunciado o envio de 14 tanques Challenger 2 à Ucrânia. 

A Rússia considera que a remessa de equipamentos para a ex-república soviética equivale a cruzar uma "linha vermelha". Porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov advertiu que, do ponto de vista tecnológico, o plano ocidental é um "fracasso". "Esses tanques queimarão, como todo o resto. Eles apenas são muito caros", afirmou.

Enquanto o Leopard 2 custa em torno de US$ 11 milhões (ou R$ 55,7 milhões), o M1 Abrams está cotado a cerca de US$ 10 milhões (R$ 50 milhões). Biden esclareceu que trata-se de ajudar a Ucrânia a defender e proteger seu território. "Não é uma ameaça ofensiva à Rússia", afirmou, acompanhado dos secretários Lloyd Austin (Defesa) e Antony Blinken (Estado). 

"Unidos"

O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, "saudou fortemente" a liderança dos EUA em fornecer os tanques Abrams. "Os aliados da Otan estão unidos em nosso apoio pela autodefesa da Ucrânia. Hoje, com os tanques Challenger (Reino Unido) e Leopard 2 (Alemanha), isso pode fazer uma diferença significativa na luta contra a Rússia."

Oleksandra Matviichuk (leia Três perguntas para), chefe da ONG ucraniana Centro pelas Liberdades Civis, uma das ganhadoras do Nobel da Paz no ano passado, celebrou a mobilização do Ocidente. "Essa guerra tem características de genocídio. Não temos outra escolha. Se pararmos de lutar, não mais existiremos", disse ao Correio. 

Mykola Bielieskov, estrategista militar do Instituto Nacional para Estudos Estratégicos (em Kiev), explicou à reportagem que os tanques são politicamente importantes porque esse tipo de armamento está associado ao ataque em primeiro lugar. "Por terem uma combinação única de arma lisa, proteção e mobilidade, os tanques são parte integrante das batalhas desde a Segunda Guerra Mundial. Não os vejo como uma 'bala de prata', pois outras coisas são necessárias, como infantaria mecanizada, artilharia, aviação e defesa aérea, como meios de produzir resultados na forma de grandes operações", afirmou. 

De acordo com ele, o fato de outros países se unirem à chamada "Coalizão Leopard", depois do consentimento da Alemanha, garantirá que a quantidade necessária de tanques seja rapidamente alcançada sem afetar muito o estoque de cada país da Otan. Bielieskov avalia que as dificuldades encontradas pela Rússia no campo de batalha se devem à alta complexidade de guerras envolvendo armas modernas combinadas. "Esse tipo de combate é muito desafiador de ser implementado", comentou. O estrategista destacou que somente o tempo dirá se os tanques ocidentais serão suficientes para derrotar a Rússia. "Será preciso ver se os russos se moverão, antes de um contra-ataque, ou se Moscou se manterá na defesa e Kiev será forçada a uma grande ofensiva clássica. Sem os tanques, seria mais difícil para a Ucrânia continuar a lutar."

Peter Zalmayev, diretor da ONG Eurasia Democracy Initiative (em Kiev), ressaltou a importância da decisão da Alemanha de enviar os tanques Leopard 2, mas lembrou que ela somente ocorreu depois de muita pressão de Zelensky e sob um alto custo para a reputação de seus líderes. "A iniciativa de Berlim é ainda mais significativa por permitir que outras nações também contribuam com remessas de tanques do mesmo modelo. A Alemanha fornecerá somente 14 equipamentos, mas aqui, em Kiev, nós temos escutado que o número de tanques disponibilizados por outros países poderá chegar a 100. A estimativa do comando militar ucraniano é de que seriam necessários ao menos 300. De qualquer forma, este é um começo muito bom", admitiu ao Correio. 

Zalmayev comemorou o anúncio de Biden sobre o envio de 31 tanques Abrams para a Ucrânia e vê o gesto como um "significativo precedente". "Esperamos que o Ocidente contribua, em breve, com caças. Temos visto a Rússia escalar a retórica nuclear, o que é preocupante. Moscou planeja nova ofensiva, e provavelmente pensará duas vezes, caso o Ocidente demonstre vontade política de armar a Ucrânia pelo tempo que for necessário."

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A "Pérola do Mar Negro" em perigo

 (crédito: Getty Images )
crédito: Getty Images

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) inscreveu o centro histórico da cidade ucraniana de Odessa, às margens do Mar Negro, em sua lista de Patrimônio Mundial em perigo, apesar da oposição russa. Em uma sessão extraordinária, o Comitê de Patrimônio adotou a decisão por seis votos a favor, um contra (Rússia) e 14 abstenções. Apelidada de "Pérola do Mar Negro", Odessa é uma cidade portuária que muitos identificam no mundo pela monumental Escadaria de Potemkin. Com a votação, o centro histórico de Odessa foi inscrito na Lista do Patrimônio Mundial e registrado como patrimônio em perigo. "Sou grato aos parceiros que ajudam a proteger nossa pérola dos ataques dos invasores russos!", escreveu o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, no Twitter. 

 

Três perguntas para...

Oleksandra Matviichuk, chefe da organização não governamental ucraniana Centro pelas Liberdades Civis (CCL), uma das ganhadoras do Prêmio Nobel da Paz em 2022

 (crédito: Divulgação)
crédito: Divulgação

Como a senhora vê o estado de espírito dos moradores de Kiev às vésperas do primeiro aniversário da invasão?

Eu devo admitir que nós vivemos em meio a uma incerteza absoluta. É impossível planejarmos não apenas o dia de hoje, mas também os próximos. Você nunca sabe quando o ataque russo começará ou quando a eletricidade sumirá. Nós, ucranianios, desenvolvemos habilidades bastante essenciais, a fim de fazermos o que precisa ser feito, mesmo em tais circunstâncias.

Putin insiste que vencerá a guerra. O que pensa sobre isso?

O povo da Ucrânia está pronto para seguir resistindo. Essa guerra tem características de genocídio. Não temos outra escolha. Se pararmos de lutar, não mais existiremos. Ainda há uma grande unidade entre as pessoas e entre diferentes setores da sociedade. Estamos prontos para defender o nosso território e a nossa gente, assim como nossos valores e nossas escolhas democráticas. 

De que forma avalia o envio de tanques dos EUA e da Alemanha à Ucrânia?

A Ucrânia precisa, mais do que rapidamente, de ser capaz de defender o nosso território, o nosso povo e a nossa liberdade. Infelizmente, Putin não vai parar até ser contido. O problema é que, a cada dia, com as discussões políticas e o atraso no envio de armamentos, seres humanos estão morrendo. Isso não ocorre apenas no front. As pessoas morrem também em territórios ocupados, em decorrência da tortura imposta pelos russos. Pessoas morrem durante os bombardeios, porque não há lugar seguro para onde se escapar dos foguetes russos. É  muito importante que, finalmente, a Alemanha e outros países tenham decidido fornecer armas à Ucrânia. Os valores do mundo civilizado devem ser protegidos. A democracia precisa ter a habilidade de se defender. 

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