TURQUIA

Turquia anistiou prédios que não cumpriam normas de segurança contra terremotos

Embora os terremotos tenham sido fortes, os especialistas dizem que os prédios construídos adequadamente deveriam ter resistido.

BBC
BBC Geral
postado em 09/02/2023 19:11 / atualizado em 09/02/2023 19:11

Problemas de aplicação de regulamentos segurança contra terremotos, além de anistias para construções que não seguiram as regras, contribuíram para o colapso de muitos edifícios da Turquia durante os tremores de segunda-feira (6/2). Até agora, mais de 20 mil pessoas morreram na Turquia e na Síria.

A BBC News encontrou casos de edifícios recém-construídos que desabaram durante os terremotos.

Um deles fica na cidade de Malatya, no sudoeste da Turquia. O prédio foi concluído no ano passado.

Imagens capturadas por moradores mostram um anúncio publicitário sobre o edifício na internet. A peça afirma que ele foi "concluído de acordo com os mais recentes regulamentos antissísmicos".

O texto afirmava que os materiais e a mão de obra utilizados eram de "primeira qualidade".

Não há mais vestígios desse anúncio na internet, mas várias pessoas tiraram fotos e vídeos e os postaram na internet.

A propaganda segue o estilo de outros similares no site da empresa que construiu o edifício.

Outro prédio residencial recentemente construído na cidade portuária de Iskenderun, no litoral turco, também foi fotografado em grande parte destruído.

 

 

Prédio antes e depois de cair
BBC
Antes e depois: prédio recém-construído em Iskanderun

A construtora deste edifício publicou uma imagem mostrando que ele havia sido concluído em 2019.

A BBC confirmou que a imagem do prédio destruído (à direita) corresponde à localização da foto publicitária da empresa do quarteirão (à esquerda).

Outro prédio inaugurado em Antakya em 2019 também pode ser visto destruído em uma imagem confirmada pela BBC.

A reportagem encontrou um vídeo da cerimônia de inauguração do conjunto habitacional, de novembro de 2019, no qual o proprietário de uma construtora envolvida na obra afirma que "o projeto é especial em relação a outros por sua localização e qualidade de construção".

Embora os terremotos tenham sido fortes, os especialistas dizem que os prédios construídos adequadamente deveriam ter resistido.

"O pico de intensidade deste terremoto foi violento, mas não o suficiente para derrubar prédios bem construídos", disse David Alexander, professor de planejamento e gerenciamento de emergências da University College London.

"Na maioria dos lugares, o nível de tremor foi menor do que o pico registrado, então podemos concluir que, dos milhares de prédios que desabaram, quase todos não atenderam a nenhum código de construção antiterremoto de maneira razoável."

Violação dos regulamentos de construção

Os regulamentos de construção foram reforçados na Turquia após desastres anteriores, incluindo o mais recente, em 2018.

Regulamentos de segurança mais rígidos também foram introduzidos após o terremoto de 1999 na cidade de Izmit, no noroeste do país. Na ocasião, 17 mil pessoas morreram.

As normas mais recentes exigem que estruturas em regiões sísmicas usem concreto de alta qualidade reforçado com aço.

As colunas e vigas também devem ser distribuídas de forma que absorvam efetivamente o impacto dos terremotos.

imagem aérea de bairro destruído
Getty Images
Mais de 50% dos edifícios na Turquia foram construídos em violação dos regulamentos de construção

No entanto, essas leis foram mal aplicadas.

"Parte do problema é que há muito pouca adaptação de edifícios antigos, mas também há muito pouca aplicação dos regulamentos de construção em novas obras", explica Alexander.

O governo turco também concedeu "anistias de construção" periódicas - na verdade, isenções legais mediante o pagamento de uma taxa - a estruturas construídas sem os certificados de segurança exigidos. Eles foram aprovados desde a década de 1960 (o último em 2018).

Os críticos há muito alertam que tais anistias representam um risco catastrófico no caso de um grande terremoto.

Escombros de prédios
Getty Images
As anistias representam um risco catastrófico no caso de um grande terremoto, dizem especialistas

Até 75 mil edifícios na área afetada pelo terremoto no sul da Turquia receberam anistias de construção, de acordo com Pelin P?nar Giritlio?lu, chefe da Câmara de Urbanistas de Istambul do Sindicato das Câmaras de Engenheiros e Arquitetos da Turquia.

Poucos dias antes do último desastre, a imprensa local informou que um projeto de lei que concederia uma nova anistia para as recentes obras estava pendente de aprovação parlamentar.

No início deste ano, o geólogo Celal Sengor declarou que aprovar esse tipo de anistia para construção em um país cortado por falhas geológicas equivale a um "crime".

Depois que um terremoto atingiu a província ocidental de Izmir em 2020, uma reportagem do serviço turco da BBC revelou que 672 mil edificações em Izmir se beneficiaram da última anistia.

A reportagem citou que o Ministério do Meio Ambiente e Planejamento Urbano havia declarado em 2018 que mais de 50% dos edifícios na Turquia - o que equivale a quase 13 milhões de prédios - foram construídos em violação dos regulamentos.

A BBC News questionou a pasta sobre os regulamentos de construção na Turquia após os terremotos mais recentes.

"Nenhum edifício construído por nossa administração desabou. Os estudos de avaliação de danos continuam rapidamente no local", respondeu o ministério.

Reportagem adicional de Olga Smirnova, Alex Murray, Richard Irvine-Brown e Dilay Yalcin.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/articles/cjrwnw9g9ewo

Notícias no celular

O formato de distribuição de notícias do Correio Braziliense pelo celular mudou. A partir de agora, as notícias chegarão diretamente pelo formato Comunidades, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp. Não é preciso ser assinante para receber o serviço. Assim, o internauta pode ter, na palma da mão, matérias verificadas e com credibilidade. Para passar a receber as notícias do Correio, clique no link abaixo e entre na comunidade:

Apenas os administradores do grupo poderão mandar mensagens e saber quem são os integrantes da comunidade. Dessa forma, evitamos qualquer tipo de interação indevida. Caso tenha alguma dificuldade ao acessar o link, basta adicionar o número (61) 99666-2581 na sua lista de contatos.

Cobertura do Correio Braziliense

Quer ficar por dentro sobre as principais notícias do Brasil e do mundo? Siga o Correio Braziliense nas redes sociais. Estamos no Twitter, no Facebook, no Instagram, no TikTok e no YouTube. Acompanhe!

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Footer BBC

CONTINUE LENDO SOBRE