Índia

Escritórios da BBC são revistados na Índia após exibição de documentário crítico

A liberdade de imprensa foi prejudicada na Índia desde que Narendra Modi chegou ao poder, dizem ativistas. A oposição condenou as operações

Agência France-Presse
postado em 14/02/2023 08:59
 (crédito: Sajjad Hussain/AFP)
(crédito: Sajjad Hussain/AFP)

As autoridades fiscais indianas fizeram operações de busca e apreensão nos escritórios da BBC em Nova Délhi e Mumbai nesta terça-feira (14), algumas semanas após a exibição de um documentário crítico ao papel do primeiro-ministro, Narendra Modi, na época em que era uma autoridade local durante os distúrbios religiosos de 2002.

A liberdade de imprensa foi prejudicada na Índia desde que Narendra Modi chegou ao poder, dizem ativistas. A oposição condenou as operações. O porta-voz do partido no governo BJP, Gaurav Bhatia, afirmou, após a operação, que a BBC faz "propaganda" contra a Índia.

"A Índia é um país que dá uma oportunidade a cada organização (...) desde que não vomite veneno", disse, antes de destacar que as operações de busca são legais e que o momento decidido para realizá-las não tem nada a ver com o governo.

"Se alguém segue as leis de um país, se não tem nada a esconder, por que temer uma ação que esteja de acordo com a lei?", afirmou. A emissora pública britânica BBC disse que "coopera totalmente" com as autoridades fiscais indianas.

"Esperamos que esta situação seja resolvida o mais rápido possível", destacou o serviço de imprensa do grupo de audiovisual no Twitter, confirmando as operações em seus escritórios na Índia.

Horas antes, um jornalista da emissora declarou em Nova Délhi que os serviços fiscais indianos estavam nas instalações da BBC. "Eles estão confiscando todos os telefones", afirmou. Representantes do governo impediam a entrada e saída do prédio, segundo um correspondente da AFP.

A rede exibiu um documentário no mês passado no qual afirma que Modi, então primeiro-ministro do estado de Gujarat, ordenou que a polícia ignorasse os distúrbios religiosos em 2002. A onda de violência causou pelo menos 1.000 mortes, a maioria de membros da minoria muçulmana do país.

Pouco depois da exibição, o governo indiano bloqueou vídeos e tuítes com links para o documentário, que chamou de "propaganda hostil e lixo anti-indiano". Apesar das proibições, grupos de estudantes se organizaram para assistir o documentário, desafiando as proibições do governo e seus esforços para restringir sua divulgação.

A polícia prendeu dezenas de estudantes na renomada Universidade de Délhi após uma exibição no final de janeiro.

Desde que o governo nacionalista hindu de Modi chegou ao poder, em 2014, a Índia caiu 10 postos no índice global de liberdade de imprensa elaborado pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), passando para a 150ª posição, de um total de 180 países avaliados.

Os distúrbios de 2002 em Gujarat, no leste do país, começaram após a morte de 59 peregrinos hindus em um incêndio em um trem. Após a tragédia, 31 muçulmanos foram condenados pelo incidente.

O documentário da BBC cita um relatório do Ministério das Relações Exteriores britânico, que deixou de ser sigiloso, no qual fontes anônimas dizem que Modi se reuniu com policiais de alto escalão e "ordenou que eles não atuassem" nos ataques contra muçulmanos por grupos nacionalistas hindus.

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