Defesa

Primeiro incidente direto entre aeronaves da Rússia e dos EUA causa tensão diplomática

Estados Unidos denunciam que avião de guerra da Rússia colidiu com a hélice de aeronave não-tripulada, que precisou ser derrubada. Incidente levou Washington a convocar embaixador para prestar esclarecimentos sobre o caso

Rodrigo Craveiro
postado em 15/03/2023 06:00
 (crédito: William Rosado/Força Aérea dos EUA/AFP)
(crédito: William Rosado/Força Aérea dos EUA/AFP)

O primeiro incidente direto envolvendo aeronaves da Rússia e dos Estados Unidos causou o tensionamento nas relações diplomáticas entre os dois países e levou à convocação do embaixador russo em Washington, Anatoly Antonov, para prestar esclarecimentos. De acordo com o Comando Europeu dos EUA, às 7h03 de ontem (3h03 em Brasília), um de dois caças russos Sukhoi Su-27 atingiu a hélice de um drone norte-americano MQ-9 Reaper sobre águas internacionais, no Mar Negro. O comunicado acrescenta que a manobra obrigou as forças dos Estados Unidos a derrubarem o MQ-9. "Várias vezes antes da colisão, os Su-27 despejaram combustível sobre o aparelho não tripulado e voaram na frente dele, de maneira imprudente e ambientalmente insalubre", acrescentou a nota.  

O general James B. Hecker, comandante da Força Aérea dos EUA na Europa e na África, advertiu que "esse ato inseguro e não profissional por parte dos russos quase provocou a queda de ambas aeronaves". "Os aviões dos Estados Unidos e de seus aliados continuarão a operar em espaço aéreo internacional. Pedimos aos russos que se comportem de maneira profissional e segura", afirmou. A nota do Comando Europeu dos EUA reforça que o incidente de ontem segue o padrão de "ações perigosas" por parte de pilotos russos ao interagirem com aeronaves norte-americanas sobre águas internacionais. O texto também adverte que "essas ações agressivas (...) são perigosas e podem levar a erros de cálculo e a uma escalada não intencional".  

Tanto a chancelaria quanto o Ministério da Defesa da Rússia buscaram desqualificar a versão de Washington. O Ministério das Relações Exteriores do governo de Vladimir Putin informou que a vigilância do espaço aéreo das Forças Aeroespaciais da Rússia registrou o voo de um veículo aéreo não tripulado MQ-9 em direção à Fronteira da Federação Russa. A nota relata que caças decolaram para identificar o drone. "Ele (MQ-9) ficou descontrolado, perdeu altitude e caiu na água, depois de uma série de manobras bruscas. O caça russo não usou nenhum armamento a bordo, não entrou em contato com o veículo aéreo não tripulado e retornou em segurança à base aérea", acrescenta o comunicado. Por sua vez, o Ministério da Defesa russo afirmou que, como resultado de uma manobra brusca, o MQ-9 "entrou em um voo descontrolado, com perda de altitude, e colidiu com a superfície da água".

"Vamos convocar o embaixador russo (Anatoly Antonov) ao Departamento de Estado" em protesto contra este incidente, declarou Ned Price, porta-voz da chancelaria norte-americana. "Estamos em contato direto com os russos, a níveis superiores, para transmitir nossa forte objeção a esta interceptação insegura e pouco profissional, que provocou a queda do avião americano não tripulado", acrescentou.

Gravidade

Em entrevista ao Correio, Mary Ellen O'Connell — professora de direito e especialista em resolução de disputas internacionais pela Universidade de Notre Dame (em Indiana) — admitiu que qualquer engajamento militar entre EUA e Rússia é "muito grave". "O incidente de hoje (ontem) felizmente não envolveu perda de vida ou teria sido muito mais sério. Os EUA têm todo o direito legal de ajudar a Ucrânia em sua autodefesa coletiva, nos termos da Carta das Nações Unidas", disse a especialista. "A Rússia trava uma guerra ilegal, o que torna todas as suas ações ilegais. No entanto, a lei do conflito armado sobre a condução da guerra permite à Rússia alvejar forças ucranianas e assistência militar. Os Estados Unidos sabem que correm riscos ao ajudar Kiev. Por isso, creio que a resposta será firme, mas não com um ataque contracinético."

Para O'Connell, a convocação para sabatina do embaixador da Rússia em Washington foi uma atitude correta. "Pressionar os líderes de todos os Estados a continuarem a negociar com Moscou também é essencial", opinou. A estudiosa da Universidade de Notre Dame disse concordar com a avaliação da Força Aérea dos EUA de que os caças Su-27 agiram de forma "ambientalmente insalubre". "A ação russa é outro ataque ao meio ambiente. Há um dano generalizado à vida selvagem, com a contaminação do solo, a poluição do ar e da água, e muito mais, sem mencionar o risco de derretimento nuclear da maior usina atômica da Europa."

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Ucrânia em segundo plano

 (crédito: Mandel Ngan/AFP - 28/4/2020 )
crédito: Mandel Ngan/AFP - 28/4/2020

O ex-presidente Donald Trump (D) e seu provável rival para a nomeação como candidato republicano às eleições de 2024, Ron DeSantis (E), afirmaram que defender a Ucrânia “não é vital” para os Estados Unidos, de acordo com um questionário publicado ontem. DeSantis, governador da Flórida, avaliou que os EUA “têm muitos interesses nacionais vitais”, mas que “se enredar ainda mais em uma disputa territorial entre Ucrânia e Rússia não é um deles”.

O político respondeu por escrito, na segunda à noite, à emissora Fox News, que perguntou aos principais candidatos presidenciais republicanos sobre seus pontos de vista acerca do que será um dos temas de política externa nas eleições do ano que vem. Uma das questões era sobre se o pôr à Rússia era um interesse estratégico nacional vital. À mesma pergunta, Donald Trump respondeu: “Não, mas para Europa é. Não para os Estados Unidos”.

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Mary Ellen O'Connell, professora de direito e especialista em resolução de disputas internacionais pela Universidade de Notre Dame (em Indiana)
Mary Ellen O'Connell, professora de direito e especialista em resolução de disputas internacionais pela Universidade de Notre Dame (em Indiana) (foto: Barbara Johnston/Universidade de Notre Dame)

"A tensão não poderia ser maior na frente diplomática, já que os EUA continuam a se opor à violação flagrante da Rússia da proibição do uso da força, codificada na Carta da ONU. O incidente pode levar a mais cautela, no sentido de evitar outros envolvimentos diretos entre os Estados Unidos e a Rússia. No geral, o incidente com o drone precisa aumentar o apoio da comunidade internacional à Ucrânia e o isolamento da Rússia, levando ao fim do conflito. Certamente, o Brasil pode fazer mais no interesse do direito internacional."

Mary Ellen O'Connell, professora de direito e especialista em resolução de disputas internacionais pela Universidade de Notre Dame (em Indiana)

 

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