Em antecipação ao "caos" na fronteira sul com o México, ante a expiração do chamado Título 42, às 23h59 de hoje (0h59 de amanhã em Brasília), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, mobilizou 24 mil agentes para o processamento das solicitações de asilo dos migrantes que entrarem em território norte-americano pelas "vias legais" e para a expulsão dos estrangeiros irregulares. A expectativa é de que conseguir o asilo ficará mais complicado. As regras de elegibilidade de asilo serão submetidas a uma "inspeção pública" e as condições para obtenção do documento se tornarão mais"significativas".
Stephen Yale-Loehr, professor de Práticas de Leis de Imigração na Universidade de Cornell, explicou que, como parte do fim do Título 42, o governo Biden está implementado uma nova norma, segundo a qual quem entrar ilegalmente nos EUA será considerado inelegível ao asilo. "As autoridades querem que as pessoas usem o novo aplicativo, chamado CBP One, para o agendamento de entrevistas de asilo nos portos de entrada. É uma forma de solicitar asilo legalmente", afirmou ao Correio, por e-mail. Com a nova regra, os EUA criarão centros de processamento de refugiados em outros países, a fim de que os migrantes solicitem asilo fora do território norte-americano.
Tijuana (México), a 16km da fronteira com os Estados Unidos, começa a sentir os efeitos do fim do Título 42. Diretor de Atenção ao Migrante, Enrique Lucero Vázquez disse ao Correio que existe grande expectativa, entre os estrangeiros ilegais, de que será mais fácil ingressar nos Estados Unidos. "Depois de aceitarem as solicitações de asilo, as autoridades seguirão expulsando migrantes e continuarão a usar o CBP One."
De acordo com ele, Tijuana abriga 6 mil migrantes em albergues, além de outros acomodados em hotéis e casas particulares. "São, aproximadamente, 14 mil migrantes solicitantes de asilo, aqui, na cidade. Alguns têm pulado o muro da fronteira. Mais de mil estão no lado norte-americano, à espera de serem processados pela Patrulha de Fronteira dos EUA. Muitos serão deportados", admitiu Lucero.
O diretor de Atenção ao Migrante afirmou que, por enquanto, é impossível determinar os desdobramentos da crise migratória com a expiração do Título 42. "Não sabemos se teremos uma catástrofe humanitária. Muitos ilegais, neste momento, atravessam o muro por meio de algum buraco ou escada. A crise não se restringe a Tijuana; chegou à região entre o muro e San Diego (Califórnia)", acrescentou Lucero, que não descarta a abertura de mais albergues.
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Confusão
Yale-Loehr acredita que, em curto prazo, com o fim do Título 42, mais pessoas tentarão entrar nos Estados Unidos, tanto legal, quanto ilegalmente. "Levará tempo para que o governo entenda tudo isso. Então, haverá caos e confusão na fronteira, em um primeiro momento", advertiu o especialista de Cornell. Ele ressaltou que, sob o Título 42, os migrantes ilegais eram imediatamente expulsos, sem audiência. A partir de amanhã (hoje), as pessoas poderão ser deportadas, mas muitas delas serão ouvidas, antes, por um juiz de imigração."
Do outro lado da fronteira, na cidade de El Paso (Texas), o clima é de apreensão e de incerteza entre quem conseguiu entrar ilegalmente nos Estados Unidos, após a decisão de Biden de restringir a concessão do asilo. Por telefone, o venezuelano Cristian Gabriel Montiel, 19 anos, contou ao Correio que fez a travessia no último domingo e recebeu um documento de autorização de permanência que expirou. "Agora, me deram outro papel, por meio do qual decidirão se me darão asilo ou não. A vida na Venezuela está muito dura, não se pode ter uma vida decente. Meu irmão mais velho está aqui nos EUA. Quero trabalhar e dar uma vida melhor para nossa mãe. Estou aberto a todo tipo de trabalho e trato de aprender qualquer ofício. A previsão que me deram para a resposta sobre o asilo é 15 de abril de 2027", afirmou, por telefone. "Até lá, terei de apresentar mais três solicitações às autoridades."
Também venezuelano, José Artur, 40, relatou que demorou 21 dias para chegar a El Paso. "Vim de ônibus, de trem e a pé, atravessando a selva do Panamá. Eles me perseguiram, me joguei no muro e caí. Quando acordei, estava em um hospital, nos EUA", disse à reportagem. Ele reclama que o processamento dos documentos leva muito tempo. "As pessoas estão sem dinheiro e buscam entrar nos EUA por outros métodos, saltando a cerca. Não temos nem comida. É um desespero", desabafou Artur.
O mexicano Irineo Mujica Arzate, diretor da ONG Pueblos Sin Frontera, disse que mais de 150 mil migrantes ilegais encontram-se do outro lado do do muro, no México. "Muitos não terão a oportunidade de solicitar asilo. É uma situação complicada. O fim do Título 42 quer dizer uma deportação massiva. Vejo com bons olhos a expiração da norma, mas a maneira como ela está terminando é cruel e caótica. Biden não cumpriu com a promessa de uma migração mais humana", comentou, por telefone.
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