Itália

Justiça italiana investiga policiais que agrediram brasileira trans em Milão

Vídeo gravado por testemunha, e que circula nas redes sociais, mostra quatro policiais agredindo uma mulher transexual com chutes e cassetete

Aline Brito
postado em 25/05/2023 23:35 / atualizado em 25/05/2023 23:35
 (crédito: Reprodução/Twitter @marcofurfaro)
(crédito: Reprodução/Twitter @marcofurfaro)

A justiça italiana afirmou, nesta quinta-feira (25/5), que abriu investigação para apurar a conduta de quatro policiais gravados agredindo uma brasileira transexual em Milão. A gravação, feita por testemunhas, foi compartilhada nas redes sociais e mostra os policiais municipais usando spray de pimenta e batendo na mulher com cassetete e chutes.

O caso ocorreu na quarta-feira (24/5). Ao jornal italiano Corriere della Sera, a brasileira agredida, identificada como Bruna, contou que estava discutindo com um grupo de peruanos que proferiram insultos transfobicos contra ela, quando foi presa pela polícia local sem motivo aparente.

Dentro da viatura, ela disse que começou a reclamar e os policiais a mandaram ficar quieta, foi quando bateu a cabeça contra o vidro que separa o banco do passageiro da parte da frente dos carros oficiais usados na Itália, como forma de protesto e, então, as agressões começaram. “O (policial) chefe disse para parar o carro e falou ‘agora vamos dar uma surra nele’. Ele tentou agarrar meu cabelo para me tirar, mas eu o empurrei e saí correndo. Tentei me esconder num canteiro, mas me encontraram”, revelou Bruna.

Ao sair da viatura, a brasileira foi atingida com chutes e golpes de cassetete. “Então eles me algemaram e, antes de voltar para o carro, borrifaram spray de pimenta nos meus olhos novamente. A queimação me deixou louca”, detalhou. “Foi terrível. Senti-me tratada como um cão. Levantei as mãos, pedi para não me baterem. Eu estava tão assustada. Agora quero processá-los”, completou.

Bruna tem 41 anos, é natural de Fortaleza e mora em Milão há 29 anos. Segundo testemunhas, ela é conhecida dos moradores da região onde foi agredida e aparenta ter problemas mentais. “Não é a primeira vez que ela mostra sinais de perturbação”, alegou um nativo. “É uma pessoa que evidentemente sofre de doença mental . É muito doloroso e definitivamente precisa de tratamento”, opinou outro morador.

A versão da polícia diz que Bruna assediou crianças; testemunhas negam 

O relato da polícia difere da versão apresentada pela brasileira ao jornal italiano. De acordo com os policiais, Bruna foi presa depois que pais de alunos ligaram para as autoridades reclamando da presença dela em frente a uma escola, onde estaria “se exibindo” para as crianças nos arredores da instituição de ensino.

Bruna negou as alegações e reconheceu que estava nervosa, mas não se aproximou das crianças. “Não me despi e não incomodei nenhuma criança. Não havia crianças lá. Estava nervosa, é verdade. Eu estava discutindo com cinco peruanos bêbados que me insultavam”, garantiu.

Um dos moradores de um prédio próximo ao local onde o vídeo foi gravado confirmou que não haviam crianças nos arredores. “Tenho visto poucas crianças passando com seus pais. A entrada da escola é longe, é em outra zona”, contou o homem ao Corriere della Sera.

A repercussão do vídeo nas redes sociais causou reações da classe política italiana. O prefeito de Milão, Beppe Sala, garantiu à imprensa local que os policiais envolvidos na situação foram retirados das ruas e estão “destacados para os serviços internos” até que as investigações sobre a abordagem sejam concluídas. “Estão em andamento verificações do Comando para entender o ocorrido e avaliar possíveis comunicações à autoridade judiciária e eventuais medidas disciplinares”, revelou Sala.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação