Ucrânia

Onda de drones atinge prédios e espalha medo pelas ruas de Moscou

Em bombardeio sem precedentes desde o início da guerra, aeronaves não tripuladas danificam prédios em Moscou e deixam ao menos dois feridos. Putin acusa Kiev de intimidação e promete retaliação

Rodrigo Craveiro
postado em 31/05/2023 06:00
Perito moscovita inspeciona danos causados por destroços de avião teleguiado em prédio: Ucrânia nega envolvimento -  (crédito: Kirill Kudryavtsev/AFP)
Perito moscovita inspeciona danos causados por destroços de avião teleguiado em prédio: Ucrânia nega envolvimento - (crédito: Kirill Kudryavtsev/AFP)

Por volta das 6h desta segunda-feira (zero hora em Brasília), a capital da Rússia foi surpreendida pelo barulho de drones seguido de explosões. Aeronaves não tripuladas caíram na região oeste de Moscou, deixando pelo menos dois feridos e causando danos em edifícios residenciais. Pela primeira vez em 461 dias de guerra, civis moscovitas foram alvos de um amplo ataque aéreo, classificado por Vladimir Putin como um "claro sinal de atividade terrorista". Horas antes, a Ucrânia tinha registrado um novo bombardeio "em larga escala" durante a noite, também com drones. A Força Aérea ucraniana anunciou ter derrubado 29 dos 31 aviões controlados remotamente e com explosivos, "quase todos perto da capital e no céu de Kiev". 

O presidente russo acusou a Ucrânia de querer aterrorizar a população com os ataques de ontem.  "O regime de Kiev escolheu um caminho diferente — o caminho das tentativas de intimidar a Rússia e os cidadãos da Rússia, e dos bombardeios contra prédios residenciais", declarou o chefe do Kremlin, que sinalizou com uma retaliação. "Estamos preocupados com as tentativas de evocar uma resposta da Rússia. Parece que é isso que eles (os ucranianos) querem… Kiev nos provoca a espelhar ações. Veremos o que fazer sobre isso", avisou. Pelo menos 25 drones foram usados na incursão, entre eles o UJ-22, de fabricação ucraniana. 

A Rússia sustenta que detectou e neutralizou oito aparelhos não tripulados, embora reconheça que destroços tenham caído sobre prédios. Vídeos divulgados pelas redes sociais mostram drones em voos a baixa altitude e um dos aparelhos explodindo no céu, após ser atingido pelo sistema de defesa. Apesar de negar o envolvimento da Ucrânia nos ataques, Mykhailo Podolyak — conselheiro do presidente Volodymyr Zelensky — sugeriu que os cidadãos moscovitas mereceram. "Eu direi algumas coisas paradoxais e vocês poderão analisá-las. Em primeiro lugar, sem sombra de dúvidas, Moscou gradualmente se afunda na névoa da guerra, com uma sensação bastante desejada. É claro que queremos que as pessoas que começaram essa grande guerra europeia sintam-se como se estivessem vivendo em um estado de perigo", comentou em um programa em ucraniano transmitido pelo YouTube. 

Durante a visita do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, a Estocolmo, um porta-voz da chancelaria de Washington declarou que os EUA não apoiam ataques dentro do território russo. "No geral, não apoiamos os ataques dentro da Rússia. Temos nos concentrado em fornecer à Ucrânia o equipamento e o treinamento necessários para retomar seu próprio território soberano", disse.  No entanto, o funcionário do Departamento de Estado condenou a invasão iniciada por Putin. "A Rússia começou esta guerra não provocada contra a Ucrânia. A Rússia poderia terminá-la a qualquer momento, retirando suas forças da Ucrânia, ao invés de lançar ataques brutais contra as cidades e o povo da Ucrânia todos os dias."

Líder do Grupo Wagner, formado por mercenários aliados a Putin, Yegeny Prigozhin reagiu com fúria e culpou o Ministério da Defesa russo pelo ataque sem precedentes. "Por que diabos vocês estão permitindo que esses drones voem para Moscou? Deixem suas casas queimarem. (...) O que as pessoas comuns devem fazer quando drones com explosivos colidem com suas janelas? Como cidadão, estou profundamente indignado com o fato de essa escória ficar quieta com suas bundas sujas de cremes caros", afirmou à agência de notícias Reuters.

A jornalista russa Irina Ephir, 44 anos, mora no centro de Moscou e estava distante dos locais atacados. "Não tenho medo e, para dizer a verdade, acho que nenhum moscovita está receoso ou preocupado. Nervoso, talvez", disse ao Correio. "Eu acredito que nosso sistema de defesa antiaérea é o melhor do mundo. Também não sei o que poderia fazer para evitar ataques de drones. Sair da cidade está fora de cogitação."

Drone é flagrado sobrevoando Moscou, no início da manhã de ontem: guerra atinge novo patamar
Drone é flagrado sobrevoando Moscou, no início da manhã de ontem: guerra atinge novo patamar (foto: Fotos: Twitter)

Em Kiev, Peter Zalmayev — diretor da organização não governamental Eurasia Democracy Initiative — avaliou à reportagem que os incidentes de ontem em Moscou foram "muito ousados". "O impacto dessa ação militar é altamente simbólico. Eu diria que ele não irá além de danos à infraestrutura russa. A ofensiva com os drones expôs a vulnerabilidade das defesas da Rússia e remontou à ideia de que, quando se imaginava que a guerra seria ganha em uma semana, drones sobrevoam Moscou, 15 meses depois."

Diretor do instituto para relações de governo (em kiev), Artem Oliinyk ressaltou ao Correio que vários drones atingiram, nos últimos meses, fábricas e bases militares em Moscou e imediações. "Agora, vimos um ataque massivo, e os dispositivos superaram o sistema de defesa aérea russo. Enquanto os russos travam uma guerra diária contra a Ucrânia e lançam dezenas de alvos todos os dias, um ataque a Moscou é uma necessidade militar justificável. Acho que no futuro esses ataques não serão tão massivos, mas os golpes vão se intensificar", previu. Ele alertou que a guerra se move para o território russo, o que pode forçar Moscou às negociações de paz. 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

  • Coluna de fumaça sobe atrás de prédios residenciais: ofensiva não fez qualquer distinção de alvos militares
    Coluna de fumaça sobe atrás de prédios residenciais: ofensiva não fez qualquer distinção de alvos militares Foto: Twitter
  • Drone é flagrado sobrevoando Moscou, no início da manhã de ontem: guerra atinge novo patamar
    Drone é flagrado sobrevoando Moscou, no início da manhã de ontem: guerra atinge novo patamar Foto: Fotos: Twitter
  • O flagrante de uma explosão em um campo aberto: alguns aparelhos teriam sido interceptados
    O flagrante de uma explosão em um campo aberto: alguns aparelhos teriam sido interceptados Foto: Twitter
  • Durante entrevista, Vladimir Putin responde a uma questão sobre o suposto contra-ataque da Ucrânia
    Durante entrevista, Vladimir Putin responde a uma questão sobre o suposto contra-ataque da Ucrânia Foto: Gavriil Grigorov/AFP
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação