EMPRESA

"Queremos que a pornografia seja chata", diz novo dono do Pornhub

Em maio, os sites da empresa saíram do ar no estado de Utah, nos Estados Unidos, depois de receberem a ordem de verificar a idade dos usuários

Agence France-Presse
postado em 27/06/2023 13:02 / atualizado em 27/06/2023 13:02
 (crédito: Ethan Miller / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP )
(crédito: Ethan Miller / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP )

Os governos deveriam parar de combater os sites de pornografia e, em vez disso, se orgulharem da expressão sexual e ajudarem a normalizar a pornografia, o que a tornará "chata", declarou à AFP o novo proprietário do Pornhub, que enfrenta um mar de problemas legais.

O fundo de investimentos canadense Ethical Capital Partners (ECP) comprou a MindGeek, empresa à frente do Pornhub, há três meses, passando a controlar também vários outros sites do ramo, como o YouPorn.

Em maio, os sites da empresa saíram do ar no estado de Utah, nos Estados Unidos, depois de receberem a ordem de verificar a idade dos usuários.

E na França, proprietários de sites e reguladores estão em negociações há meses sobre como aplicar na prática a verificação de idade obrigatória, uma lei de 2020.

Dois dos sites da MindGeek não implementaram nenhum tipo de verificação e podem ser proibidos no país europeu. A decisão judicial é esperada para 7 de julho.

"Não queremos nenhum usuário menor de idade em nossos websites", garantiu o fundador do ECP, Solomon Friedman, em entrevista à AFP.

Mas Friedman rejeitou a ideia de que a responsabilidade deva recair sobre os sites da internet e pediu que os sistemas operacionais encontrem uma solução.

"Apoiamos firmemente as soluções de verificação de idade que consigam duas coisas: proteger as crianças efetivamente e não expor dados pessoais", afirmou.

"A única solução que alcança ambos esses objetivos é a verificação baseada no dispositivo ou no navegador", disse, acrescentando que seria um "passo muito simples para o Google e a Apple".

Sob pressão 

A MindGeek se viu em apuros em 2020 quando o The New York Times publicou alegações de que seus sites continham material que mostrava estupros e sexo com menores.

A reportagem despertou uma forte pressão dos reguladores em vários países. E a Visa e a MasterCard pararam de processar pagamentos nesses sites.

Os proprietários passaram dois anos tentando vender a companhia, que é sobretudo sediada no Canadá, mas tem uma complexa estrutura corporativa presente em diversos paraísos fiscais pelo mundo.

Agora, os novos donos - entre eles, dois advogados, um ex-policial e um investidor italiano que fez fortuna com a venda legal de cannabis - buscam afastar a empresa das denúncias.

Friedman disse que a MindGeek mudou completamente nos últimos anos. Contou que conseguiram eliminar oito milhões de vídeos em 2021, algo que a AFP não conseguiu verificar.

"Um pedido de remoção de conteúdo automaticamente faz com que esse conteúdo seja removido', afirmou. "Revisamos depois que é removido."

Além disso, os usuários que fazem upload na plataforma precisam se identificar. Tudo é escaneado por algoritmos para filtrar material protegido por direitos autorais e depois visto por funcionários, antes de ficar disponível online.

Expressão sexual 

Segundo Solomon, sua companhia foi contratada inicialmente apenas para checar se a MindGeek estava trabalhando dentro da lei.

"E o que descobrimos foi que não apenas ela cumpre a lei, mas era uma oportunidade de investimento extraordinária, mas uma oportunidade que exige habilidades especializadas" explicou.

A ECP decidiu que tinha essas habilidades e fez a aquisição, embora não tenha sido um caminho fácil desde então.

Nos Estados Unidos, além de Utah, também enfrentou problemas legais na Louisiana. Enquanto na França, Solomon não descarta a possibilidade de que seus sites tenham que ser retirados do ar.

A questão tem tido destaque na agenda política desde que o presidente Emmanuel Macron, em sua campanha pela reeleição no ano passado, prometeu priorizar a proteção das crianças contra a pornografia.

O ministro francês da Transição Digital, Jean-Noel Barrot, desafiou a ECP a explicar como vai agir para se manter dentro da lei.

Solomon disse que entrou em contato com o gabinete de Barrot e prometeu produzir um relatório em breve, insistindo que sua empresa estava comprometida a "falar aberta e orgulhosamente sobre a indústria pornô".

"Penso que a sociedade avançou em uma direção em que nos orgulhamos da expressão sexual", declarou. "Pelo fato de ser para adultos, será chato, assim como a cannabis (legalizada) no Canadá se tornou chata."

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação