Estados Unidos

Trump se declara inocente de tentar reverter eleições de 2020

É a terceira vez que o magnata republicano comparece ao tribunal, para ser indiciado, em apenas quatro meses

Rodrigo Craveiro
postado em 04/08/2023 03:55
Trump desembarca de seu avião "Trump Force One", no Aeroporto Nacional Ronald Reagan, em Arlington (Virgínia)  -  (crédito: Olivier Douliery/AFP)
Trump desembarca de seu avião "Trump Force One", no Aeroporto Nacional Ronald Reagan, em Arlington (Virgínia) - (crédito: Olivier Douliery/AFP)

O ex-presidente dos Estados Unidos declarou-se inocente, depois de ser detido temporariamente, indiciado e fichado por quatro acusações federais relacionadas à tentativa de reverter o resultado das eleições de 2020: conspiração para fraudar os Estados Unidos; conspiração para obstruir um processo oficial; obstrução e tentativa de obstrução de um procedimento oficial; e conspiração contra direitos. É a terceira vez que o magnata republicano comparece ao tribunal, para ser indiciado, em apenas quatro meses. 

Os crimes, investigados pelo procurador especial Jack Smith, são considerados os mais graves entre todos os casos pelos quais o magnata republicano responde na Justiça — a posse ilegal de documentos sigilosos e sensíveis à segurança nacional; uma fraude envolvendo chantagem contra a ex-atriz pornô Stormy Daniels, com quem teria mantido um relacionamento extraconjugal; e abuso sexual cometido contra uma jornalista. 

Trump desembarcou no Aeroporto Nacional Ronald Reagan, em Washington, às 15h (16h em Brasília) e seguiu, em comboio, até o Tribunal E. Barrett Prettyman. O trajeto durou cerca de 15 minutos. Simpatizantes e opositores ao ex-presidente se concentraram nos arredores do prédio da Corte e ostentaram bandeiras com a imagem do republicano e cartazes que pediam sua prisão. Dentro do tribunal, Trump sentou-se entre os seus dois advogados. O ex-presidente permaneceu com um papel à sua frente e, algumas vezes, Todd Blanche — um dos dois defensores — sussurrou em seu ouvido, segundo o jornal The Washington Post. O procurador especial Jack Smith também estava na sala de audiência da Corte.

"Esse é o indiciamento mais importante da história dos Estados Unidos. É mais importante do que os indiciamentos dos conspiradores do caso Watergate ou dos espiões da bomba atômica", assegurou à reportagem Allan Lichtman, historiador político da American University (em Washington). "Um presidente dos Estados Unidos está sendo acusado de minar as bases da democracia americana."

Lichman aposta que o indiciamento não mudará os cálculos eleitorais para 2024. "Muito dependerá do resultado do julgamento. Suponhamos que Trump seja condenado de sabotar a democracia americana e sentenciado à prisão. Nesse caso, será difícil acreditar que ele possa ser um candidato viável na eleição, independentemente do resultado das primárias republicanas", comentou.

Barbara McQuade, professora da Faculdade de Direito da Universidade de Michigan e ex-procuradora federal chefe para o Distrito Leste de Michigan, afirmou ao Correio que, embora Trump tenha sido indiciado em outros dois casos, a acusação de conspiração nas eleições de 2020 é "muito mais significativa". "O ex-presidente é acusado de atacar a própria democracia. É uma alegação séria, quase traiçoeira", explicou. Ainda assim, a especialista diz ter certeza de que alguns eleitores manterão apoio a Trump. "Ou porque acreditam em suas alegações infundadas de perseguição política ou estão dispostos a ignorar seus supostos crimes para alcançar sua agenda política preferida. Acho que os eleitores moderados que se preocupam com a lei com a ordem acharão sua alegada conduta terrível", disse McQuade.

Com os Estados Unidos totalmente polarizados e com 60% do Partido Republicano acreditando que Trump vencerá as eleições de 2024, James Naylor Green — professor de história política da Universidade Brown e discípulo do falecido brasilianista Thomas Skidmore — lembrou ao Correio que os simpatizantes do ex-presidente sustentam que ele é vítima de perseguição e de uma manipulação dos instrumentos do governo pelo Partido Democrata. "Trump usa vários argumentos, que são falsos, mas estão sendo repetidos. O primeiro é o de que ele tinha todo o direito de falar que as eleições foram fraudulentas e que qualquer argumento contrário representa uma violação da Primeira Emenda à Constituição", disse.

Green aposta que o indiciamento desta quinta-feira (3/8) consolidará a base eleitoral de Trump. "O fato ele sofrer três processos — e daqui a pouco será um quarto, com a tentativa de fraudar eleitores no estado da Geórgia — fará com que os independentes fiquem cada vez mais cansados de Trump e deixem de apoiá-lo", avaliou. "Para as eleições de 2024, creio que Trump ganhará a indicação para ser o candidato do Partido Republicano. Porém, a grande dificuldade será ele vencer as eleições."

Ainda segundo Green, uma vitória do magnata no próximo ano dependerá de dois fatores: a capacidade do presidente Joe Biden de mobilizar a base democrata e conversar com os eleitores independentes, as pessoas que não têm uma filiação partidária, convencendo-as de que as medidas aprovadas no Congresso têm transformado a realidade da população. "Tudo está aberto. Acho que esse novo indiciamento enfraquecerá Trump e penso ser difícil sua eleição", disse.

 

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