JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

Brasileiros sofrem novo ataque racista durante evento com o papa em Lisboa

Quilombolas que participaram do megaevento comandado pelo papa são agredidos por jovens que imitam sons de macacos. Eles pedirão ajuda ao Consulado do Brasil na capital portuguesa

Vicente Nunes - Correspondente
postado em 06/08/2023 17:55 / atualizado em 06/08/2023 18:07
Três dias antes, outro grupo de jovens brasileiros — mulheres trans e negros da periferia — também foi vítima de preconceito -  (crédito: Material cedido ao Correio)
Três dias antes, outro grupo de jovens brasileiros — mulheres trans e negros da periferia — também foi vítima de preconceito - (crédito: Material cedido ao Correio)

Lisboa — Um grupo de quilombolas brasileiros que participaram da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) registrou boletim de ocorrência sob alegação de racismo. O caso ocorreu na sexta-feira (04/08), logo depois da via-sacra realizada no Parque Eduardo VII, em que o papa Francisco ouviu as principais aflições que afetam os jovens, entre elas, a intolerância, o desemprego e a pobreza. A queixa foi formalizada em nome de Marcos Vinícius Vieira Reis, que vive em um quilombo de Ilhéus, Bahia. “Foi uma agressão pesada”, disse ao Correio. “Vários jovens brancos começaram a gritar imitando macacos, uma tristeza”, acrescentou.

O boletim foi feito na 21ª esquadra (delegacia de polícia). Um advogado da Educrafro, instituição que dá suporte a afrodescendentes, acompanhou a denúncia. Três dias antes, outro grupo de jovens brasileiros — mulheres trans e negros da periferia — também foi vítima de preconceito. Questionado pelo Correio sobre esse tipo de ocorrência, o diretor do Departamento de Operações da Polícia de Segurança Pública (PSP), Pedro Moura, disse que há disposição das autoridades em punir crimes de intolerância, seja racial, seja de gênero ou religiosa. Nesta segunda-feira (07/08), os brasileiros irão ao Consulado do Brasil em Lisboa em busca de ajuda.

Carta a Francisco

No total, 18 brasileiros foram convidados pelos organizadores do megaevento para reforçar a diversidade entre os participantes. Três deles conseguiram entregar, no sábado (05/08), uma carta com reivindicações a Dom Américo Aguiar, coordenador-geral da Jornada Mundial da Juventude em Portugal. A meta é que o documento chegue às mãos de Francisco. Entres os pontos principais estão o fim da violência que dizima jovens negros da periferia e da intolerância religiosa no Brasil, que afeta, sobretudo, os templos de matriz africana, e maior acesso da população negra a instituições de ensino da Igreja católica.

Segundo Gilmar Santos, que é médico quilombola, a recepção de Dom Américo foi muito boa. “Ele nos atendeu com toda a gentileza. Agora, esperamos que, efetivamente, nossas reivindicações cheguem ao papa Francisco”, afirmou. Para ele, é importante que o pontífice use toda a sua influência para convencer as autoridades brasileiras de que é preciso dar mais atenção aos afrodescendentes, que representam 56,1% da população do país, mas são pouco atendidos pelo Orçamento da União, pois enfrentam dificuldades de acesso a serviços básicos, como o de saúde.

  • Brasileiros são alvo de racismo em Lisboa durante a JMJ
    Gilmar Santos, médico quilombola, entregou uma carta de reivindicações a Dom Américo Aguiar, para que ele encaminhe ao papa. Foto: Material cedido ao Correio
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    Multidão participa da missa de abertura da Jornada Mundial da Juventude, no Parque Eduardo VII, em Lisboa: pontífice chega hoje Foto: Fotos: Vicente Nunes/CB/D.A.Press
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