África

Níger: Países fazem esforço diplomático para tentar reverter golpe

Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao) realiza cúpula, na Nigéria, para tentar solução negociada que restabeleça o governo democrático do Níger

Rodrigo Craveiro
postado em 08/08/2023 06:01
Carcaças de carros diante da sede do partido do líder deposto, em Niamey   -  (crédito: AFP)
Carcaças de carros diante da sede do partido do líder deposto, em Niamey - (crédito: AFP)

Após o golpe militar que depôs o presidente do Níger, Mohamed Bazoum, a Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao) reuniu-se em Abuja, capital da Nigéria, para tentar encontrar uma solução para a crise. A ideia é restabelecer o governo de Bazoum e a ordem constitucional no país de 25,3 milhões de habitantes. "As autoridades da Cedeao abordarão a situação política e os recentes desenvolvimentos no Níger" na cúpula, informou o bloco. A Junta Militar que tomou o poder desprezou o ultimato da Cedao para recuperar a democracia até a zero hora desta segunda-feira (7/8). Com receio de uma intervenção armada de nações vizinhas, os militares golpistas fecharam o espaço aéreo em todo o território nacional. 

Os Estados Unidos reforçaram que ainda é possível pôr um fim ao golpe por meio da via diplomática. "Definitivamente, a janela de oportunidade segue aberta. Acreditamos que a junta deve se afastar e deixar que o presidente Bazoum retorne às suas funções", declarou aos jornalistas o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller. Washington tentou colocar panos quentes na ameaça da Cedeao e destacou que a intervenção militar sempre foi um "último recurso". Segundo Miller, os EUA estão centrados em tentar encontrar uma solução diplomática. 

Diretor de uma empresa de consultoria em questões económicas, financeiras e fiscais, em Niamey, capital do Níger, Hamma Hamadou disse ao Correio que é preciso analisar as raízes do golpe. "A classe dominante arrogante que chegou ao poder em um processo eleitoral ambíguo detém uma riqueza extrema. A sensação era de que esse poder parecia por demais subserviente aos interesses econômicos, diplomáticos e de segurança externos", afirmou. "Por outro lado, temos aborrecimentos que se acumulam no dia-a-dia da população: a ineficácia das políticas públicas, a insegurança generalizada, a fome, doenças, analfabetismo, desemprego em massa, alto custo de vida combinado com inflação, tráfico ilícito de todos os tipos, extrema pobreza para 43% da população, desigualdade de oportunidades, injustiça, nepotismo, corrupção e impunidade. Tudo isso acabou minando a paciência dos nigerinos", acrescentou. 

Para Hamadou, além das pesadas e insuportáveis sanções econômicas, comerciais e financeiras impostas ao Níger, se a Cedeao realmente concretizar a ameaça de intervenção armada, a população ficará com a Junta Militar no poder, por ver um desrespeito à soberania. "A única saída razoável para essa disputa política interna no Níger passa por soluções negociadas entre os protagonistas para preservar a integridade física de Bazoum, sua família e os membros de seu governo presos."

 

 

Financiador do genocídio em Ruanda deve ser libertado

Félicien Kabuga, considerado financiador do genocídio de Ruanda
Félicien Kabuga, considerado financiador do genocídio de Ruanda (foto: MICT/AFP)

Considerado um dos principais financiadores do genocídio de Ruanda — a morte de 800 mil pessoas, em 1994 —, Félicien Kabuga não tem condições de ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional. A conclusão é de um grupo de juízes de recurso da ONU, que defendeu a urgente libertação do réu. Aos 88 anos e preso desde 2020, o empresário sofre de demência. "Acho que a recomendação dos juízes está correta. Uma pessoa não pode se defender se ela tem demência. O julgamento não seria justo, apesar da queixa de pessoas que se veem como vítimas", afirmou ao Correio Anaise Kanimba, filha de Paul Rusesabagina, considerado herói durante o genocídio, ao abrigar mais de 1.200 pessoas no Hotel des Milles Collines, de sua propriedade, em Kigali, capital de Ruanda. "Eles não se conheceam pessoalmente", contou Anaise. Segundo ela, o pai ainda se recupera dos 939 dias de prisão — ele foi libertado em março passado. "O genocídio foi um importante capítulo em sua vida. Ele viu seres humanos fazerem o inimaginável contra outros. Viu do que as pessoas são capazes. Em seu hotel, nem uma única pessoa morreu. Sua história naqueles dias impactou o resto de sua vida", acrescentou. Rusesabagina inspirou o filme Hotel Ruanda, de 2004, estrelado por Don Cheadle, Nick Nolte e Joaquin Phoenix. Na foto da direita, datada de maio de 2003, dois meses após a libertação de Paul, Anaise aparece ao lado dele da mãe, Tatiana.

 

 

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