A chave na lapela esquerda do paletó simbolizava o direito de retorno dos refugiados palestinos, espalhados pelo Líbano, Síria e outros países do Oriente Médio. Mas o discurso de Mahmud Abbas na tribuna da Assembleia Geral da ONU foi bem além do simbolismo. O presidente palestino condicionou a paz na região à criação de um Estado independente, acusou Israel de cometer um apartheid contra seu povo e avisou: "Nós continuaremos com nossa resistência a essa ocupação brutal até que ela seja derrotada de nossa terra". "Essa ocupação, a qual desafia suas resoluções, que somam mais de mil, viola os princípios do direito internacional e da legitimidade, enquanto corre contra o tempo para alterar a realidade histórica, geográfica e demográfica sobre o tempo, destinada a se perpetuar e a consolidar o apartheid", declarou Abbas.
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De acordo com ele, o povo palestino "defende sua terra e seus direitos legítimos, por meio de uma resistência popular pacífica, como opção estratégica para a autodefesa, e para liberar a terra de uma ocupação colonial que não crê na paz". Abbas afirmou que Israel não tem consideração pelos princípios da verdade e da Justiça e pelos valores humanos. O presidente denunciou a construção "frenética", por parte de Israel, de túneis sob e no entorno da Mesquita de Al-Aqsa — o terceiro local mais sagrado para o islã —, ameaçando-a de desabamento. "Os líderes deste governo têm se gabado de suas políticas de apartheid contra o nosso povo", lamentou Abbas, que instou os países-membres da ONU a reconhecerem o Estado da Palestina.
Embaixador
O Correio conversou com Ibrahim Alzeben, embaixador palestino em Brasília, enquanto ele aguardava um voo para Amã, de onde seguiria por terra para Ramallah (Cisjordânia). "O senhor presidente fez uma leitura real dos acontecimentos, dos 75 anos de abandono, de negligência e de negação dos nossos direitos. Essa leitura prevê que, durante as últimas sete décadas, não houve paz na região. Isso porque não os direitos nacionais do povo palestino não foram efetivados, face a negativa de Israel de cumprir com o direito internacional", disse.
Alzeben comentou o encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Abbas, na terça-feira, à margem da Assembleia Geral da ONU. "É um motivo de felicidade para nós que o Brasil mantenha sua posição de apoio à questão palestina. Trata-se de um apoio decisivo e em concordância com o direito internacional e com a política externa brasileira, de equilíbrio. Nós agradecemos ao presidente Lula e ao Brasil.
EU ACHO...
"Desde sempre, o senhor presidente chamou a atenção sobre a dura realidade do povo palestino e sobre a negligência do governo de Israel. Quem visita a região percebe um muro. O que significa um muro? O que significa a existência de ruas e estradas exclusivas para os colonos? Isso não é apartheid?"
Ibrahim Alzeben, embaixador palestino em Brasília
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