As relações podem ser próximas, os apertos de mão podem ter sido firmes, mas o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, teve um trabalho duro durante a sua viagem aos Estados Unidos e ao Canadá.
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, prometeu apoiar a Ucrânia “durante o tempo que for necessário” contra a invasão da Rússia, e tem o apoio de todos os partidos nesse esforço.
O bolso dos Estados Unidos é mais fundo, mas a questão política é muito mais complicada.
Zelensky conseguiu um pacote de ajuda militar de US$ 325 milhões da Casa Branca, mas não foi o valor de US$ 24 bilhões que ele esperava. A proposta de ajuda militar bilionária está parada no Congresso, que está quase paralisado devido a discordâncias sobre o orçamento.
As dificuldades não param por aí.
Além de encontrar o presidente americano Joe Biden, o líder da Ucrânia também teve reuniões com políticos republicanos que lutam para conter o crescente ceticismo no seu partido.
“Estamos protegendo o mundo livre, o que deveria receber apoio dos republicanos”, diz um conselheiro do governo ucraniano em Kiev.
“Foi mais difícil quando a guerra começou, porque era um caos”, diz ele. "Agora, podemos ser mais específicos em nossos pedidos, pois sabemos o que os nossos aliados têm e onde armazenam."
Mas cada vez mais os países aliados estão tendo que lidar com questões como “por que a Ucrânia deveria continuar recebendo um cheque em branco?” e “como o país pretende vencer a guerra?”.
O presidente ucraniano tem tentado responder a ambas questões no cenário mundial. Agora, parece que ele tem feito mais negociações do que campanha de guerra — justamente para manter a ajuda ocidental chegando.
E isso em uma semana em que Kiev se desentendeu com um dos seus aliados mais leais, a Polônia, em uma disputa por causa dos cereais ucranianos.
A proibição das importações ucranianas levou o presidente Zelensky a acusar indiretamente Varsóvia de "ajudar a Rússia".
O presidente polonês, Andrzej Duda, comparou então a Ucrânia a uma “pessoa que está se afogando e com a qual você pode se afogar junto.”
A situação desde então esfriou.
Mesmo para um líder experiente em tempos de guerra, estes são tempos difíceis para o presidente ucraniano em termos diplomáticos.
As próximas eleições em países parceiros como a Polônia, a Eslováquia e os EUA tornam o cenário nebuloso. Alguns candidatos estão dando prioridade às questões internas em detrimento do apoio militar à Ucrânia.
“A necessidade de equilibrar a ajuda militar com a satisfação dos eleitores torna as coisas realmente complicadas”, explica Serhiy Gerasymchuk, do Prism, um centro de pesquisa em política externa ucraniano.
"A Ucrânia tem de ponderar a promoção dos seus interesses, utilizando todos os instrumentos possíveis, tendo simultaneamente em conta a situação nos países parceiros e na União Europeia. É um desafio”, diz Gerasymchuk.
Este é o tipo de questão com a qual o líder da Rússia, Vladimir Putin, não precisa de se preocupar.
É por isso que Kiev tenta retratar esta guerra como uma luta não só pela sua soberania, mas pela democracia.
Após a queda da União Soviética, a Ucrânia, a Rússia, os EUA e o Reino Unido fizeram um acordo com o Memorando de Budapeste de 1994.
A Ucrânia entregou à Rússia as armas nucleares soviéticas deixadas no seu solo em troca da promessa de que a sua integridade territorial seria respeitada e defendida pelos outros países que assinaram o tratado.
Nove anos de agressão russa fizeram com que esse acordo parecesse uma promessa quebrada.
Kiev também está tentando um plano de longo prazo e, ao mesmo tempo, buscado interagir melhor com países como o Brasil e a África do Sul, que têm sido apáticos em relação à invasão da Rússia.
É uma estratégia que não trouxe resultados imediatos.
“A verdade é que dependemos do sucesso na linha da frente”, afirma o conselheiro do governo ucraniano.
Ele argumenta que os meios de comunicação simplificaram muito a contraofensiva da Ucrânia.
Para ele, a mídia se concentrou demais no teatro da linha da frente, onde os ganhos foram marginais, e menos nos sucessos substanciais dos ataques com mísseis na Crimeia e nos ataques contra navios de guerra russos.
A Ucrânia sempre afirmou que não vai deixar que a “apressem” na sua contraofensiva. Com a política desta guerra cada vez mais ligada aos combates, isso será testado mais do que nunca.
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