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Israel-Hamas: o histórico do conflito

Israelenses e palestinos mantiveram conversações de paz entre as décadas de 1990 e 2010, entremeadas com surtos de violência. Mas os acordos nunca saíram do papel.

Combatente da organização judaica Haganá, pouco antes do início da Guerra Árabe-Israelense de 1948. -  (crédito: Getty Images)
Combatente da organização judaica Haganá, pouco antes do início da Guerra Árabe-Israelense de 1948. - (crédito: Getty Images)
BBC
BBC Geral
postado em 14/10/2023 21:19

No sábado (7/10), o grupo militante palestino Hamas lançou um ataque sem precedentes contra Israel, com centenas de combatentes infiltrados nas comunidades próximas à Faixa de Gaza.

Pelo menos 1,3 mil israelenses foram mortos e dezenas de soldados e civis, incluindo mulheres e crianças, são mantidos em Gaza como reféns.

Milhares de palestinos também foram mortos em inúmeros ataques aéreos do exército israelense à Faixa de Gaza, em represália às ações do Hamas. Israel impôs um bloqueio total ao território, impedindo a entrada de alimentos, combustíveis e outros bens essenciais.

Israel também está reunindo suas forças ao longo da fronteira com a Faixa de Gaza e os palestinos estão se preparando para uma operação em terra que poderá aumentar ainda mais o número de mortos.

Mas qual foi o histórico que levou aos conflitos atuais?

Como era Israel antes de 1948 e o que foi a Declaração Balfour?

O Reino Unido assumiu o controle da região conhecida como Palestina após a Primeira Guerra Mundial. Até então, ela era governada pelo Império Otomano, que foi vencido no conflito.

A região era habitada por uma minoria judaica e uma maioria árabe, além de outros grupos étnicos menores.

A tensão entre judeus e muçulmanos aumentou quando a comunidade internacional concedeu aos britânicos a tarefa de formar um "lar nacional" para o povo judeu na Palestina.

A decisão foi uma consequência da Declaração Balfour de 1917 – uma promessa do então secretário britânico do Exterior Arthur Balfour (1848-1930) à comunidade judaica do Reino Unido.

A declaração resultou no Mandato Britânico da Palestina, endossado pela recém-criada Liga das Nações (a organização precursora das Nações Unidas) em 1922.

Para os judeus, a Palestina era o seu lar ancestral. Mas os árabes palestinos também reivindicavam a região e se opuseram à mudança.

Entre as décadas de 1920 e 1940, aumentou o número de judeus que chegavam à região. Muitos deles fugiam das perseguições na Europa, especialmente do Holocausto nazista na Segunda Guerra Mundial.

E também aumentou a violência entre judeus e muçulmanos – e contra o mandato britânico.

Em 1947, as Nações Unidas decidiram dividir a Palestina em dois Estados separados, um judeu e o outro, árabe. Jerusalém se tornava então uma cidade internacional.

O plano foi aceito pelos líderes judeus. Mas os árabes o rejeitaram e a ideia nunca foi implementada.

Como e por que foi criado o Estado de Israel?

Incapazes de resolver o problema, os britânicos se retiraram em 1948 e os líderes judeus declararam a criação do Estado de Israel.

A intenção era que o novo país servisse de destino seguro para os judeus perseguidos, além de oferecer um território nacional para o povo judeu.

As lutas entre as milícias árabes e judaicas se intensificaram por meses e, um dia depois de Israel declarar a criação do seu Estado, cinco países árabes atacaram o território.

Centenas de milhares de palestinos fugiram ou foram forçados a sair de casa, no episódio conhecido como Al-Nakba (a "Catástrofe").

Um cessar-fogo pôs fim aos combates no ano seguinte, quando Israel controlava a maior parte do território.

A Jordânia ocupou a região a oeste do rio Jordão (a Cisjordânia) e o Egito ocupou a Faixa de Gaza. Jerusalém foi dividida entre as forças israelenses, no lado ocidental, e as forças da Jordânia, a leste.

Mas, como nunca foi assinado um tratado de paz, as guerras e os combates prosseguiram ao longo das décadas seguintes.

Durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel ocupou Jerusalém Oriental e a Cisjordânia, além da maior parte das Colinas de Golã, na Síria, a Faixa de Gaza e a península do Sinai, no Egito.

A maioria dos refugiados palestinos e seus descendentes vivem na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e nos países vizinhos – Jordânia, Síria e Líbano.

Israel não permitiu que nem eles, nem seus descendentes, retornassem às suas casas. O país afirma que o seu retorno sobrecarregaria o país e ameaçaria sua existência como Estado judeu.

Até hoje, Israel ocupa a Cisjordânia e reivindica toda a cidade de Jerusalém como sua capital. Já os palestinos reivindicam Jerusalém Oriental como a capital de um futuro Estado palestino.

Os Estados Unidos são um dos poucos países do mundo que reconhecem a cidade como capital de Israel.

Nos últimos 50 anos, Israel estabeleceu assentamentos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, onde vivem hoje mais de 700 mil judeus.

O Conselho de Segurança da ONU e os governos de vários países, incluindo o Reino Unido, consideram que esses assentamentos infringem as leis internacionais. Israel rejeita a acusação.

O que é a Faixa de Gaza?

Gaza é uma estreita faixa de terra que se estende entre Israel e o mar Mediterrâneo, com uma pequena fronteira com o Egito, ao sul.

O território tem apenas 41 km de comprimento por 10 km de largura e abriga mais de dois milhões de habitantes. É um dos lugares mais densamente povoados do planeta.

Após a guerra de 1948-49, a Faixa de Gaza foi ocupada pelo Egito por 19 anos.

Fonte: Escritório Central de Estatísticas Palestino

Israel ocupou a Faixa de Gaza na Guerra dos Seis Dias, em 1967, e ali permaneceu até 2005. Foram construídos assentamentos judeus nesse período.

Israel retirou suas tropas e os assentamentos em 2005, mas manteve o controle do espaço aéreo da região, da fronteira comum e da linha costeira. A ONU ainda considera o território ocupado por Israel.

Quais são as principais divergências entre israelenses e palestinos?

Existem diversas questões que causam discórdia entre os dois lados. Algumas delas são:

Quais esforços foram feitos para resolver as divergências?

Israelenses e palestinos mantiveram conversações de paz entre as décadas de 1990 e 2010, entremeadas com surtos de violência.

No início, parecia ser possível chegar a uma paz negociada.

Uma série de conversações secretas na Noruega levou ao processo de paz de Oslo, simbolizado para sempre por uma cerimônia no gramado da Casa Branca em 1993, dirigida pelo então presidente americano Bill Clinton.

Em um momento histórico, os palestinos reconheceram o Estado de Israel, que também reconheceu seu inimigo histórico, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), como o único representante do povo palestino.

Foi então criada uma entidade independente, a Autoridade Palestina. Mas logo surgiram as divergências.

O então líder da oposição, Benjamin Netanyahu, chamou Oslo de ameaça mortal para Israel.

Os israelenses aceleraram o processo de assentamento de judeus nos territórios palestinos ocupados. O grupo militante palestino Hamas, recém-criado, enviou militantes suicidas para matar pessoas em Israel e destruir as possibilidades de acordo.

A atmosfera em Israel ficou difícil, o que acabou culminando com o assassinato do primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin por um judeu extremista, no dia 4 de novembro de 1995.

Nos anos 2000, foram realizadas tentativas para fazer reviver o processo de paz. Em 2003, as potências mundiais traçaram um plano para criar os dois Estados, que nunca foi implementado.

Os esforços de paz foram finalmente suspensos em 2014, com o fracasso das conversações entre israelenses e palestinos na capital americana, Washington.

O plano de paz mais recente foi elaborado pelos Estados Unidos, durante a presidência de Donald Trump. O primeiro-ministro israelense Netanyahu o batizou de "acordo do século", mas ele foi descartado pelos palestinos, que o consideraram parcial, e nunca saiu do papel.

Por que Israel e Gaza estão em guerra agora?

A Faixa de Gaza é governada pelo grupo militante islâmico Hamas, cujo objetivo é destruir o Estado de Israel. O grupo é considerado terrorista pelo Reino Unido e por diversas outras potências mundiais.

O Hamas venceu as últimas eleições palestinas em 2006 e assumiu o controle da Faixa de Gaza no ano seguinte, depondo o movimento rival Fatah, do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas.

Desde então, os militantes da Faixa de Gaza travaram diversas guerras contra Israel. Junto com o Egito, Israel manteve o bloqueio parcial sobre o território para isolar o Hamas e tentar impedir os ataques, particularmente os disparos indiscriminados de foguetes sobre cidades israelenses.

Os palestinos da Faixa de Gaza afirmam que as restrições impostas por Israel e seus ataques aéreos sobre áreas densamente povoadas são uma forma de punição coletiva.

Este ano é o mais mortal já registrado para os palestinos na Cisjordânia ocupada e em Jerusalém Oriental. Eles também reclamam das restrições e ações militares sendo conduzidas naquelas regiões, em resposta aos ataques mortais a israelenses.

Fonte: Escritório Central de Estatísticas de Israel

Estas tensões podem ter sido parte das razões do recente ataque do Hamas. Mas os militantes também podem estar buscando aumentar sua popularidade entre os palestinos comuns.

Suas ações incluem a manutenção de reféns para pressionar Israel a libertar alguns dos cerca de 4,5 mil palestinos mantidos nas prisões israelenses.

Quem apoia Israel no conflito atual? E quem não apoia?

A União Europeia, os Estados Unidos e outras nações ocidentais condenaram os ataques do Hamas a Israel.

Os Estados Unidos são o principal aliado de Israel. Ao longo dos anos, os norte-americanos forneceram ao Estado judeu mais de US$ 260 bilhões (cerca de R$ 1,3 bilhão) em ajuda militar e econômica e prometeram enviar mais equipamentos e munições.

Os Estados Unidos também anunciaram o envio de um porta-aviões, jatos e outros navios para o leste do Mediterrâneo.

A Rússia e a China se recusaram a condenar o Hamas e afirmam que estão mantendo contato com os dois lados do conflito. O presidente russo, Vladimir Putin, culpou a política norte-americana pela falta de paz no Oriente Médico.

Já o Irã, uma potência da região, é um dos principais apoiadores do Hamas e de outro inimigo regional de Israel, o movimento libanês Hezbollah.

O papel iraniano nos recentes ataques já foi questionado, depois dos relatos de que o país teria dado sinal verde para as ações do Hamas dias antes da sua execução. Mas Teerã negou qualquer envolvimento com o episódio.

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