Forças israelenses fazem ensaio para a invasão a Gaza

Tropas realizam ofensiva terrestre "seletiva", no norte de Gaza, com tanques e infantaria. Hamas divulga lista com nomes de 6,7 mil palestinos mortos. Especialistas avaliam estratégia de Netanyahu

Imagem de vídeo mostra blindados e veículos das Forças de Defesa de Israel (IDF) entrando em Gaza -  (crédito: IDF/AFP)
Imagem de vídeo mostra blindados e veículos das Forças de Defesa de Israel (IDF) entrando em Gaza - (crédito: IDF/AFP)
postado em 27/10/2023 06:00

Pela primeira vez desde o início da guerra, em 7 de outubro, as tropas israelenses utilizaram tanques de guerra e infantaria em uma "operação seletiva, no norte da Faixa de Gaza". De acordo com o comunicado militar das Forças de Defesa de Israel (IDF), a incursão é "parte dos preparativos para as próximas fases de combate". "Os soldados deixaram a área ao fim da atividade", acrescenta a nota. O ministro da Defesa, Yoav Gallant, fez um pronunciamento em rede nacional de televisão no qual deixou antever que os militares veem os combates contra o grupo extremista Hamas como decisivos. "Esta é uma guerra pela nossa casa, somos nós ou eles, e venceremos", prometeu. "Temos 1.400 civis e soldados assassinados, e 224 sequestrados. Estou determinado a fazer todos os esforços para devolver os reféns às famílias", garantiu. O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, revelou que seus soldados mataram "milhares" de integrantes da facção. 

As IDF divulgaram imagens de vídeo mostrando uma coluna de blindados e escavadeiras que atravessam uma cerca de fronteira. Outra gravação parece exibir um ataque aéreo e edifícios atacados com munições, com estilhaços voando ao lado de uma nuvem de fumaça. O Hamas anunciou que 50 dos 224 reféns morreram durante os bombardeios israelenses. A facção divulgou uma lista com os nomes de 6.747 nomes de palestinos que também perderam a vida na guerra, incluindo 2.913 crianças.

Em Haia, onde se reuniu com membros do Tribunal Penal Internacional (TPI), o chanceler palestino, Riyad al-Maliki, denunciou uma "guerra de vingança" e pediu um cessar-fogo no conflito. Ao mesmo tempo, dirigentes dos países da União Europeia (UE) defenderam a criação de "corredores humanitários" e a implementação de "pausas" que permitam o envio de ajuda urgente à população da Faixa de Gaza. 

Motivação

Por telefone, Efraim Inbar — presidente do Instituto para Estratégia e Segurança de Jerusalém (JISS, pela sigla em inglês) — afirmou ao Correio que a incursão ocorrida durante a madrugada de ontem foi um "ensaio para a invasão". "O Exército israelense pretendia comprometer as defesas do Hamas e, possivelmente, preparar um caminho seguro para a ofensiva terrestre", explicou. O especialista prevê uma oposição dura do Hamas a uma invasão massiva de soldados e tanques. "Os combatentes do Hamas estão muito motivados, sob o ponto de vista ideológico. O grupo também utiliza drones para se adiantar aos combates. Será uma batalha muito difícil", acrescentou.

Inbar considera como "secundário" o fato de o Hamas manter 224 pessoas capturadas durante os ataques de 7 de outubro. "Não podemos garantir a segurança dos reféns. Isso é algo secundário no momento. Se soubéssemos onde eles estão, enviaríamos tropas para resgatá-los. Como não sabemos, apenas temos que ir em frente", disse.

Chuck Freilich, ex-assessor adjunto de segurança nacional do governo de Israel e analista do Instituto para Estudos de Segurança Nacional (em Tel Aviv), avalia que a breve incursão em Gaza foi um preparativo para que as IDF comecem a destruir algumas das capacidades militares do Hamas. "Quando a operação completa for iniciada, ela será desenhada para acabar com a organização militar do grupo, não para destruir todos os combatentes, os foguetes ou os túneis. Depois, Israel espera derrubar o corpo de governo do Hamas em Gaza e colocar um sucessor."

Ex-diretor executivo da organização não governamental Human Rights Watch (HRW), Kenneth Roth admitiu à reportagem o temor de que uma ofensiva terrestre a Gaza cause ainda mais mortes entre os 2,3 milhões de moradores. "Teremos que esperar e examinar a invasão, caso realmente ocorra. No entanto, levando-se em conta o elevado número de mortos nos bombardeios de Israel, assim como o comprovado desrespeito do Hamas pela vida de civis, podem caracterizar uma ação por terra."

Ao ser questionado sobre a entrada momentânea de tanques em Gaza, Basem Naim — chefe do Departamento Político do Hamas em Gaza — disse ao Correio que somente leu sobre o assunto na mídia israelense. Ele refutou o anúncio feito por Netanyahu de que "milhares de terroristas do Hamas" teriam sido mortos por Israel desde 7 de outubro. "Essa alegação somente procede se considerarmos que todas as famílias civis visadas são do Hamas, porque apoiam a resistência palestina", observou. 

  • Em outro registro, os tanques avançam dentro do enclave palestino, ao lado da cerca da fronteira
    Em outro registro, os tanques avançam dentro do enclave palestino, ao lado da cerca da fronteira Foto: IDF/AFP
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