Entre 1947 e 1949, Israel travou uma sangrenta batalha contra Líbano, Síria, Iraque, a atual Jordânia e o Egito. Mais de 6 mil israelenses morreram nos combates. Quase oito décadas depois, a operação militar na Faixa de Gaza, contra o grupo extremista palestino Hamas, é considerada pelo premiê Benjamin Netanyahu como uma "segunda guerra da independência". "Nas semanas iniciais da guerra, lançamos massivos bombardeios que desferiram um duro golpe ao inimigo. Nós eliminamos muitos terroristas. No entanto, estamos apenas no começo. A batalha dentro da Faixa de Gaza será difícil e longa; essa é nossa segunda guerra da independência", declarou, ao assegurar: "É a missão da minha vida". Ele avisou que as Forças de Defesa de Israel lutarão no céu e no solo até a vitória.
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"Temos duas metas. Uma é destruir as capacidades operacionais e militares do Hamas; a segunda é trazer de volta os sequestrados", acrescentou, ao reiterar que, para isso, "todas as opções estão sobre a mesa". Ele reiterou o caráter decisivo da incursão terrestre em Gaza. "Nós temos que vencer o Hamas, pois trata-se de nossa existência. Isso afeta toda a civilização ocidental", advertiu Netanyahu, que estava acompanhado do ministro da Defesa, Yoav Gallant, e de Benny Gantz, principal líder da oposição e integrante do "gabinete de guerra".
"Entramos em uma nova fase. Ontem (sexta-feira, 27), a terra tremeu em Gaza. Atacamos na superfície e no subsolo, atacamos os terroristas em todos os níveis, em todos os lugares", comentou Gallant. As tropas israelenses afirmam ter atingido "150 alvos subterrâneos" — o Hamas mantém uma complexa rede de túneis sob o enclave de 362km², onde vivem 2,4 milhões de habitantes. O Ministério da Saúde palestino anunciou que o número de mortos no território chega a 8 mil, metade de crianças. O Hamas propôs a libertação dos 229 reféns em troca de todos os palestinos mantidos em prisões israelenses.
No início da tarde deste sábado (hora local), as IDF emitiram um alerta à população de Gaza. "Atenção, cidadãos de Gaza. Escutem cuidadosamente. Esse é um conselho militar urgente das IDF. Para a sua segurança imediata, nós exortamos a todos os moradores do norte de Gaza e da Cidade de Gaza a temporariamente se realocarem para o sul", disse Daniel Hagari. Horas depois, as IDF lançaram panfletos sobre a Cidade de Gaza advertindo que consideram o local um "campo de batalha". "Os abrigos no norte de Gaza e na Cidade de Gaza não são lugares seguros", indicavam.
"Nós vamos destruir o Hamas", disse ao Correio um soldado israelense cuja mãe foi executada pelos extremistas, em 7 de outubro. "Israel compreende, dia após dia, o desastre cometido pelo Hamas. Como eles sequestraram e massacraram bebês e crianças; estupraram mulheres. Fizeram coisas terríveis, que a mente humana não pode entender a razão. Apenas para humilhar, destruir, estuprar. É inacreditável." Ele preferiu não ter a identidade revelada. Desde a noite de sexta-feira (27), uma força combinada de tanques, engenheiros e infantaria avança no norte de Gaza.
Túneis
Fundadora do Grupo de Trabalho Internacional sobre Guerra Subterrânea e especialista da Universidade Reichman, em Herzliya (Israel), Daphné Richemond-Barak afirmou ao Correio que as IDF precisam destruir a infraestrutura militar de túneis construída pelo Hamas nas últimas duas décadas. "Isso será feito combinando ataques aéreos e incursão terrestre. Estas incursões podem ser em grande ou pequena escala. Em todos os momentos, Israel terá que fazer o que for necessário para alcançar os seus objetivos militares, protegendo ao mesmo tempo os seus soldados dos muitos riscos impostos pela selva urbana e subterrânea de Gaza", explicou.
Para a especialista, os civis do norte da Faixa de Gaza devem abandonar a região. "Se ficarem lá, serão expostos aos efeitos colaterais de todas as ações militares contra a infraestrutura e a liderança do Hamas, assim como à artilharia e aos combates em áreas urbanas", advertiu. Ela pontua que a guerra urbana é uma das mais complicadas que existem. "Isso porque as cidades são, normalmente, arrasadas."
Por sua vez, Efraim Inbar, presidente do Instituto Para Estratégia e Segurança de Jerusalém, entende que a fala de Netanyahu visou o público interno. "Ele se disse comprometido com as metas estabelecidas e com a libertação dos reféns. Desde o começo, o governo israelense tem insistido na necessidade de desmantelar a capacidade militar do Hamas", explicou à reportagem.
Segundo Inbar, a referência à nova guerra da independência alude ao golpe sofrido em 7 de outubro. "O atentado do Hamas, que matou 1,4 mil pessoas, declarou a guerra. Não podemos sobreviver no Oriente Médio sem o poder de dissuasão. Estamos cercados de inimigos que querem destruir o Estado judaico, como o Hamas e o Hezbollah, aliados do Irã. Além de milícias na Síria, rebeldes disparam foguetes do Iêmen."
A angustiante espera pelos reféns
Adva Gutman Tirosh (C), 38 anos, irmã de Tamar Gutman (E), 27, sequestrada durante a rave no kibbutz de Re'im
"Temos medo da operação terrestre em Gaza e estamos preocupados. Sabemos que o governo e o Exército de Israel tentam forçar o Hamas a negociar. Achamos que a ofensiva militar é uma forma de fazer isso. Isso é assustador. Mas esperamos que a nova fase da guerra ajude nas negociações, sem que Tamar e os outros reféns sejam prejudicados. Não culpo o governo pela lentidão na resposta (à crise dos reféns). Eu o culpo pelo ataque de 7 de outubro, pois fomos pegos de surpresa. O Hamas não quer falar conosco e reagirá de acordo com o que os líderes mundiais exigirem. O Hamas é afetado pelo Irã, pelo Catar e pelo Egito. Se o mundo pressionar o Hamas, nós teremos nossos familiares de volta. Mas meu governo não tem a habilidade de fazê-lo sem uma ação militar. O presidente Lula tem muito prestígio nesses países. As últimas três semanas foram muito duras. Nós pensamos no pior e, então, rezamos pelo melhor para ela. Então, nós a imaginamos voltando para casa. É uma montanha russa."
Moshe Emilio Lavi, cunhado de Omri Miran (foto), 46 anos, capturado no kibbutz de Nahal Oz, a 800m da fronteira com Gaza
"Esperamos e acreditamos que o governo isralenese, e todos os atores-chave, mantenham como prioridade máxima a libertação dos reféns. As autoridades têm tomado medidas publicamente e em portas fechadas, a fim de garantir a segurança e o bem-estar dos nossos familiares. As últimas três semanas têm sido difícieis para nossa família, nossa comunidade e toda a nação. É uma experiência dolorosa para todos nós. Fazemos o que podemos para permanecermos fortes, diante da adversidade e da tragédia. Continuaremos a servir como uma voz forte para Omri, meu cunhado, e todos os reféns, até que o Hamas, a Jihad Islâmica Palestina e todos os cúmplices dessas organizações terroristas que atacaram no sábado sagrado e no feriado de Shemini Atzeret/Simchat Torat os libertem. Servimos também como voz para lembrar ao governo israelense e a todos os líderes mundiais que coloquem a questão dos reféns no topo da agenda."
Rápidas
Erdogan denuncia "massacre"
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, acusou o Ocidente de ser "o principal culpado pelos massacres em Gaza". "Os principais culpados dos massacres em Gaza são os ocidentais. Com exceção de algumas consciências que levantaram a voz, estes massacres são inteiramente obra do Ocidente", disse o chefe do Estado turco em um "comício de apoio à Palestina" que reuniu centenas de milhares de pessoas em Istambul. Erdogan também afirmou que Israel é um "peão" do Ocidente."Uma serpente é sempre uma serpente", reagiu Gilad Erdan, embaixador de Israel na ONU, ao afirmar que Netanyahu continua "antissemita". Como retaliação a Erdogan, Israel convocou o seu embaixador em Istambul para consultas.
Medo às portas de Gaza...
"Pense em nossos dias. Se estamos no banho, há uma sirene antiaérea. Se começamos a cozinhar e ela toca, temos que desligar o gás. Se estamos fazendo compras, precisamos correr para o bunker. Quando dirigimos e nos vemos no meio de um ataque de foguetes, não há lugar para irmos", desabafou ao Correio a médica britânica Beverly Jamil, 60 anos, que vive em Ashkelon, a 12km da fronteira com Gaza. "As últimas três semanas têm sido um pesadelo. Bebês, crianças, pais, avós massacrados, estuprados, decapitados, queimados vivos. Em Ashkelon, quase todo o comércio baixou as portas, as escolas fecharam e as pessoas estão sem trabalhar. É quase uma cidade fantasma. O Hamas age exatamente como o Estado Islâmico fez", acrescentou.
...e tensão ao lado do Líbano
Um obus atingiu o quartel-general da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Finul), informou um porta-voz da organização, no segundo incidente desse tipo desde a intensificação do fogo cruzado na fronteira israelense-libanesa. "Um projétil atingiu o interior da base em Naqoura", no sul do país, disse Andrea Tenenti, porta-voz da Finul no Líbano, acrescentando que não houve vítimas. A Finul tenta descobrir quem realizou o disparo. A milícia xiita Hezbollah opera na região e mantém milhares de mísseis apontados para Israel. Tropas israelenses estão de prontidão na Alta Galileia, em meio ao temor da abertura de novo front da guerra.